Economia

Arezzo compra Reserva e estreia no setor de vestuário

Marca carioca foi avaliada em R$ 715 milhões na operação
Fachada da Arezzo no Centro do Rio Foto: Carolina Oliveira Castro / Agência O Globo
Fachada da Arezzo no Centro do Rio Foto: Carolina Oliveira Castro / Agência O Globo

RIO e SÃO PAULO — A dona da Arezzo anunciou nesta  sexta-feira a compra da marca carioca Reserva. Na operação, que abre caminho para a empresa de calçados investir no setor vestuário, a Reserva foi avaliada em R$ 715 milhões. Para analistas, o negócio amplia o potencial de crescimento da Arezzo e pode representar uma onda de aquisições no segmento.

O negócio foi aprovado pelo Conselho de Administração da Arezzo&Co na noite de quinta-feira. Será criado um braço exclusivo de vestuário e lifestyle do grupo, a AR&Co. A Reserva ficará sob esse guarda-chuva.

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A transação, que ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), prevê o pagamento pela Arezzo de R$ 225 milhões em dinheiro aos atuais acionistas da Reserva, além da transferência de ações.

Do montante a ser desembolsado, R$ 175 milhões serão pagos pela Arezzo após a aprovação do negócio pelo Cade. A previsão é de que esse pagamento ocorra em dezembro, segundo a empresa. Um ano depois, a companhia fará um segundo depósito aos atuais donos da Reserva, de R$ 50 milhões

O sócio fundador da Reserva, Rony Meisler, e os executivos e sócios minoritários da empresa, Fernando Sigal, Jayme Nigri e José Alberto da Silva, seguirão na operação das marcas de vestuário.

Shopping Center Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Shopping Center Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

A transação vai resultar numa dança das cadeiras entre os acionistas da companhia de bolsas e calçados. Os atuais acionistas da Reserva ficarão com 8,7% da Arezzo&Co.

A Reserva atua na moda masculina, feminina e infantil, incluindo roupas e acessórios. Além da grife homônima e da Reserva Mini, de moda infantil, a grife adquirida pela Arezzo detém ainda as marcas INK, EVA, Reserva Go e Oficina Reserva.

A decisão da Arezzo de estrear no setor de vestuário acontece num momento em que o varejo de roupas, especialmente de moda feminina, está agitado. O grupo Soma, que controla das marcas Animale e Farm, acaba de abrir capital na Bolsa.

— A gente é líder de mercado de calçados femininos e bolsas. com tínhamos 30% de participação de mercado na fatia do público das classes A e B. Durante a pandemia, isso aumentou. Agora, a ideia é ser uma house of bramds como algumas companhias internacionais. Ampliaremos o mercado e o público, com ganho potencial de receita — diz a executiva.

Para Pedro Serra, da Ativa Investimentos, a aquisição vem em bom momento para a Arezzo e cria um potencial de crescimento para a empresa.

— A Arezzo já era madura no segmento de calçados e bolsas. A empresa fazer uma aquisição não é surpresa, mas ter feito uma incursão no setor de vestuário é, porque é um ramo com logística diferente. Foi a compra das marcas e da expertise de operar com roupas — diz.

Segundo ele, a aquisição é boa porque a Reserva está em ascensão e tem espaço para consolidar sua presença em mercados atrativos.

— Em roupa, a Reserva é uma empresa relevante, mas ainda pequena. Do outro lado, a Arezzo sabe operar bem em franquias e tem uma rede capilar. É possível alavancar a marca Reserva pelo Brasil com essa expertise.

Serra acredita que, como a pandemia pressionou as margens do segmento de moda, também barateou empresas e marcas que podem fomentar uma onda de consolidações no mercado. A Arezzo, segundo ele, tem capital e expertise para se consolidar como uma empresa relevante no ramo de vestuário.

— Empresas com acesso a capital, como a Arezzo, podem comprar concorrentes com as suas próprias ações, e tem uma vantagem nessa hora. A pandemia tem sido um momento difícil para o setor, mas quem está bem posicionado pode comprar ativos baratos. Há marcas boas que tem um apelo grande junto ao consumidor e público fiel, em empresas de porte médio. Marcas boas em mercado pulverizado são um prato cheio para a consolidação — afirma Serra.

Segundo André Pimentel, sócio da Performa Partners, o negócio é uma boa oportinidade para a Arezzo, e o valor a ser pago pela Reserva faz sentido.

— A Arezzo é grande, mas ainda operava em um nicho muito específico, o movimento de diversificar o portfólio de marcas e de subsegmentos é bom, e é mais barato comprar uma boa empresa do setor do que desenvolver linhas próprias, o que tomaria tempo. O preço pago não é caro para uma empresa que tem o potencial da Reserva — afirma Pimentel.

Para o Fernando Gambôa, sócio-líder da área de consumo e varejo da KPMG, as empresas do ramo não buscam agora ganho de mercado ou de escala. As aquisições agora, segundo ele, serão mais estratégicas e em áreas de negócio complementares.

— A busca agora não é por ganho de eficiência ou de participação de mercado, que é pulverizado. As empresas têm buscado comprar marcas ou divisões em áreas que não operam ou nas quais querem crescer. Há mais seletividade do que em ondas anteriores de consolidação — diz o analista.

Em vez de incorporações do negócio todo, a tendência atual nesse mercado é de compras mais estratégicas.

— Há empresas em dificuldades que podem se desfazer de parte de seu portfólio menos rentável. Essas marcas podem ser vendidas, e há gente capitalizada no setor, além de fundos estrangeiros, que olham para esses ativos — ressalta Gambôa.