Economia

Banco Central elevou hoje os juros para 6,25%, mas o seu crédito já está mais caro. Saiba por quê

Copom deve elevar a Selic em 1 ponto percentual. Taxa mais alta ajuda a combater inflação fora da meta, mas atrapalha recuperação da economia
Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, nesta quarta-feira. Foto: Aloisio Maurício / Agência O Globo
Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, nesta quarta-feira. Foto: Aloisio Maurício / Agência O Globo

RIO — O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), anunciou nesta quarta-feira um aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic.

Com isso, a taxa sobe de 5,25% para 6,25% após ter iniciado o ano na mínima histórica de 2%.

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Juros mais altos tendem a encarecer os empréstimos, mas seja qual for a decisão do Copom hoje, o seu crédito já ficou mais caro em algumas modalidades. E essa tendência só deve se reforçar até o fim do ano. Para complicar, o governo aumentou o IOF, imposto que incide sobre operações financeiras.

O motivo principal da alta dos juros é a obrigação do BC de combater a inflação alta, que está distante da meta. Mas, para a professora de economia do Inspe Juliana Inhasz, o aperto da política monetária deve dificultar ainda mais a já frágil retomada econômica.

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O crédito mais caro tende a diminuir o consumo da população, o que ajuda na queda da inflação, mas também represa investimentos do setor produtivo, o que dificulta a geração de novos empregos.

— Quando a gente aumenta a taxa de juros, naturalmente, fica mais caro para as pessoas pegarem empréstimo e para as empresas investirem. O setor produtivo tende a apostar menos na economia. Ele fica mais reticente em investir e aumentar a produção.

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Veja exemplos de como o crédito mais caro já afeta o seu bolso:

1- Financiamento da casa própria

Os empréstimos imobiliários costumam ser as linhas de crédito afetadas mais rapidamente pela alta da Selic. O setor de imóveis e construção civil teve forte crescimento no ano passado ajudado pelos juros baixos.

Recentemente, os bancos privados começaram a elevar suas taxas para financiar a casa própria em meio às mais recentes altas da Selic. Já a Caixa Econômica foi na contramão do movimento e anunciou uma redução de juros do crédito imobiliário.

— A construção civil geralmente é um setor que sofre bastante nessas situações por causa dos financiamentos, que ficam mais caros. Esses setores que a gente chama de economia real devem sofrer bastante — destaca a professora do Insper.

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Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Acebip), a tendência para o setor ainda é positiva.

Vale destacar que apesar da alta, os juros continuam baixos em relação a patamares passados, que superavam os dois dígitos.

Os financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) atingiram R$ 18,79 bilhões em julho de 2021, de acordo com a Acebip.

O montante foi 4,4% inferior ao registrado em junho, mas, comparado a julho do ano passado (R$ 10,82 bilhões), cresceu 73,6%.

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2 - Imposto sobre operações financeiras

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro editou um decreto que aumenta a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) . A decisão já vale desde a segunda-feira.

O objetivo do governo é elevar a arrecadação em R$ 2,14 bilhões para custear o Auxílio Brasil, nome dado para a reformulação do Bolsa Família com um valor maior do benefício.

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A alteração será temporária, mas o governo não informou qual será o aumento da alíquota.

A alíquota diária para as pessoas jurídicas passa de 0,0041% (referente à alíquota anual de 1,50%) para 0,00559% (referente à alíquota anual de 2,04%).

Já para as pessoas físicas, a alíquota diária de 0,0082% (referente à alíquota anual de 3,0%) foi elevada para 0,01118% (referente à alíquota anual de 4,08%).

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O IOF é um imposto cobrado pelo governo em alguns tipos de transações financeiras, como financiamentos bancários, compras feitas por brasileiros com o cartão de crédito internacional no exterior, presencialmente ou on-line.

Outras situações onde a cobrança é feita incluem o cheque especial, compra e venda de moeda estrangeira e em resgate de algumas operações financeiras, bem como na contratação de seguros.

O imposto chegou a ter sua alíquota zerada para facilitar o acesso ao crédito em meio à crise econômica gerada pela pandemia. Mas no final do ano, o valor foi restabelecido.

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3 – Juros futuros

O aumento dos custos de financiamento dificulta a tomada de crédito pelas empresas. Isso em um contexto no qual as companhias ainda tentam se recuperar dos efeitos da pandemia.

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A alta da Selic e a perspectiva de novas elevações também influenciam no mercado de juros futuros, levando a um aumento dessas taxas e prejudicando os papéis das empresas listadas em Bolsa.

Nesta terça, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para 2025 fechou em 9,90% e a do DI para janeiro de 2027 terminou na casa dos 10,30%.

— Juro maior nunca é bom para bolsa. O custo de capital das empresas se eleva e isso afeta o valuation (avaliação) para pior, jogando para baixo as cotações — destaca o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo.

O aumento das taxas longas afeta as empresas, pois eleva o custo de capital futuro e o endividamento das companhias. E, portanto, diminui os lucros.

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Essas taxas também  servem como um termômetro do humor dos investidores. Quando estão mais altas, isso significa que os agentes estão cobrando um preço maior para permanecerem com os ativos.

E isso ocorre em um ambiente de renda fixa mais atrativa justamente pela elevação das taxas básicas, ainda que a inflação continue alta e reduza o ganho real que o investidor possa ter.