A chinesa Huawei tem apostado na diversificação, no aumento substancial dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento e numa boa dose de resiliência para superar os desafios impostos pelas sanções dos Estados Unidos e da Europa, sob alegação de proteção à segurança interna dos países. Com sede em Shenzhen, a empresa está tentando abrir novos mercados depois que as restrições de exportação de tecnologia dos EUA destruíram seu negócio de smartphones e reduziram a venda de equipamentos avançados em mercados de países desenvolvidos. Presente no Brasil há 25 anos, a empresa é a maior fornecedora de equipamentos de telecomunicações no país.
— Somos líderes no setor de telecomunicações no mundo e no Brasil, onde atendemos as três grandes operadoras — diz Atilio Rulli, vice-presidente de Relações Públicas da Huawei América Latina e Caribe.
Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, observa que a Huawei divide o mercado brasileiro de operadoras com a Ericsson e de fibra óptica com a Nokia.
— Com o embargo, a empresa vem diversificando para outras áreas, como TI e cloud para o mercado corporativo, além de voltar a crescer a divisão de celulares no mercado da China — diz Tude.
José Felipe Ruppenthal, consultor da Telco Advisor, lembra que a Huawei iniciou as operações no Brasil ganhando mercado com preços muito baixos. Ao longo dos anos, foi investindo em pesquisa e conquistando mercado também pela qualidade.
— Em 25 anos, a Huawei se transformou, investiu em inovação, treinamento e especialização e hoje está presente em 70% da infraestrutura de redes móveis do Brasil. Cerca de 60% de suas receitas vêm de operadoras — diz Ruppenthal.
Em nível global, a Huawei emprega 207 mil funcionários. Após o início das sanções, a empresa perdeu, em 2021, cerca de US$ 30 bilhões em receitas, que somaram US$ 99,8 milhões, embora o lucro tenha crescido 76%. Já em 2022, o faturamento atingiu U$ 92,3 bilhões, e lucro líquido, U$ 5,1 bilhões, o que representa um recuo de 68,7% em relação a 2021. A empresa voltou a crescer em 2023, somando até o terceiro trimestre, com receitas de US$ 62,4 bilhões e um aumento anual de 2,4%.
A fabricante chinesa investe, em média, 15% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento, mas em 2022, devido ao embargo, o patamar foi a 25%, uma das taxas mais altas da indústria global de tecnologia, somando US$ 22,3 bilhões. A companhia mantém 120 mil patentes ativas, que renderam, em 2022, US$ 560 milhões em receitas de licenciamento.
Vida pós-embargo
O embargo afetou, sobretudo, a divisão de celulares e tablets, que não pôde mais contar com chipsets da Qualcomm e da Intel, nem com o sistema operacional Android e seus aplicativos.
— Quando veio o embargo, havíamos passado a Apple e, um semestre depois, passaríamos a Samsung, assumindo a liderança no mercado de celulares. Mas temos de fazer os problemas transformarem-se em soluções: criamos a divisão Shanghai Silicon, que montou uma fábrica de chipsets e desenvolvemos o sistema operacional HarmonyOS. O embargo está nos fortalecendo. A maior barreira continua sendo o acesso aos aplicativos — afirma Rulli.
A Huawei lançou celular na Ásia com sistema operacional próprios e vem reconquistando mercado. No setor de equipamentos de telecomunicação, a empresa se prepara para oferecer soluções 5G Advanced e há três anos trabalha nas especificações de soluções para o 6G. Neste ano, as duas tecnologias vão passar por uma rodada de definição de padrões nos organismos globais de padronização.
A companhia também tem uma estratégia para o mercado de inteligência artificial e deve trazer, neste primeiro trimestre de 2024, sua ferramenta PanGu, que está sendo treinada para o mercado brasileiro com foco no mercado B2B.
Com mais de 3 mil produtos no portfólio, um percentual entre 40% e 45% do que é vendido pela Huawei no Brasil é produzido aqui mesmo no país. São duas unidades fabris: uma em Jundiaí (SP) produz equipamentos de redes móveis e para o mercado corporativo, e outra em Manaus (AM), equipamentos de banda larga fixa e de fibra óptica.
Para a distribuição, a empresa mantém um grande centro logístico em Sorocaba (SP), o primeiro da América Latina automatizado com 5G; além de oito centros regionais no país. Em termos de operações, são quatro unidades de negócios no Brasil: operadoras; TIC para o mercado corporativo; Digital Power, a que mais cresce com a oferta de equipamentos para energia solar e eólica; e por fim, a Huawei Cloud, que oferece serviços de nuvens pública e híbrida.
A gigante chinesa também investe em projetos institucionais como o conduzido pela Veloso Net na construção de redes no estado do Amazonas, que no momento atende 90 cidades.