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Economia

'Carros voadores' prometem tomar os céus a partir de 2025, mas ainda não há regras para essa nova forma de viajar

Fabricantes que desenvolvem pequenas aeronaves elétricas, os eVTOLs, buscam experiência das companhias aéreas na certificação de aviões
Simulação de voo do modelo de eVTOL da alemã Lilium, que a Azul quer trazer ao Brasil a partir de 2025 para trajetos curtos, como Rio-Búzios ou São Paulo-Guarujá Foto: Reprodução / Divulgação
Simulação de voo do modelo de eVTOL da alemã Lilium, que a Azul quer trazer ao Brasil a partir de 2025 para trajetos curtos, como Rio-Búzios ou São Paulo-Guarujá Foto: Reprodução / Divulgação

SÃO PAULO - Empresas brasileiras como a Embraer e Azul resolveram entrar de cabeça na disputa pelo desenvolvimento de “carros voadores” elétricos, mas essa corrida esbarra na falta de regras para a circulação deles.

As companhias dizem que eles estarão prontos para decolar em quatro ou cinco anos. Há mais de 140 projetos desse tipo no mundo.

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Leva vantagem quem tem maior expertise na regulação de aviões junto às maiores agências do mundo, a Administração Federal de Aviação (FAA), dos EUA, e a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (Easa), as mais adiantadas nessa área.

Simulação de embarque no Lilium, veículo voador elétrico que tem capacidade para seis passageiros e um piloto. Decolagem é vertical, como os helicópteros. Azul quer operá-los no Brasil a partir de 2025 para voos curtos, como entre São Paulo e Guarujá ou Rio e Paraty. Foto: Reprodução/Divulgação
Simulação de embarque no Lilium, veículo voador elétrico que tem capacidade para seis passageiros e um piloto. Decolagem é vertical, como os helicópteros. Azul quer operá-los no Brasil a partir de 2025 para voos curtos, como entre São Paulo e Guarujá ou Rio e Paraty. Foto: Reprodução/Divulgação

Para especialistas, a regulamentação que será feita para a entrada em operação desses veículos deve favorecer as empresas com projetos mais avançados. Quem chega agora já está em desvantagem.

Segundo Adriana Simões, advogada especializada no setor aéreo e sócia do escritório Mattos Filho, os órgãos regulatórios dos EUA e da Europa não autorizaram ainda o uso comercial de nenhum dos veículos elétricos autônomos (eVTOLs), que têm sido apresentados em cenários futuristas.

A companhia aérea Azul firmou parceria com a fabricante alemã Lilium para trazer ao país 220 “carros voadores” por até US$ 1 bilhão. O modelo é considerado um dos mais promissores do mundo, segundo James Waterhouse, professor de engenharia aeronáutica da USP que estuda o mercado.

— O modelo da Lilium tem autonomia de cerca de 200km, enquanto a maioria dos possíveis concorrentes opera distâncias menores, de até 100km — diz o especialista.

Para ele, a barreira regulatória deverá permanecer no curto prazo:

Azul firmou parceria com a alemã Lilium para trazer ao país 220 carros voadores a partir de 2025 Foto: Divulgação
Azul firmou parceria com a alemã Lilium para trazer ao país 220 carros voadores a partir de 2025 Foto: Divulgação

— A tecnologia já existe, mas os órgãos reguladores restringem a operação por razões de segurança e porque é algo novo, com eventuais riscos não mapeados. Hoje, só os Emirados Árabes Unidos têm uma regulação aberta à operação de eVTOL. Nos EUA e na Europa, o processo de certificação tende a demorar e, inicialmente, as autorizações devem ser experimentais e para alguns projetos.

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Os acordos com companhias aéreas têm sido estratégicos para fabricantes com protótipos mais avançados para ganhar mercado e, ao mesmo tempo, atrair aliados nos processos de certificação de seus modelos.

O diretor de Relações Institucionais da Azul, Fábio Campos, afirma que a expertise da aérea com certificação de aeronaves pode auxiliar a Lilium a colocar mais rapidamente no mercado seu modelo para seis passageiros.

— A grande pergunta dessa tecnologia é como vamos fazer a certificação dela toda. Como é um tipo de transporte novo, ainda é preciso estabelecer quais vão ser as etapas. Pode haver novos processos e testes em relação à certificação de uma aeronave. A Azul foi responsável por certificar o Airbus A321 no Brasil e o Embraer E2 no mundo, temos essa expertise — diz Campos.

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A empresa, de acordo com o executivo, já conversa com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre como será o processo no Brasil.

— Todos os reguladores do mundo estão tentando entender como vai ser esse mercado, e certificação é um processo complexo. A regulamentação da aeronavegabilidade já existe, por exemplo, e pode ser adaptada. A grande diferença para os aviões, e principal questão, é a certificação da bateria — conta o executivo.

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Azul firmou parceria com a alemã Lilium para trazer ao país 220 carros voadores a partir de 2025 Foto: Divulgação
Azul firmou parceria com a alemã Lilium para trazer ao país 220 carros voadores a partir de 2025 Foto: Divulgação

Os eVTOLs também precisarão ter certificados seus motores. Há fases de demonstração e testes em que se submete o veículo a situações de instabilidade para verificar o grau de segurança do dispositivo. A Azul espera tê-los certificados e em operação em 2025.

Embraer acelera passo

O projeto desenvolvido pela Eve, start-up fundada pela Embraer para desenvolver um eVTOL, já tem cerca de quatro anos.

A empresa se separou da EmbraerX, braço de inovação da fabricante brasileira de aviões, no fim do ano passado, mas o presidente da empresa, André Stein, diz que o diferencial da Eve é justamente ter nascido com a expertise da Embraer em certificações complexas.

A de um avião, diz ele, já é normalmente muito complexa. A dos novos veículos traz mais desafios porque nunca foi feita:

— Pouquíssimas empresas no mundo, mesmo com projetos tradicionais de aviação comercial, têm essa expertise. Você não faz isso no final do processo de desenvolvimento, mas durante. As ferramentas e tecnologias usadas no projeto têm de ser certificadas, até a linha de manufatura. No caso dos eVTOLS, a novidade é que tem muita novidade, o processo ainda está sendo discutido.

A Eve prevê colocar no mercado seu modelo em 2026. Corre contra o tempo. Fechou também parcerias com companhias aéreas (como a queniana Kenyan Airways) e de táxi aéreo (como a Flapper), que se comprometeram a comprar os modelos desenvolvidos.