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Economia Portugal

Brasileiros desbravam nova rota de imigração no interior de Portugal. Conheça as oportunidades

Governos de cidades distantes do litoral criam incentivos para atrair investidores e profissionais. Na região central, brasileiros já são 25% dos estrangeiros
Paisagem noturna de Castelo Branco, na região central de Portugal Foto: Divulgação
Paisagem noturna de Castelo Branco, na região central de Portugal Foto: Divulgação

LISBOA E CASTELO BRANCO — O primeiro movimento da atual onda de brasileiros se mudando para Portugal foi em busca de segurança, serviços públicos de qualidade e oportunidades de trabalho e negócios nas principais cidades, como Lisboa e Porto, e no litoral.

A pandemia chama a atenção agora para uma nova rota de imigração: o interior do país. Sem a pressão da especulação imobiliária e escassez de empregos das grandes cidades, cada vez mais brasileiros descobrem a possibilidade de ter amplo espaço para trabalhar e viver com mais qualidade e menos custos no coração de Portugal.

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O GLOBO percorreu alguns desses pequenos oásis despovoados que desenvolvem estratégias econômicas para atrair e manter empreendedores e profissionais em meio a um novo plano do governo português para atacar o crônico problema demográfico do país e ajudar a recuperação da econômica no pós-pandemia.

No município de Castelo Branco, capital do distrito administrativo de mesmo nome onde também ficam Fundão, Idanha-A-Nova e Covilhã, os brasileiros residentes são 25% dos estrangeiros registrados no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

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Passaram de 711 em 2015 para 1,4 mil em 2019, alta 107%, mas o número é maior porque as estatísticas não incluem os que têm cidadania portuguesa ou esperam a expedição dos documentos.

Amendoal na cidade de Fundão, um dos empreeendimentos agrotec Foto: Divulgação
Amendoal na cidade de Fundão, um dos empreeendimentos agrotec Foto: Divulgação

Para entender o plano de repovoamento do interior criado pelo governo e pelas prefeituras, é preciso conhecer o drama demográfico no país, que é maior no interior. Foi de lá que a população mais jovem se afastou nas últimas décadas em busca de trabalho no litoral ou no exterior.

Após mais de uma década ininterrupta com mais mortes que nascimentos, Portugal deverá chegar ao fim de 2020, marcado pela pandemia, com o maior déficit natural em um século. De janeiro a outubro, foram quase 100 mil óbitos e pouco mais de 71 mil bebês segundo a Direção Geral da Saúde.

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Somente na época da Gripe Espanhola, em 1918, morreram mais pessoas em Portugal: 136 mil. Os óbitos deste ano foram impulsionados pela pandemia (4,6 mil), mas também pelo fato de a população idosa não resistir aos períodos extremos de calor e frio e ter mais dificuldade de acesso aos cuidados da saúde no interior.

As regiões do Centro e Alentejo, no coração do país, lideram os óbitos por 100 mil habitantes. Em certos municípios fora do litoral, o número de partos caiu 18% em 2019.

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Números como estes fizeram o governo prever a perda de 1,7 milhão de trabalhadores ativos em 20 anos. Para tentar reverter ao menos uma parte da situação, foi criado em 2019 o Ministério da Coesão Territorial, responsável pelas políticas de integração e repovoamento.

É desta pasta que saem projetos federais de apoio às empresas para criação e fixação de postos de trabalho no interior. Somente em um dos programas, com estimativa de custo de € 90 milhões, estavam previstas a abertura de 1,6 mil vagas este ano. Foram enviadas 4,4 mil candidaturas até setembro.

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Paisagem de Castelo Branco, no interior de Portugal Foto: Divulgação
Paisagem de Castelo Branco, no interior de Portugal Foto: Divulgação

Apesar de as linhas nacionais da coesão serem traçadas no ministério em Lisboa, as diretivas de atração para o interior são independentes.

Cada presidente de câmara, como são chamados os prefeitos e as prefeituras, desenvolve seu imã de captação de trabalhadores, empresas e investimentos estrangeiros, com cessão ou aluguel de prédios e terrenos a preços irrisórios, relaxamento da carga fiscal e até pagamento do aluguel de imóveis para profissionais.

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Mas há problemas no paraíso e os obstáculos chegam junto com o aumento da procura pelo interior. Brasileiros, e também portugueses, já enfrentam parte das dificuldades importadas dos grandes centros.

A situação pode ser mais grave para quem chega sem emprego certo ou tenta empreender nas áreas de turismo e gastronomia sem apoio municipal e federal ou reserva financeira para enfrentar a crise.

Entre as principais queixas também estão as exigências, por vezes irregulares, feitas pelos proprietários de imóveis aos brasileiros para fechar um contrato de aluguel.

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Sem um contrato de trabalho para dar suporte ou ajuda das prefeituras, é possível que um brasileiro tenha que desembolsar até seis vezes o valor de um aluguel como depósito, o que é ilegal. O Código Civil do país fixa um período máximo de três meses como garantia.

Confira as reportagens da série sobre cidades do interior português:

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(*Especial para O GLOBO)