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Economia

Após oito anos, Petrobras voltará a contratar plataformas próprias, o que deve impulsionar indústria nacional

Unidades ficarão no campo gigante de Búzios, no pré-sal. Duas serão construídas para a estatal, ao custo estimado de US$ 2 bilhões cada
A plataforma P-51 da Petrobras Foto: Rich Press / Bloomberg via Getty Images
A plataforma P-51 da Petrobras Foto: Rich Press / Bloomberg via Getty Images

RIO - Após um período de oito anos sem encomendar plataformas para a produção de petróleo, a Petrobras decidiu voltar às compras. A diretoria da companhia aprovou na última quinta-feira o início dos processos de contratação de três novas unidades para serem usadas no Campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos. Duas plataformas serão próprias e a terceira será alugada.

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Segundo executivos do setor, o custo das unidades que serão construídas é estimado em US$ 2 bilhões cada. Esse valor não considera alguns equipamentos, como os que ligam a plataforma aos poços no fundo do mar, e serviços que também terão quer ser contratados pela estatal.

A indústria naval brasileira não tem esperanças de conseguir competir com os estaleiros da China e do Japão e levar os contratos de construção, mas espera abocanhar parte das encomendas de equipamentos e serviços.

— É alvissareiro saber que a Petrobras vai construir ativos próprios. A gente achava que deveria ser construída no Brasil, mas tem equipamentos que poderão ser feitos aqui. Enfim, tudo o que vier é lucro, pois a gente está tão sem nada, o que vier será um alívio — afirmou Sérgio Bacci, vice-presidente do Sinaval, entidade dos estaleiros do país.

As três novas plataformas serão do tipo FPSO (navio-plataforma). As duas que serão construídas para a estatal terão capacidade de produção de 180 mil barris e já foram até batizadas: P-78 e P-79. A previsão é que elas entrem em operação em 2025. As contratações devem estar concluídas no ano que vem.

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Búzios é, atualmente, o maior campo de petróleo em águas profundas do mundo. Quatro unidades operam no local. Elas respondem por mais de 20% da produção total da Petrobras e mais de 30% do que é retirado dos campos do pré-sal no país.

Maior controle

A Petrobras explicou que a escolha entre ter plataformas próprias e alugar uma terceira “é uma decisão econômica, que analisa aspectos técnicos, financeiros, de mercado e de performance operacional”. Essas novas plataformas próprias, segundo a estatal, vão incorporar diversas melhorias e experiências acumuladas pela Petrobras nos últimos dez anos no pré-sal.

Para o professor do Instituto de Economia da UFRJ Helder Queiroz, a decisão da Petrobras foi acertada. Segundo ele, a pandemia do novo coronavírus vai provocar mudanças globais da indústria. Ter maior controle de sua produção é um dos elementos que passarão a ser bastante valorizados a partir de agora.

— Uma empresa ter mais controle dos processos de produção a coloca a numa posição de maior confiabilidade em relação às entregas de seu produto, assim como maior controle na sua produção — destacou Helder Queiroz, que também foi diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

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Décio Oddone, que deixou o cargo de diretor-geral da ANP em março, considerou uma boa notícia para o setor a contratação das plataformas. Segundo ele, o negócio reflete, em parte, o resultado dos leilões realizados pelo governo desde 2017.

— Significa aumento de produção e de arrecadação no futuro. No curto prazo representa oportunidade para que a indústria local capture parte das encomendas e gere empregos qualificados aqui — destacou Oddone.