Economia Mercado financeiro

Barril de petróleo atinge valor mais alto em 14 anos. Bolsas na Europa e EUA caem

Contratos do Brent e do WTI fecham em forte alta, aumentando as preocupações sobre estagflação
Funcionário em um poço de gás no campo de petróleo, gás e condensado da Gazprom, na Rússia Foto: Andrey Rudakov / Bloomberg
Funcionário em um poço de gás no campo de petróleo, gás e condensado da Gazprom, na Rússia Foto: Andrey Rudakov / Bloomberg

LONDRES E SIDNEY — Os preços do petróleo atingiram seu nível mais alto desde 2014, enquanto as bolsas na Europa e nos Estados Unidos fecharam com quedas diante do temor de uma escalada nas sanções ocidentais à Rússia pela invasão da Ucrânia .

No Brasil, a Bolsa fechou em forte baixa , puxada pela queda das ações da Petrobras,

Após bater na cotação de US$ 139 na madrugada, maior cotação desde o recorde de US$ 147,50 de julho de 2008, o preço do petróleo Brent perdeu força, mas ainda terminou o dia em forte alta,

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O contrato para maio do petróleo tipo Brent subiu 4,3%, negociado a US$ 123,21, o barril.

Já o contrato para abril do tipo WTI avançou 3,2%, cotado a US$ 119,40, o barril.

Durante a sessão, ambos os benchmarks atingiram o nível mais alto desde julho de 2008, com o Brent atingindo US$ 139,13 por barril e o WTI, US$ 130,50 por barril.

Os preços globais do petróleo aumentaram cerca de 60% desde o início de 2022, levantando preocupações sobre o crescimento econômico global e a estagflação.

— Consideramos US$ 125 por barril, nossa previsão de curto prazo para o petróleo Brent, como um teto suave para os preços, embora os preços possam subir ainda mais se as interrupções piorarem ou continuarem por um período mais longo  — disse o analista de commodities do UBS, Giovanni Staunovo.

Bloqueio ao petróleo russo na mesa

Os Estados Unidos informaram no domingo que estão negociando com a Europa um bloqueio ao petróleo russo . A compra de petroleo e gás da Rússia não foi alvo das sanções iniciais justamente pelas consequências que tal medida teria nos preços internacionais.

A Rússia responde por cerca de 8% do fornecimento mundial de petróleo.

Nesta segunda, alguns  governos da União Europeia se mostraram divididos sobre a proposta. Os ministros europeus estão discutindo a ampliação das sanções para incluir restrições às importações de petróleo e produtos derivados. Mas as divisões já começaram a aparecer, incluindo aí a Alemanha, com alguns países contrários à adoção de uma medida tão brusca.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, descartou, por ora, as restrições, afirmando que as importações russas eram de 'fundamental importância" para a economia europeia.

— Atualmente, o fornecimento de energia da Europa para calefação, transporte, eletricidade e a indústria não podem ser asseguradas de outra maneira — disse Scholz em Berlim acrescentando que não se pode mudar o forcecimento russo "da noite para o dia".

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A UE importa da Rússia cerca de 40% do gás que consome.

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, adotou a mesma postura durante uma visita a Londres, reconhecendo " que a dolorosa realidade é que ainda somos muito dependentes do gás e do petróleo russo".

O permier britânico, Boris Johnson, acrescentou, por sua vez, que "temos que agir passo a passo. "Devemos assegurar que vamos dispor de um fornecimento substituto".

Um relatório do Goldman Sachs afirma que sanção dos EUA sobre o petróleo russo teria um impacto mínimo, já que o país importa cerca de 400 mil barris diários da Rússia atualmente. Já a dependência da Europa das importações chega a 4,3 milhões de barris diários, sendo que 800 mil chegam à região via dutos.

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Na Europa,  os preços de referência do gás saltaram 79%, para 345 euros por megawatt-hora.  A Rússia é responsável por 40% das importações de gás europeu.

No caso do petróleo, contratos de curto prazo de opções de compra, que não são os mais negociados e por isso não são a principal referência, já apontam para o barril do tipo brent cotado a até US$ 200 antes do fim de março.

O euro ampliou sua queda, atingindo a paridade em relação ao franco suíço, e commodities de todos os tipos estavam em alta.

Bolsas caem nos EUA e na Europa

As bolsas americanas fecharam com quedas. O índice Dow Jones cedeu 2,37% e o S&P, 2,95%. Em Nasdaq, ocorreu baixa de 3,62%.

Na Europa, as bolsas fecharam em baixa. Em Londres, o índice FTSE-100 cedeu 0,40%.  Em Frankfurt, ocorreu queda de 1,98% e, em Paris, de 1,31%.

As Bolsas asiáticas encerram a segunda-feira com perdas expressivas devido às consequências do conflito na Ucrânia. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio,  fechou em baixa de 2,94%, e registrou o menor nível desde novembro de 2020, enquanto Xangai perdeu 2,17% e Hong Kong teve um resultado ainda pior, com queda de 3,93%.

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Bloqueio ao petróleo russo

Enquanto traders, transportadores, seguradoras e bancos estão cada vez mais cautelosos em assumir ou financiar compras de barris russos, um embargo formal aumentaria a incerteza.

— Se o Ocidente cortar a maior parte das exportações de energia da Rússia, seria um grande choque para os mercados globais— disse o economista-chefe do BofA, Ethan Harris.

Ele estima que a retirada dos 5 milhões de barris da Rússia no fornecimento global pode fazer os preços do petróleo dobrarem para US$ 200 o barril e reduzir o crescimento econômico mundial.

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— O aumento dos preços do petróleo e das commodities provavelmente vai obrigar as economias europeias a racionar o consumo e isto vai pesar na recuperação econômica e nos lucros das empresas em 2022 — prevê Ipek Ozkardeskaya, analista do banco Swissquote.

Commodoties em alta

E não é apenas o petróleo, com os preços das commodities tendo seu início de ano mais forte em qualquer ano desde 1915, diz o BofA. Entre as muitas movimentações na semana passada, o níquel subiu 19%, o alumínio 15%, o zinco 12% e o cobre 8%, enquanto os futuros do trigo subiram 60% e o milho 15%.

Isso só aumentará o pulso inflacionário global, com os dados de preços ao consumidor dos EUA nesta semana que devem mostrar um crescimento anual em de 7,9%.