Economia

BC dos EUA faz corte emergencial de juros, para conter impacto do coronavírus

É a 1ª vez desde a crise de 2008 que o Fed reduz taxa em reunião extraordinária. Banda, agora, está entre 1% e 1,25%
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA Foto: Erin Scott / Reuters
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA Foto: Erin Scott / Reuters

NOVA YORK — O Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) cortou os juros em 0,5 ponto percentual, com objetivo de atenuar os impactos econômicos do novo coronavírus. Os juros americanos seguem uma banda. Com o corte, a taxa passou a ficar no intervalo entre 1% e 1,25%. A decisão, tomada em reunião extraordinária, foi unânime.

Foi o primeiro corte emergencial e anunciado fora do calendário de encontros regulares do Comitê Federal de Mercado Aberto desde 2008, quando estourou a crise global, segundo o site da CNN. A reunião do Fed estava prevista para 18 de março.

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Após o anúncio, as Bolsas americanas se comportavam como uma espécie de gangorra. Os investidores estavam confusos sobre o real efeito da redução da taxa, se o corte de fato será suficiente para que os EUA não interrompam seu mais longo ciclo de expansão econômica.

No Brasil, o mercado reagiu de forma instável e o dólar fechou a R$ 4,51, novo recorde para fechamento .

"O coronavírus apresenta riscos crescentes para a atividade econômica", afirmou o Fed, em comunicado. "À luz desses riscos e em apoio ao cumprimento das metas de emprego e estabilidade de preços, o Comitê Federal de Mercado Aberto decidiu hoje reduzir o intervalo de metas para a taxa de fundos federais em 0,5 ponto percentual".

A autoridade monetária dos EUA também disse que está "monitorando de perto" o avanço e as implicações do Covid-19 (doença causada pelo vírus) para as perspectivas econômicas e que "usará suas ferramentas e atuará conforme apropriado para apoiar a economia".

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O Fed disse ainda que "os fundamentos da economia dos EUA continuam fortes".

Em entrevista coletiva logo após o anúncio, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o coronavírus exige a adoção de políticas "multifacetadas", quando perguntado se um corte de juros seria eficaz para aquecer a economia diante de uma queda de atividade provocada por interrupção na produção das fábricas, e não devido a um freio na demanda dos consumidores.

—  As autoridades fiscais, se considerarem apropriado, adotarão medidas também. Mas é preciso uma resposta de política monetária, e foi o que fizemos. Um corte de juros não é a resposta completa, mas ajuda a melhorar as condições financeiras da economia e impulsionar a confiança —  disse Powell.

. Foto: Editoria de Arte
. Foto: Editoria de Arte

O presidente do Fed disse ainda que é necessária uma reação coordenada de governos, profissionais de saúde, BCs e outros para lidar com os prejuízos humanos e econômicos:

— Reconhecemos que um corte de juros não vai reduzir a taxa de contágio, nem consertar uma cadeia de fornecimento interrompida.

Ainda assim, há quem questione a eficácia dos instrumentos que os BCs globais têm à mão para enfrentar a desaceleração causada pelo coronavírus.

— O Fed tem muito pouca munição, e a munição que tem não é adequada para a tarefa de administrar um choque de oferta potencialmente grande — disse à Bloomberg Jonathan Wright, professor da Universidade Johns Hopkins e ex-economista do Fed.

A ação do BC americano aconteceu poucas horas após reunião dos ministros da Finanças dos países membros do G-7 (bloco das nações mais industrializadas do mundo).

Havia expectativa de que o G-7 anunciasse uma ação coordenada entre os BCs para estimular a economia global, mas a teleconferência terminou sem o anúncio de qualquer medida concreta.

No comunicado do bloco, os ministros afirmaram que "usariam todas as ferramentas políticas apropriadas para alcançar um crescimento forte e sustentável e salvaguardar os riscos negativos".

Rodada de cortes

Mais cedo, A ustrália e Malásia também cortaram suas taxas de juros. Na Austráia, o corte foi de 0,25 ponto percentual, levando a taxa à mínima histórica de 0,5% ao ano. Na Malásia, o corte foi igualmente de 0,25 ponto percentual. Com isso, os juros caíram a 2,5% ao ano, o menor desde março de 2011.

O governo australiano disse ainda estar preparando um pacote de estímulo fiscal. Analistas temem que, com a epidemia de coronavírus, a Austrália entre em sua primeira recessão em quase 30 anos.

Os dois movimentos serviram de combustível para que o presidente Donald Trump usasse suas redes sociais para criticar, até então, a falta de ação do Fed.

"O Banco Central da Austrália cortou as taxas de juros e declarou que provavelmente facilitará ainda mais a política monetária a fim de compensar a situação e a desaceleração do coronavírus na China.(...) Nosso Federal Reserve está com taxas mais altas do que muitas outras economias quando deveríamos pagar menos. Isso penaliza nossos exportadores e coloca os EUA em desvantagem competitiva. Deveria ser o contrário", escreveu Trump.