Exclusivo para Assinantes
Economia

Com cerca de 120 mil habitantes, Rocinha perde agências e caixas eletrônicos

Com população maior que a de 90% das cidades brasileiras, favela do Rio já foi conhecida por contar com várias opções
Caixas eletrônicos. Bancos pagarão alíquota maior Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo
Caixas eletrônicos. Bancos pagarão alíquota maior Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

RIO - A retração das redes de atendimento bancário nas pequenas cidades se repete nos bairros periféricos dos grandes centros. Uma amostra disso é a favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio. Com cerca de 120 mil habitantes, ela já foi conhecida por contar com várias agências bancárias. Já teve quatro, além de caixas eletrônicos distribuídos pela comunidade. Mas, desde 2017, os serviços financeiros vêm encolhendo pouco a pouco em meio ao recrudescimento da violência.

Despesas : Com concorrência digital, bancos fecham agências para cortar custos

Uma pesquisa da agência de marketing Outdoor Social, focada em classes populares, estimou que a Rocinha — que tem mais habitantes que 90% das cidades do país — movimenta mais de R$ 1 bilhão por ano. Mas atrai menos bancos.

Perto, mas fora da favela

Em 2017, a Caixa Econômica Federal encerrou as atividades na Rocinha, por conta de um conflito entre traficantes. Em agosto de 2019, reinaugurou uma agência, só que dessa vez instalou-se no prédio de um centro social que fica perto, mas fora da comunidade.

Os terminais de autoatendimento e a agência do Itaú nunca mais voltaram. Atualmente, dentro da favela, só continuam em funcionamento as agências do Bradesco e do Banco do Brasil. No entanto, elas não têm máquinas de autoatendimento disponíveis depois das 22h. O maior incômodo dos moradores é a redução dos caixas eletrônicos.

Produtos financeiros: 'Big techs' querem tomar conta do seu dinheiro

- Antigamente, era muito prático, porque tinha um caixa na farmácia, perto da minha casa. Agora, preciso me planejar com antecedência para fazer saques fora porque, se surgir uma emergência, pode não dar tempo de chegar ao caixa mais próximo - diz o morador Pedro Paiva, de 31 anos.

O historiador e morador Fernando Ermiro, de 48 anos, diz que o sumiço dos terminais eletrônicos mudaram sua rotina:

- Agora, quando preciso de dinheiro, tenho que pegar um ônibus para o Shopping da Gávea ou o Fashion Mall. Eu me sinto mais inseguro porque tenho que deixar minha vizinhança e andar com o dinheiro do saque no bolso. E ainda tem a perda de tempo.

Alternativas: Fintechs oferecem saques em lojas e supermercados

No fim de 2019, foram instalados caixas eletrônicos na estação de metrô São Conrado, a mais próxima da Rocinha, facilitando em parte a vida dos moradores. Um supermercado próximo dali também tinha uma máquina, mas o estabelecimento fechou temporariamente. Para Ermiro, essas alternativas fora da comunidade ainda não são suficientes para atender a toda a população:

- Esses caixas não dão conta. Além disso, falta manutenção e previsão de funcionamento. Você anda até lá e, muitas vezes, descobre que não estão funcionando.

Chinatown: Plano de criação de um bairro chinês quer revitalizar área no centro de São Paulo

Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, o fechamento de agências em bairros periféricos prejudica a inclusão dos mais pobres no sistema bancário. Segundo ele, 86% dos que não têm conta em banco no Brasil são das classes C, D e E:

- Fechar agências é privar essas pessoas dessa oportunidade de contato mais humanizado para se bancarizar.

*Colaborou Pedro Capetti