Economia

'O brasileiro quer viajar', diz diretor-geral da TAP após ver busca por passagens para Portugal triplicar

Em entrevista ao GLOBO, Mario Carvalho, que comanda a aérea portuguesa no Brasil, prevê retomar voos ao patamar pré-pandemia antes do próximo verão europeu
Bonde em ladeira de Lisboa: com reabertura para turistas brasileiros, busca por passagens para Portugal triplicaram Foto: Pixabay
Bonde em ladeira de Lisboa: com reabertura para turistas brasileiros, busca por passagens para Portugal triplicaram Foto: Pixabay

RIO — Após Portugal anunciar nesta quarta-feira a reabertura de suas fronteiras aos turistas brasileiros até o próximo dia 16, sem necessidade de quarentena preventiva ou quadro de imunização completo, a aérea TAP afirmou que vai ampliar o número de voos operados entre os dois países, que aumentarão dos atuais 37 para 52 por semana já no fim de outubro.

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Bastou divulgar o aumento de voos para a TAP registrar, em um único dia, procura três vezes maior de brasileiros por passagens áreas para o país europeu, diz Mario Carvalho, diretor-geral da companhia aérea no Brasil, em entrevista ao GLOBO.

Ele espera que já em meados de 2022, no próximo verão europeu, a companhia possa voltar ao patamar operacional pré-Covid, quando mantinha 84 voos por semana entre Brasil e Portugal.

- O brasileiro quer viajar - afirma.

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A Latam anunciou que ampliará de quatro para seis os voos semanais entre São Paulo e Lisboa em novembro, passando a ser diário em dezembro. Já a Azul aumentará a oferta de acordo com a demanda.

Pela nova regra, todo visitante deve apresentar um teste RT-PCR ou antígeno negativo. Os viajantes com Certificado Digital Covid da União Europeia, emitido só para inscritos no Sistema de Saúde de Portugal, estão isentos dos testes.

Apesar do otimismo na TAP, Carvalho lista desafios como a variante Delta e a falta de confiança do turista europeu em vir para cá.

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Veja os principais trechos da entrevista:

Perspectivas

"Esperamos que essa liberação se estenda e que a situação da Covid-19 nos países não se deteriore para tudo voltar ao normal o mais rápido possível.

Lisboa vista do Miradouro de Santa Luzia Foto: Gian Amato
Lisboa vista do Miradouro de Santa Luzia Foto: Gian Amato

A TAP nunca abandonou o Brasil, a não ser em momentos específicos, como quando os voos foram suspensos em fevereiro e março. Desde abril, temos operado a partir de São Paulo, Rio e capitais como Belo Horizonte, Brasília, Recife, Fortaleza e Salvador.

A partir de agora, vamos retomar todos os pontos do Brasil, com doze aeroportos, começando com Belém, Natal e Maceió. Começamos com essa oferta de 37 voos semanais em setembro.

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Em outubro, sobe para 52 por semana. Já chegamos a operar 84 semanais no Brasil todo. Se a demanda aumentar, podemos colocar mais. Acredito que no próximo verão europeu a situação esteja mais normalizada e possamos ter essa quantidade de voos de antes. O nível de reserva está aumentando semanalmente."

Ocupação dos voos

"Os voos a partir de Rio e São Paulo têm tido ótimo aproveitamento. Ao longo do ano, a ocupação média está em 80%, com voos quase lotados, apesar das restrições.

O brasileiro quer viajar. E a Europa e Portugal, em particular, têm índices de vacinação bastante elevados e a pandemia sob controle internamente.

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Agora, acreditamos que haverá alavancagem geral do turismo, pois haverá mais facilidade, por não ter mais quarentena obrigatória ao chegar em Portugal."

Preços

"Os preços caíram muito, sobretudo, na classe executiva. Hoje, você consegue passagem em torno de US$ 1.200. Antes da pandemia começava em US$ 3 mil. É uma diferença considerável. Na econômica, em alguns casos houve queda, a depender do dia e da rota. Há preços em torno de US$ 400.

Turistas descansam à beira do Rio Douro, no Porto Foto: Violeta Santos Moura/Reuters
Turistas descansam à beira do Rio Douro, no Porto Foto: Violeta Santos Moura/Reuters

Quando a demanda pressiona muito, os preços sobem. Temos um tripé de iniciativas, com teste gratuito de Covid-19 para quem comprar passagem até o fim de outubro, além de remarcação gratuita, até três dias antes da viagem, para até um ano depois da data inicial, pois as pessoas estavam receosas de viajar. Parcelamos a passagem em doze vezes sem juros."

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Turistas estrangeiros

"A demanda nos voos para o Nordeste tem sido pequena, pois são destinos procurados por europeus. Acredito que agora há um trabalho intenso a fazer, de convencer o turista europeu a vir ao Brasil.

Esse é o desafio, porque o Brasil tem uma imagem não muito boa lá fora, e o turista europeu não tem tido vontade de vir.

A gente vai precisar reverter isso. Estamos em contato permanente com os órgãos de turismo onde operamos no Nordeste, e todos têm demonstrado muito interesse em unir esforços para divulgar o Brasil lá fora até pelo nível de vacinação que alcançamos. Isso dá mais confiança ao passageiro.

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As pessoas querem viajar para lugares seguros e índice de vacinação alto ajuda a tirar dúvidas da cabeça delas.

O Nordeste depende muito do movimento europeu. Apesar de estar bem no turismo interno, o europeu gastava mais e complementava a renda na região."

Brasil

"Antes da pandemia, o Brasil representava quase 30% do movimento da TAP. O país é muito importante para a empresa.

E agora, o que esperar? Vacinação e commodities ajudam, mas crise hídrica e inflação são risco para a economia

Com a Covid-19, isso não se verificou, porque os europeus continuaram viajando internamente, e complicou a possibilidade de viajar para o Brasil.

Mas pretendemos voltar com esse posicionamento. Mesmo assim, o Brasil continua sendo o principal mercado da TAP fora da Europa."

Variante Delta

"É preocupante, sem dúvida. A gente só torce para que seja efetivamente dominada e não tenha um impacto tão grande.

A variante Delta pode fazer a situação sair de controle, mas torcemos que não. Acho que, no Brasil, tirando o Rio de Janeiro, a variante Delta ainda está bastante controlada

Junto com esse anúncio da abertura de Portugal para o Brasil, também houve a abertura para os Estados Unidos, outro mercado importante da TAP."

* Estagiária sob supervisão de Danielle Nogueira