Economia

“Chicago Boys”, sinônimo de recessão na América Latina

Política econômica da escola americana foi o receituário neoliberal em duros ajustes nas décadas de hiperinflação

Ao lado do vice, Alvaro García, o presidente boliviano, Evo Morales, posa com Dilma Rousseff
Foto: Juan Karita/AP
Ao lado do vice, Alvaro García, o presidente boliviano, Evo Morales, posa com Dilma Rousseff Foto: Juan Karita/AP

LA PAZ - Com um discurso de 51 minutos diante de mandatários latinoamericanos — entre os quais se destacou a presidente Dilma Rousseff —, o presidente da Bolívia, Evo Morales, iniciou nesta quinta-feira seu terceiro mandato com promessas de reduzir a pobreza de 18,8% a 8% da população até 2020. E o tom foi nacionalista. Além de assegurar aos bolivianos que se empenhará na disputa travada com o Chile por um acesso ao Oceano Pacífico, Morales, um ex-cocaleiro de 55 anos, aproveitou para atacar o neoliberalismo. Ele recorreu a um trocadilho para alertar que, na Bolívia, os “Chicago Boys” não mandam, mas sim os “Chuquiago Boys”, um dos povos indígenas do país.

— Perdoem-me a expressão, mas aqui não mandam os gringos, mandam os índios. Este é um orgulho que temos — declarou Morales, segundo o diário boliviano “La Razón”.

Chuquiago — na verdade, Chuquiyapu Marka — é o nome da capital boliviana, La Paz, em Aymara. E “Chicago Boys” é a expressão usada para designar toda uma geração de economistas liberais americanos formados na Universidade de Chicago entre o fim da década de 1970 e o início dos anos 1980. E, entre eles, o atual ministro brasileiro da Fazenda, Joaquim Levy, cujo título de PhD foi obtido naquela instituição.

Essa doutrina do livre mercado tornou-se quase um fantasma para uma esquerda latino-americana que assistiu a dias de austeridade e abandono social em tempos de hiperinflação. Os “Chicago Boys”, um grupo de 25 economistas, a maioria chilenos, foram responsáveis por ideias transformadas em sinônimo de recessão na América Latina. Entre eles, estiveram pioneiros do pensamento liberal, capazes de antecipar no Chile, em quase uma década, medidas que só mais tarde seriam adotadas pela dama de ferro Margaret Thatcher no Reino Unido. Também foram os pensadores por trás da política econômica da ditadura militar do ditador Augusto Pinochet.

Morales já havia feito tal condenação aos “Chicago Boys” há um ano, em janeiro de 2014.

Evo destacou os avanços econômicos de sua política nacionalista e prometeu reduzir a extrema pobreza no país andino “a um dígito” até 2020. Segundo o “La Razón”, em 2005, 37,2% dos bolivianos viviam em situação de extrema pobreza. Hoje, esse número caiu para 18,8%.

— Nos comprometemos e estamos convencidos de que vamos reduzir a pobreza a um dígito, a 8% ou 9%. Este é o socialismo comunitário que busca a igualdade — afirmou Morales.