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Com alta dos preços, nenhum investimento ganha da inflação, com exceção do Bitcoin

Rentabilidade real da renda fixa e da variável fica abaixo do IPCA acumulado no ano
Bitcoin teve retorno real de mais de 38% neste ano Foto: Pexels
Bitcoin teve retorno real de mais de 38% neste ano Foto: Pexels

RIO — Um dos principais objetivos dos investimentos é proteger o dinheiro que está guardado da corrosão provocada pela inflação. No entanto, com a disparada dos preços neste ano, que teve seu ápice em setembro, ninguém escapou: tanto a renda fixa, quanto a renda variável tiveram rentabilidade real negativa.

A única exceção foi o Bitcoin, que teve um retorno real de mais de 38% entre janeiro e setembro.

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Divulgado no último dia 24, o IPCA-15 de setembro, que é a prévia da inflação do mês, registrou alta de 1,14%, depois de já ter subido 0,89% em agosto.

Esse foi o maior IPCA-15 desde fevereiro de 2016 (1,42%) e o maior para um mês de setembro desde 1994.

Os dados fechados para o mês serão divulgados pelo IBGE no próximo dia 8, mas analistas já esperam uma inflação igual ou maior que a prévia, podendo chegar a 1,3%.

Considerando o IPCA-15 de setembro, a inflação já acumula alta de 7,02% no ano e de mais de 10% em 12 meses.

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Enquanto isso, fundos de renda fixa atrelados à taxa Selic e ao CDI, por exemplo, renderam apenas 2,52% no ano. Isso significa uma rentabilidade real, isto é, descontada a inflação, de -4,2%.

Na renda fixa, inclusive, a melhor performance neste ano tem sido da poupança antiga, dos depósitos feitos até o dia 3 de maio de 2012. Quem manteve o dinheiro nessa caderneta tem rendimento de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), zerada desde 2017.

Com isso, a aplicação acumula alta de 4,59% no ano, mas ainda perde para inflação, ficando com uma rentabilidade real negativa em 2,27%.

Na renda variável, onde em geral os riscos são justificados por ganhos mais altos, a situação é ainda pior. O Ibovespa, principal indicador de desempenho das ações negociadas na Bolsa e que reúne as empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro, acumulou queda de 6,75% em setembro.

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Quando se desconta a inflação, o tombo é ainda maior, de 12,87%.

Atenção ao mudar estratégia de investimento

Diretor da pós-graduação da Unianchieta, Filipe Pires lembra que essa não é a primeira vez que a inflação supera o retorno dos investimentos.

— Isso é cíclico, já aconteceu antes. No final do governo Dilma, por exemplo, antes do impeachment, a gente tinha uma Selic a 7,25%, posicionada artificialmente, porque a inflação já passava de 10%. A manutenção da Selic abaixo da inflação é perniciosa, principalmente quando se tem uma moeda fraca, como o real — explica.

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No entanto, antes que os investidores comecem a direcionar seus investimentos para títulos atrelados ao IPCA, Pires ressalta que o Banco Central vem sinalizando que poderá manter o ritmo de alta da taxa de juros como uma forma de conter a inflação.

— É importante analisar friamente qualquer mudança na estratégia de investimentos, sabendo que a possibilidade de uma alta de juros expressiva é muito real.

Em relação à renda variável, o especialista em Finanças aponta que apesar de o Ibovespa e outros índices de ações da Bolsa estarem com retorno real negativo, há papéis que individualmente têm performado bem e garantido aos seus investidores rendimentos acima da inflação.

— Neste momento, o ideal é alocar 10%, no máximo 15% em ativos com risco, mas muitas vezes com mais risco, isto é, com maior potencial de crescimento, buscando um descolamento do Ibovespa — avalia Pires.