Economia

Biden pretende cobrar Putin sobre ataque cibernético contra a JBS. FBI diz que grupo 'hacker' ligado à Rússia é o responsável

Após ação que paralisou sistemas e linhas de produção da brasileira nos EUA, Canadá e Austrália, na segunda-feira, fábricas reiniciam operações
JBS em Brisbane, Austrália: recuperação gradual das operações Foto: PATRICK HAMILTON / AFP
JBS em Brisbane, Austrália: recuperação gradual das operações Foto: PATRICK HAMILTON / AFP

SÃO PAULO - O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou nesta quarta-feira que está "analisando" possíveis retaliações a Moscou depois que a Casa Branca vinculou a Rússia ao ataque hacker que paralisou atividades nos EUA, no Canadá e na Austrália da brasileira JBS, a maior processadora de carnes do mundo.

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Ao ser perguntado se adotaria medidas contra funcionários do governo de Vladimir Putin, com quem se reunirá no dia de 16 de junho, em Genebra, na Suíça, Biden respondeu:

- Estamos analisando de perto esse caso.

Já a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse esperar que este seja um tema de discussão durante a viagem do presidente.

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FBI identifica grupo que atacou JBS

Mais cedo, o FBI atribuiu ataque ao "Revil y Sodinokibi" que, segundo especialistas, são dois nomes do mesmo grupo hacker que têm ligações com a Rússia, garantindo que "estava trabalhando diligentemente para levar os responsáveis à Justiça".

O ataque com um ransomware (no qual hackers sequestram e trancam os dados de um sistema, exigindo resgate em troca da chave) a uma subsidiária americana da JBS provocou novamente acusações nos EUA de que a Rússia abriga esse tipo de criminoso digital.

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Suspeitas semelhantes surgiram após o ataque que paralisou temporariamente o oleoduto Colonial Pipeline, no mês passado, que fornece 45% do combustível consumido na Leste dos EUA.

- Não é aceitável abrigar entidades criminosas que têm a intenção de prejudicar a infraestrutura do país - disse Psaki.

Rússia diz que está aberta ao diálogo

A Rússia afirmou nesta quarta-feira que está disposta a analisar qualquer pedido de Washington para ajudar na investigação do ataque cibernético contra a filial americana da gigante brasileira do setor de carnes JBS.

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— Há contatos por meio dos canais diplomáticos — declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, admitindo esperar que o crime cibernético esteja na pauta do encontro entre Biden e Putin na Suiça. — Se houver algum pedido dos americanos, será considerado rapidamente.

Reabertura das unidades

O ataque de hackers aos sistemas da JBS, na segunda-feira, obrigou a empresa a paralisar um série de linhas de produção mecanizadas.

Nesta quarta-feira, a companhia brasileira informou que a JBS USA e a subsidiária Pligrim's "tiveram avanços significativos na soluções do ataque cibernético que impactou as operações da empresa na América do Norte e na Austrália".

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Em comunicado ao mercado no Brasil, a JBS informou que todas as unidades afetadas "estão programadas para retomar a produção" nesta quinta-feira.

A empresa diz que "a grande maioria" de suas unidades paralisadas já voltou a produzir. E acrescentou que não há evidência de vazamento de dados de clientes, fornecedores ou funcionários.

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O grupo afirmou ainda que os sistemas estão voltando a funcionar e que "não está poupando recursos" para conter a ameaça e voltar a operar.

Segundo líderes sindicais, na quinta-feira, uma fábrica de Omaha retomará o trabalho, enquanto outra na Pensilvânia voltará ao status normal. A JBS disse que sua unidade canadense de carne bovina em Alberta, uma das maiores do país, retomou a produção.

Os trabalhadores da fábrica de processamento de carne de Longford, na Austrália, foram avisados de que as operações serão retomadas na sexta-feira, de acordo com um porta-voz do Sindicato dos Empregados da Indústria de Carne na Tasmânia.

Apoio de governos

A empresa acrescentou que a JBS USA "tem recebido forte apoio dos governos dos EUA, Austrália e Canadá, realizando conferências diárias com autoridades num esforço para garantir o fornecimento de alimentos".

Fábrica da empresa em Greeley, Colorado, nos EUA Foto: Chet Strange / AFP
Fábrica da empresa em Greeley, Colorado, nos EUA Foto: Chet Strange / AFP

O presidente da JBS USA, André Nogueira, disse que a empresa e a Pilgrim´s "são uma parte crítica da cadeia de abastecimento" de carne nos EUA. E que ainda não tem conhecimento de qualquer evidência neste momento de que de clientes, fornecedores ou funcionários tenham sido comprometidos.

A empresa também informou que operações do México e do Reino Unido não foram impactadas e estão funcionando normalmente.

China pode ser afetada por paralisação

Segundo a Bloomberg, uma paralisação prolongada das operações da JBS poderia prejudicar a China, já que o país é o maior comprador mundial de carne bovina e responde por quase um terço da receita de exportação da produtora.

A China também é um mercado importante para os embarques de carne bovina da Austrália.

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Os preços da carne bovina na China já estão perto de um recorde, e qualquer interrupção prolongada da oferta poderia elevar ainda mais os custos e reforçar temores de inflação dos alimentos.

Inundações, epidemias e tensões comerciais aumentaram a pressão sobre o governo para garantir o abastecimento de alimentos, com medidas que vão desde aumentar a produção até elevar as importações.