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Economia Petrobras

Bilionário se torna candidato a conselheiro da Petrobras em movimento de minoritários para ganhar espaço

Banqueiro Juca Abdalla formalizou candidatura nesta quinta-feira. Objetivo dos fundos é elevar total de assentos de 11 para 13 e ganhar voz frente ao governo
Sede da Petrobras, no Centro do Rio Foto: Reuters
Sede da Petrobras, no Centro do Rio Foto: Reuters

RIO - Os acionistas minoritários da Petrobras articulam propor um aumento no número de cadeiras no Conselho de Administração da estatal na próxima segunda-feira, quando vai ocorrer a assembleia geral extraordinária da companhia.

De acordo com fontes do setor, a ideia é elevar dos atuais 11 para 13 o total de conselheiros na empresa.

Na noite desta quinta-feira, a Petrobras informou que recebeu uma nova indicação para seu  Conselho de Administração.  Entra na disputa o banqueiro José João Abdalla Filho, conhecido como Juca Abdalla.

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Ele é  diretor-presidente e acionista controlador do Banco Clássico, criado em 1989.  Abdalla faz parte da lista dos bilionários da "Forbes", com fortuna estimada em US$ 2,2 bilhões. É membro dos conselhos de administração de empresas como Cemig e Ceg.

O bilionário foi indicado pelos seus fundos da Dinâmica Energia e Banclass, controlados pelo Banco Clássico. O banqueiro tem ainda ações em empresas como Eletrobras e Eneva.

Com isso, já são quatro os nomes indicados pelos acionistas minoritários. A União indicou oito nomes ao todo.

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A estatal também informou que  recebeu de acionistas que detêm, em conjunto, mais de 5% das suas ações ordinárias, a solicitação de adoção do sistema de voto múltiplo para a eleição dos candidatos ao Conselho de Administração na próximo segunda-feira. Estão na disputa oito vagas.

Na Assembleia da Petrobras no ano passado da Petrobras, Juca Abdalla conseguiu emplacar dois nomes no conselho da estatal: os advogados Leonardo Pietro Antonelli e Rodrigo de Mesquita Pereira.

A estatal esclareceu que o  nome dele não consta do Boletim de Voto à Distância, uma vez que sua candidatura foi recebida após o prazo de 25 dias.

Minoritários querem voz para frear intervenções

O movimento dos acionistas minoritários, como grandes fundos de investimentos nacionais e estrangeiros, tem como objetivo ganhar voz frente ao governo dentro da estatal, após Jair Bolsonaro demitir o presidente da Petrobras Roberto Castello Branco por elevar os preços dos combustíveis em meio a pressões de uma possível greve dos caminhoneiros.

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Segundo essas fontes, a proposta já circula entre o alto comando da estatal. A decisão do aumento caberá apenas aos acionistas no dia da assembleia, que vai aprovar os novos integrantes do Conselho, como o nome do general Joaquim Silva e Luna ,  que  vai assumir ainda a presidência da Petrobras.

Na quarta-feira, Bolsonaro voltou a criticar o aumento nos preços feitos pela estatal, como a alta de 39% para as distribuidoras de gás. Para fontes, aumentam as pressões de como o novo presidente da Petrobras vai tratar o tema.

- Antes os minoritários eram inertes e não votavam. Agora, eles votam em massa a tal ponto que a quantidade de votos exige que se aumente o número de vagas. É uma demonstração enorme da vontade do acionista ser representado. Coisa que em geral não acontece em empresas de economia mista - disse essa fonte do setor.

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Outro executivo destacou que a estratégia é aumentar a voz em meio ao processo da suposta interferência política de preços na empresa.

Uma terceira fonte ligada a um desses fundos explicou que toda essa crise gerada na Petrobras, e que se repete agora no Banco do Brasil, demonstra o interesse e a vontade do minoritário em ser cada vez mais representado.

- A estatal tem cerca de 700 mil investidores. Todos querem ganhar voz nesse momento - afirmou uma das fontes.

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Hoje, o Conselho da Petrobras é composto por onze membros, dos quais sete são indicados pela União, três são  representantes dos minoritários e um é indicado dos empregados. Caso os 11 assentos sejam mantidos, a Petrobras poderá ter pela primeira vez na história quatro representantes de acionistas minoritários e a União com o mínimo de seis cadeiras.

Movimento em estatais

Mas se o total de cadeiras pular para 13, os minoritários poderão, através do sistema de voto conjunto no dia da assembleia, emplacar cinco nomes, fazendo com que a União fique com o mínimo de sete cadeiras, já que por lei a União, por ser controladora, precisa ter o maior número de assentos no Conselho.

- É algo simbólico. E esse movimento pode ser replicado em outras empresas de economia mista. Um conselheiro independente falando é uma coisa, mas quatro é outra coisa - observou uma outra fonte.

No dia oito de  março, os fundos Dinâmica Energia e Banclass, administrados pelo Banco Clássico, indicaram o advogado Leonardo Pietro Antonelli para disputar um dos assentos. Ele é atualmente membro do Conselho da Petrobras e foi eleito com mais de 4 bilhões de votos na última assembleia.

União indicou oito nomes

Depois, no dia 16 de março, entrou na disputa o advogado Marcelo Gasparino da Silva, indicado por diversos fundos da RPS Capital, além de Dinâmica Energia e Banclass.

No dia 18 de março, o engenheiro Pedro Rodrigues Galvão de Medeiros foi indicado pelas gestoras Absolute Gestão de Investimentos, AZ Quest Investimentos, Kapitalo Investimentos, Moat Capital, Navi Capital, Oceana Investimentos e Solana Gestora de Recursos.

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Do lado da União, há oito nomes em disputa. Além de Eduardo Bacellar, como presidente do Conselho, estão o general Joaquim Silva Luna e Ruy Flasks, que hoje é conselheiro da estatal.

Entre os cinco novos nomes apresentados estão: Cynthia Santana Silveira, Ana Silvia Corso Matte, Márcio Andrade Weber, Murilo Marroquim de Souza e Sonia Julia Sulzbeck Villalobos. Esses nomes foram apontados após parte dos conselheiros anunciarem que não têm intenção em continuar.

Na noite de quarta-feira, a Petrobras informou que, após afirmações feitas por Jair Bolsonaro sobre o reajuste de gás e sobre possíveis mudanças na política de preço da companhia, "indagou o seu acionista controlador, por meio do Ministério de Minas e Energia (MME), ao qual a companhia está vinculada, sobre a existência de informações relevantes que deveriam ser divulgadas ao mercado".