A competição no mercado brasileiro de produtos como ar-condicionado, televisores, lavadoras, secadoras, lava-louças, geladeiras e micro-ondas vai se acirrar com novos investimentos previstos e ampliação da oferta de produtos de empresas chinesas que já estão no país ou estão chegando. Primeiro, nos anos 90, ganharam destaque os produtos os japoneses. Nos anos 2000, vieram os coreanos. E agora, completando o ciclo de companhias asiáticas do setor, fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos chineses querem ganhar mais terreno na preferência dos brasileiros oferecendo produtos com muita tecnologia embarcada a preços competitivos.
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— O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo e é um mercado importante, com mais de 200 milhões de consumidores. E as marcas chinesas das linhas branca e marrom, que estão entre as três maiores do mundo, estão na fronteira da tecnologia competindo com gigantes como Samsung e Apple e se expandindo — explica Paulo Gala, professor de economia na FGV-SP e economista-chefe do Banco Master.
Com faturamento global de US$ 53,1 bilhões e 166 mil funcionários no mundo, a Midea tem no Brasil a segunda maior operação fora da China, atrás apenas dos Estados Unidos. A empresa já investiu R$ 45 milhões no país nos últimos cinco anos e está aportando perto de R$ 575 milhões numa fábrica própria de refrigeradores e lavadoras em construção em Pouso Alegre, em Minas Gerais. A unidade deve entrar em operação no segundo semestre deste ano.
— O Brasil se tornou prioridade para receber investimentos e estamos otimistas. Na segunda metade de 2024 teremos uma nova fábrica em funcionamento para ser um propulsor de negócios nos próximos anos — diz Mario Sousa, vice-presidente comercial e de marketing da Midea Brasil.
A empresa produz de geladeiras e secadoras a fritadeiras e micro-ondas. É líder do segmento de ar-condicionado no país, com cerca de 25% de participação no residencial e acima de 30% para empresas. Nesse setor, a Midea Carrier formou uma joint venture em 2011 com a Carrier, líder global em condicionadores de ar e climatização. A joint venture atua no Brasil, Argentina e Chile e tem duas fábricas, em Manaus (AM) e Canoas (RS). Em Manaus, a capacidade de produção é de dois milhões de unidades de ar-condicionado. Tem três centros de distribuição no país, 10 lojas próprias e e-commerce.
Segundo dados da GFK, consultoria de mercado, a Midea já tem 21% do mercado de lavadoras, 65% do segmento de frigobares e 23% em freezers horizontais. Atualmente, 85% de tudo o que é comercializado no país é produzido nas fábricas localizadas em Manaus e Canoas. A Midea quer crescer 30% no Brasil nos próximos três anos e ficar entre as três maiores empresas do setor. Do Brasil, exporta produtos para Argentina, Chile, Equador e México.
— Os sinais de melhora da economia brasileira, além da posição geográfica na América do Sul, atraem os fabricantes chineses. Produzir no Brasil facilita a entrada nos países vizinhos e chegar até o Caribe e América Central — diz José Jorge do Nascimento Junior, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos.
A TCL se prepara para lançar, no segundo semestre, seus primeiros produtos de linha branca no país, entre eles refrigeradores. No Brasil, desde 2016, tem uma joint venture com a Semp, fabricante de televisores e rádios, com 20% de participação no setor. Tem ampliado seu portfólio de produtos no Brasil com condicionadores de ar, sound bars, celulares e agora a linha branca. No terceiro trimestre vai lançar monitores gamers.
Mercado estratégico
A TCL/Semp tem duas fábricas em Manaus. Em 2022, a empresa inaugurou uma unidade para produzir condicionadores de ar.
— A fábrica foi inaugurada com produção anual inicial de 500 mil unidades e a expectativa é dobrar esse número até 2025. Este ano, com a linha branca, esperamos expandir ainda mais nosso portfólio e ter uma importante frente que vai contribuir com o nosso crescimento — diz Maximiliano Dominguez, diretor de produto, engenharia e qualidade da TCL/Semp.
O Brasil é um dos mercados mais importantes na estratégia global da Hisense, diz Matjaz Cokan, vice-presidente para o Brasil da marca. Há um ano com vendas no país, a chinesa quer se consolidar e disputar o mercado com as marcas já estabelecidas por aqui. Já tem refrigeradores, lava-louças, lava e seca e ar condicionado. Recentemente lançou a Wine Cooler, para armazenamento de vinhos, e a Beverage Center, para a preservação de bebidas em lata. Para 2024, terá novidades em TVs: é líder de vendas do artigo na China.
— Os resultados alcançados até agora superaram nossas expectativas. O brasileiro gosta de tecnologia e está disposto a experimentar marcas que não conhecia. A receptividade tem sido boa — afirma Cokan.