Bolsonaro critica Petrobras e diz que 'é obrigado a mexer as peças do tabuleiro' da estatal

Presidente pediu a empresários que apoiem narrativas bolsonaristas em conversas com empregados
Petrobras critica lucro da Petrobras Foto: EVARISTO SA / AFP

SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro criticou novamente nesta segunda-feira a condução da Petrobras e disse que é "obrigado a mexer peças no tabuleiro", em alusão às trocas de comando da estatal e do Ministério de Minas e Energia. O discurso foi feito a uma plateia de empresários e executivos do varejo durante a abertura da Apas Show, feira do setor em São Paulo.

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Mais cedo, em conversa com apoiadores ao sair do Palácio da Alvorada, Bolsonaro afirmou que “ tem mais coisa para acontecer na questão da Petrobras” e que está “sempre fazendo alguma coisa para buscar alternativas”, sem dar detalhes sobre as possíveis ações.

- Todos têm que ter consciência, apertar o cinto, salvar o Brasil. Como as petrolíferas no mundo todo tiveram, reduziram suas margens de lucro. Exceto a Petrobras Futebol Clube, que quer ser a campeã do mundo. (...) Nada contra empresa ter lucro, tem que ter, se não não existe mercado livre, não existe democracia, sepulta o capitalismo e o outro lado a gente sabe que não dá certo — disse o presidente em referência à política de preços da estatal.

A Petrobras levantou R$ 9,6 bilhões com a privatização da BR, considerada por muito tempo como a 'joia da coroa'. A estatal ficou com 37,5% da empresa Foto: Gabriela Fittipaldi / Agência O Globo
A Petrobras vendeu 90% da TAG, maior transportadora de gás natural do país, para o grupo formado pela francesa Engie e a canadense CDPQ. Embolsou R$ 33 bilhões Foto: Stérfeson Faria / Agência Petrobras
Símbolo da corrupção da estatal, a Petrobras vendeu a refinaria de Pasadena, nos EUA, para a Chevron. Arrecadou R$ 1,8 bilhão com a operação, concluída em maio Foto: Richard Carson / Richard Carson
A Petrobra firmou acordo com o Cade para sair do setor de transporte e distribuição de gás natural. A companhia deve vender sua fatia no Gasoduto Brasil-Bolívia (foto) Foto: Diego Giudice / Bloomberg News
Em julho, a Petrobras começou a receber propostas para a venda de quatro refinarias, entre elas a Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco (foto) Foto: Hans von Manteuffel / Agência O Globo
A próxima empresa a ser vendida deve ser a subsidiária de distribuição de botijões de gás Liquigás Foto: Divulgação / Divulgação
A Petrobras está se desfazendo de alguns campos maduros (com produção em declínio). Já foram vendidos os campos de Pampo e Enchova, na Bacia de Campos, e o de Braúna, na Bacia de Santos (foto) Foto: Arquivo

— E daí a gente é obrigado a mexer as peças do tabuleiro. Dói mandar alguém embora ou quando alguém pede para ir embora, dói. Não é fácil, mas as coisas acontecem e nós temos que mudar. Pior do que uma decisão mal tomada é uma indecisão — prosseguiu Bolsonaro.

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As declarações ocorrem em meio à troca de comando do Ministério de Minas e Energia e a sinalizações de Bolsonaro de que pode trocar novamente a presidência da Petrobras. No último dia 11, Bolsonaro exonerou o então ministro, o almirante Bento Albuquerque, e nomeou o économista Adolfo Sachsida para o cargo.

Sachsida, o novo ministro, é conhecido por seu viés liberal-conservador e é próximo do ministro Paulo Guedes e de Bolsonaro desde antes da eleição presidencial de 2018. Neste governo, Sachsida foi secretário de Política Econômica e chefe da Assessoria Especial de Assuntos Econômicos de Guedes. 

José Mauro Ferreira Coelho, atual presidente da estatal, assumiu o cargo há um mês no lugar do almirante Joaquim Silva e Luna. Após ser demitido, Silva e Luna afirmou em entrevistas que o presidente Bolsonaro tentou intervir na gestão da Petrobras para mudar a política de preços praticada pela estatal.

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No último domingo, ao ser questionado sobre a permanência de Ferreira Coelho na estatal, Bolsonaro disse a jornalistas que deveriam fazer a pergunta a Sachsida e que tinha dado "carta branca" ao economista "para fazer valer aquilo que eles acham melhor para o seu ministério para melhor atender a população".  

Em seu discurso em São Paulo, Bolsonaro também voltou a tentar atribuir aos Estados a responsabilidade pela inflação dos combustíveis, o que contradiz os fatos. Os preços de combustível no Brasil são influenciados diretamente pela cotação internacional do barril de petróleo.

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A política de preços da Petrobras é a de seguir os preços internacionais da commodity , que têm tido alta voltatililidade em meio ao cenário de guerra na Ucrânia. As alíquotas do imposto estadual ICMS que incidem sobre os combustíveis, por outro lado, têm se mantido as mesmas. 

— Os senhores dependem de transporte. O preço de transporte influencia no preço lá da gôndola do supermercado. (...) Nem na hora da crise, em que o mundo está sofrendo, se pensa no próximo — reclamou Bolsonaro ao citar as alíquotas de ICMS sobre o combustível.

Cristiano Rocha Heckert, que comandava a Secretaria de Gestão, deixou o cargo em janeiro de 2022 para assumir como diretor-presidente da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe) Foto: Divulgação
Gustavo José Guimarães e Souza também pediu demissão do cargo de secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) em janeiro de 2022 para ocupar uma função no Legislativo Foto: Divulgação/Ministério da Economia
O secretário especial de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, pediu demissão em outubro de 2021 logo após o governo anunciar a criação do Auxílio Emergencial com parte dos pagamentos fora do teto de gastos, algo que ele sempre se disse contra Foto: Washington Costa / Ascom/ME
O secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediu demissão em outubro de 2021 junto com o secretário especial Bruno Funchal, a quem sucedeu no cargo no mesmo ano Foto: Aílton de Freitas / 20-12-2013
Gildenora Batista Dantas Milhomem, secretária especial adjunta de Tesouro e Orçamento, também pediu exoneração de seu cargo junto com Funchal, em outubro de 2021, alegando razões pessoais, em meio à crise aberta pelo projeto do Auxílio Brasil com recursos fora do teto de gastos Foto: Ministério da Economia / Reprodução
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Cavalcanti de Araujo, também pediu exoneração de seu cargo em outubro de 2021 após a debandada provocada pelo plano de financiar o programa social Auxílio Brasil fora do teto de gastos Foto: Hoana Gonçalves / Agência O Globo
Insatisfeito com o atraso no envio da reforma administrativa ao Congresso, Paulo Uebel deixou o cargo de Secretário especial de Desburocratização em agosto de 2020 Foto: Fátima Meira / Agência O Globo
Após a crise causada pela sanção do Orçamento de 2021, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a saída de Waldery Rodrigues do cargo de secretário especial da Fazenda, em 27 de abril, a pedido do secretário. O secretário informou que combinou a substituição em dezembro do ano anterior Foto: Ascom / Edu Andrade/ME
Na dança de cadeiras do Ministério da Economia, o secretário de Orçamento Federal, George Soares, também deixou o cargo. Foto: Agência Brasil
A advogada tributarista Vanessa Canado, assessora especial do Ministério da Economia voltada à reforma tributária, pediu demissão, mas não detalhou o motivo da saída Foto: Silvia Zamboni / Valor
Presidente do BB, André Brandão, entregou o cargo no dia 18 de março. Programa de reestruturação de Brandão desagradou ao presidente Bolsonaro Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, deixa o cargo no dia 20 de março, após desagradar a Bolsonaro com reajustes de combustíveis. Ele foi indicado por Guedes Foto: AFP
Sem conseguir tirar do papel várias privatizações, Salim Mattar pediu demissão do cargo de secretário de Desestatização do Ministério da Economia em agosto de 2020 Foto: Amanda Perobelli / Reuters
Rubem Novaes pediu demissão da presidência do Banco do Brasil em julho de 2020, após queixas sobre pressão política sobre o banco, cuja privatização chegou a defender Foto: Claudio Belli / Valor/14-2-2019
Ex-ministro da Fazenda no governo Dilma, Joaquim Levy só ficou no cargo de presidente do BNDES até junho de 2019, após críticas públicas de Bolsonaro, que queria abrir a "caixa preta" do banco Foto: Marcos Corrêa / PR/13-06-2019
Nome forte das contas públicas e um dos criadores do teto de gastos, Mansueto Almeida deixou o comando do Tesouro Nacional e foi para o BTG Foto: Adriano Machado / Reuters
Marcos Cintra deixou a chefia da Receita Federal após insistir na defesa de um imposto sobre transações financeiras, nos moldes da antiga CPMF. Uma ideia fixa de Guedes Foto: Leo Pinheiro / Valor/2016
O economista Marcos Troyjo trocou o cargo de Secretário especial de Comércio Exterior pela presidência do New Development Bank, conhecido como o Banco dos Brics, por indicação do governo brasileiro Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo 23-10-2012
Caio Megale deixou o cargo de diretor na Secretaria Especial de Fazenda em julho de 2020. Recentemente foi anunciado como novo economista-chefe da XP Investimentos Foto: Washington Costa / SEPEC/ME/15/01/2019
O secretário especial de Produtividade e Competitividade, Carlos da Costa, deixará o cargo para assumir o posto de adido de comércio em Washington Foto: Agência O Globo
O secretário da Receita Federal, José Tostes, deixará o país. Ele será adido do governo na OCDE, em Paris Foto: Edu Andrade / Ministério da Economia
Jair Bolsonaro decide demitir o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, segundo integrantes do governo, em meio à pressão por conta do aumento no preço dos combustíveis, e depois de críticas feitas pelo governo e pelo Congresso à estatal Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil

 

Em um discuso inflamado e sem mencionar o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro voltou a insinuar que uma eventual vitória do petista transformaria o Brasil em um regime comunista.

Aplaudido pela plateia em diversos momentos, o presidente pediu por diversas vezes que empresários "conversem com as pessoas mais humildes" para apoiar a retórica bolsonarista.

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— Estive num almoço agora com Paulo Skaf (ex-presidente da Fiesp) e vários empresários (...) o Abílio Diniz estava presente. Em dado momento, na conversa, (...) um perguntou no final como pode me ajudar. Simples: chamei todos para a cozinha, (onde) o salário médio é 2000 por mês. Me ajuda conversando com essas pessoas (...). Não adianta vocês reunirem por exemplo 1.000 empregados e dar uma palestra para eles, não adianta nada falar do comunismo, socialismo, Venezuela, outros países. Não adianta nada, ele vai acreditar em vocês se vocês conversar (sic) todo o dia com eles. (...) Aí ele acredita em você (sic), vai realmente ter consciência de que se vier acontecer isso no Brasil, o Brasil vai para o espaço como já foi a Venezuela — afirmou.