Economia

Canal de Suez: companhias começam a mudar rota de navegação enquanto crise com navio encalhado se prolonga

Há quatro dias, o navio Ever Given está bloqueando a passagem do tráfego marítimo. Prejuízos já são calculados em torno de US$ 9,5 bilhões
Imagens de satélite de 25 de março mostram o Ever Given encalhado e travando a circulação no Canal de Suez Foto: CNES2021, DISTRIBUTION AIRBUS DS
Imagens de satélite de 25 de março mostram o Ever Given encalhado e travando a circulação no Canal de Suez Foto: CNES2021, DISTRIBUTION AIRBUS DS

SUEZ, Egito — As empresas de transporte marítimo globais começaram a redirecionar as rotas de carga, desviando do Canal de Suez, no Egito, onde o navio Ever Given encalhou , bloqueando a passagem há quatro dias.

A colossal embarcação — com quase 400 metros de comprimento e pesando 200 mil toneladas— havia saído da Ásia e tinha como destino Roterdã, na Holanda, quando foi atingida por fortes rajadas de ventos.

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O MV Evergreen, que saiu da Ásia e tinha como destino Rotterdam, é a maior embarcação já encalhada no canal desde a sua criação, em 1869. O acidente ocorreu depois de fortes rajadas de vento
O MV Evergreen, que saiu da Ásia e tinha como destino Rotterdam, é a maior embarcação já encalhada no canal desde a sua criação, em 1869. O acidente ocorreu depois de fortes rajadas de vento

Estimativas dão conta de que o engarrafamento de navios na região já cause prejuízos da ordem de US$ 9,5 bilhões em mercadorias. Sete navios-tanque transportando gás natural liquefeito (GNL) foram desviados na sexta-feira, depois que o bloqueio causou a suspensão do tráfego no canal.

Três dos petroleiros estavam sendo desviados para a rota mais longa, em torno da África, via Cabo da Boa Esperança, segundo relatou para o site Bloomberg.com a empresa de inteligência de dados Kpler, acrescentando que a maioria dos petroleiros já estão sendo desviados.

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“O trânsito planejado de 16 navios de GNL através do Canal de Suez será afetado se o congestionamento persistir até o fim desta semana”, disse Rebecca Chia, analista da Kpler, em Cingapura.

Até a manhã desta sexta-feira, o navio permanecia encalhado na mesma posição, com rebocadores e dragas ainda trabalhando para desencalhá-lo, segundo a Leth Agencies, prestadora de serviços do Canal.

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A previsão é que o trabalho para removê-lo dure pelo menos uma semana, até o dia 31, um prazo mais longo do que o previsto inicialmente e que prolongará a interrupção das cadeias de abastecimento globais para todo tipo de produto, desde petróleo a grãos e automóveis.

Segundo a autoridade do canal, será necessário remover entre 15 mil e 20 mil metros cúbicos de areia para atingir uma profundidade de 12 a 16 metros. Essa profundidade provavelmente permitirá que o navio flutue livremente novamente, disse a fonte da Bloomberg.

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A companhia marítima internacional Maersk disse, nesta sexta-feira, que estava "procurando todas as alternativas" para seus nove navios porta-contêineres que estão presos no engarrafamento do Canal de Suez.

— Todo mundo está fazendo planos de contingência enquanto conversamos— disse Peter Sand, analista-chefe de navegação da BIMCO, de acordo com a CNN.

O bloqueio como este no Canal de Suez é um evento raro na história das principais rotas marítimas comerciais. Desde o início da operação do Canal, em 1869, houve apenas cinco interrupções do tráfego de navios. Confira abaixo um histórico de outros episódios do tipo:

  • Julho de 2018: o Canal de Suez fechou por várias horas depois que o navio de contêineres de propriedade grega Panamax Alexander sofreu uma falha de motor que levou a uma colisão de cinco navios;
  • 28 de abril de 2016: o navio porta-contêineres MSC Fabiola encalhou no Canal de Suez, bloqueando o tráfego para o sul por dois dias;
  • 8 e 9 de dezembro de 2010: O Canal do Panamá fechou por 17 horas por causa de fortes chuvas e inundações, o primeiro fechamento desde a paralisação de um dia em dezembro de 1989 durante a invasão americana do país centro-americano;
  • Junho de 1967 a junho de 1975: Canal de Suez fechado pelas autoridades egípcias após a Guerra dos Seis Dias, travada entre os dias 5 e 10 de junho de 1967, tendo de um lado do conflito as forças armadas do Estado de Israel e, do outro, as do Egito, Síria, Jordânia e Iraque, que, por sua vez, receberam o apoio de Kuwait, Líbia, Arábia Saudita, Argélia e Sudão;
  • Julho de 1956: O presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou a hidrovia, desencadeando a Crise de Suez que levou ao ataque de Israel e à intervenção da Grã-Bretanha e da França. O canal fechou de outubro de 1956 a março de 1957.