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Economia

Após PIB fraco, Bolsonaro e Guedes vão à Fiesp em busca de sugestões do empresariado

Encontro na sede da Federação das Indústrias de São Paulo durou quase cinco horas e deve se repetir em três meses
Empresários reunidos com o presidente Jair Bolsonaro na Fiesp, em São Paulo Foto: Divulgação/Fiesp / Divulgação/Fiesp
Empresários reunidos com o presidente Jair Bolsonaro na Fiesp, em São Paulo Foto: Divulgação/Fiesp / Divulgação/Fiesp

SÃO PAULO – Um dia após o anúncio do desempenho da economia brasileira em 2019 , que cresceu apenas 1,1%, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes , se encontraram boa parte da elite do empresariado brasileiro num almoço realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) , na Avenida Paulista, zona oeste da capital paulista.

Num encontro de quase cinco horas, 34 executivos de negócios de grande porte em indústrias como manufatura, serviços e até mesmo do mercado financeiro discorreram sobre o que vai mal no país e em suas áreas de atuação. Outros ministros, como Ricardo Salles, do Meio Ambiente, também participaram do evento.

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Numa reunião sem pauta definida, sugestões à reforma tributária, ao combate do surto de coronavírus e para flexibilizar o licenciamento ambiental foram algumas das ideias levantadas no encontro. Bolsonaro falou por três minutos, na abertura do encontro organizado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Em seguida, anotou boa parte do que ouviu do empresariado. No almoço, foi servido medalhão de filé com batata e robalo com cuscuz.

Ao lado de Bolsonaro, uma comitiva presidencial de autoridades incluindo o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o do Meio Ambiente, Ricardo Salles, responderam, aqui e ali, a algumas sugestões. Paulo Guedes agradeceu a presença de empresários de segmentos tão distintos como metalurgia, construção civil, varejo, frigorífico, transporte, aviação, além de banqueiros.

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Todos os empresários falaram. Por isso, o encontro, que começou às 10h, se estendeu até as 14h30. Bolsonaro fez questão de estender o tempo de permanência para que todos falassem. O tema mais recorrente nas intervenções foi a reforma tributária.

Ao fim da reunião, Bolsonaro comprometeu-se a retomar a conversa com os mesmos empresários em três meses, ali mesmo na Fiesp.

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Confiança

Presente ao evento, o presidente do conselho do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse que o encontro serviu para abrir um canal de diálogo permanente com os empresários.

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Para Trabuco, tanto o presidente quanto o ministro Guedes mostraram que existe compromisso de entregar este ano a reforma tributária, mesmo sentimento que os empresários sentem em relação ao Congresso.

— Existe um compromisso efetivo de entregar uma reforma tributária que simplifique o sistema, tanto do governo quanto do Congresso — disse Trabuco.

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O executivo do Bradesco afirmou que houve muita predisposição do governo em ouvir as colocações dos empresários. Trabuco afirmou que a confiança dos empresários no governo se sedimentou no primeiro ano de governo, mas ela está ancorada na continuidade das reformas.

— Fiz um paralelo de dois momentos. O governo está entrando no segundo ano. Se avaliarmos 12 meses atrás havia um nível de esperança muito alto, que foi sendo sedimentado pela reforma trabalhista, da Previdência, através de medidas de flexibilização monetária, com queda de juros, acompanhadas de medidas fiscais. Em 2020, a esperança se transformou em confiança, que está retratada em indicadores, como a melhora do risco-país — afirmou Trabuco.

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— Mas a manutenção dessa confiança precisa estar ancorada na reforma tributária, administrativa, numa aceleração do movimento de privatizações. Essas são as âncoras de 2020, para que o Brasil atravesse o ano, melhore sua nota de rating, com equilíbrio fiscal e menor risco da dívida pública, e volte ao grau de investimento. Se não em 2020, em 2021 — completou o presidente do Conselho de Administração do Bradesco.

Presente ao almoço, Elie Horn, fundador da construtora Cyrela, foi um dos convidados com mais sugestões ao presidente Bolsonaro. Cinco anos após prometer doar à filantropia 60% de sua fortuna, estimada em US$ 1 bilhão, Horn discorreu sobre o assunto ao presidente Bolsonaro.

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Em 2016, o fundador da Cyrela fundou o Instituto Liberta, ONG de combate à exploração infantil. Desde então, tem também investido em ONGs com trabalhos assistenciais na superação da pobreza. Para Horn, a conversa com Bolsonaro "não poderia ter sido melhor".

– O presidente prometeu manter um canal aberto de diálogo com o empresariado. Irei com satisfação se for convidado novamente – disse.

Otimismo sem euforia

Outro empresário presente ao encontro disse que o clima entre os empresários ainda é de otimismo com o governo, mas "sem euforia". Entre os pedidos e colocações feitas pelos presentes, o tema principal foi a aceleração da reforma tributária , considerada essencial para dar mais competitividade ao país.

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Para boa parte dos presentes, está claro que a reforma não deve reduzir impostos. A ideia é simplificar o pagamento de tributos, combater a sonegação, em particular no comércio eletrônico, e evitar os inúmeros processos judiciais envolvendo questões tributárias.

Segundo relatos do empresariado, Guedes disse quer uma reforma aprovada neste ano, mas não “qualquer reforma”. Por outro lado, ponderou a necessidade de o governo aprovar “o que for possível”.

PIB

Sobre o resultado do PIB, Guedes explicou aos convidados que quando se compara o crescimento do quarto trimestre de 2019 com o mesmo período de 2018 , o Brasil está crescendo 1,7%, um ritmo mais acelerado do que mostrou o PIB fechado de 1,1% divulgado na quarta-feira, mas que ficou dentro do que o governo esperava.

Alguns empresários cobraram que o governo comunique melhor à população sobre as coisas positivas do país, como a expansão do investimento privado, a redução de gastos públicos, a queda dos juros e as mudanças feitas no sistema previdenciário.

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Na visão de um deles, foi “um encontro republicano” porque todos falaram e o presidente escutou. Não foi “uma reunião chapa-branca, com elogios ao governo”. O assunto reeleição em 2022, por exemplo, esteve fora da pauta.

Entre os convidados para o encontro estavam os presidentes da Embratur, Gilson Machado; da Latam, Jerome Cadier; da Embraer, Francisco Gomes Neto e da Boeing Brasil-Commercial, Marc Allen, estavam presentes.