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Economia Petrobras

'Barril de petróleo vai ultrapassar US$ 100. E a tendência é de alta', diz consultor

Especialista diz que manter alinhamento de preços com o mercado internacional é essencial para permitir concorrência
Consultor Gustavo Oliveira de Sá e Benevides, fundador da GSB Consulting, defende o alinhamento de preços dos combustíveis no mercado doméstico em relação ao internacional. Foto: Divulgação
Consultor Gustavo Oliveira de Sá e Benevides, fundador da GSB Consulting, defende o alinhamento de preços dos combustíveis no mercado doméstico em relação ao internacional. Foto: Divulgação

RIO — O consultor Gustavo Oliveira de Sá e Benevides, fundador da GSB Consulting, diz que manter o alinhamento de preços dos combustíveis no mercado doméstico em relação ao internacional é essencial para permitir maior concorrência no setor de combustíveis.

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Só assim, avalia, a gasolina e o diesel ficarão mais baratos a médio e longo prazos, como reflexo da maior concorrência. Ele mostra preocupação ainda com os monopólios privados que estão sendo criados com a venda de ativos da Petrobras.

Qual é a sua previsão para o preço do petróleo?

O barril ultrapassou os US$ 80. As economias estão se recuperando, a China aquecendo e a demanda por petróleo está aumentando. A Opep (cartel que reúne os maiores produtores do mundo) tem ainda uma parcela de responsabilidade nisso, pois está segurando a produção. O preço do barril vai ultrapassar os US$ 100. A tendência é de alta.

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No Brasil, os preços aumentaram também mais de 70% nas refinarias neste ano, mas os importadores dizem que a alta não é suficiente...

A Petrobras diz que segue a paridade internacional, mas na prática segue um preço menor que o valor internaiconal. Hoje, o preço do diesel no Brasil está R$ 0,19 menor que no exterior e R$ 0,13 a menos na gasolina. Você pode pensar que em um primeiro momento isso é bom porque ela está subsidiando os preços, mas a longo prazo isso é uma catástrofe, pois inviabiliza a concorrência.

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É a concorrência que faz o setor se desenvolver. Ninguém se sente estimulado a investir em áreas como a de refino.

Mas isso poderia gerar mais concorrência como?

A Petrobas deveria seguir de fato a paridade. Com isso, haveria uma pressão de preços para baixo, pois mais empresas do exterior iriam investir aqui.

E com mais dólares circulando no país iria reduzir o preço do câmbio. Grande parte da pressão no câmbio é reflexo da falta de confiança. E o investidor estrangeiro vendo que a estatal segue de fato a paridade iria aportar mais recursos aqui.

A Petrobras vem vendendo ativos como a BR Distribuidora (Vibra). Isso não ajuda na concorrência de certa forma?

Tem que lembrar que a gasolina e o diesel têm uma parcela de etanol em sua composição. No último ano, houve uma consolidação dos players no etanol, com a criação de um duopólio. Primeiro, a Raízen comprou a Biosev. Os dois maiores produtores se juntaram. Agora, a Vibra (ex-BR distribuidora) fez uma joint venture com a Copersucar.

E basicamente essas empresas vão controlar o Sudeste, que é onde está o maior consumo. Você está saindo de um monopólio estatal para um monopólio privado. E a competição fica mais baixa e a tendência de preços é de subir. Esse segmento deveria ter mais concorrência.

A estatal vendeu ativos em gás e o preço não caiu. O que falta?

Falta uma maior atenção das agências regulatórias e órgãos reguladores em cima dessas vendas para analisar quem está comprando. Não adianta vender um ativo para grupo que basicamente também domina o mercado em outras áreas. O Cade tem um papel importante nisso para evitar a construção de outros monopólios.

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Uma emmpresa do setor pode não atuar em refino, mas tem peso importante em etanol, em distribuição e gás. Ou seja, tem um certo controle no setor. A venda das refinarias vai criar monopólios regionais. Elas foram criadas como polos de abastecimento nacional. Elas não foram pensadas para gerar concorrência.