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Economia Pix

Com Pix, Brasil entra na onda mundial dos pagamentos instantâneos. Veja onde já existe e como funciona

Sistemas que permitem transações financeiras em segundos, a qualquer hora do dia, estão em operação em 56 países. Aqui começa em 16 de novembro
Na Tailândia, o uso de pagamentos digitais instantâneos é bastante difundido Foto: Amanda Mustard / Bloomberg
Na Tailândia, o uso de pagamentos digitais instantâneos é bastante difundido Foto: Amanda Mustard / Bloomberg

RIO – O lançamento do Pix , previsto para o dia 16 de novembro, colocará o país em linha com uma tendência mundial. De acordo com um relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) publicado em abril, existem redes de pagamentos instantâneos operando em 56 jurisdições, número que deve aumentar para 64 em poucos anos.

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Existem diferentes modelos em operação. Uns, como o brasileiro e o mexicano, foram implementados pelo governo; outros, como nos EUA e na China, diretamente por players do mercado.

Há ainda as redes combinadas, como na Austrália, onde o Banco Central local é um dos participantes.

— O lançamento do Pix em 2020 coloca o Brasil entre os mais avançados na implantação de pagamentos instantâneos regulados por governo no mundo — afirma Edlayne Burr, diretora da Accenture responsável por estratégias de pagamentos na América Latina.

Mas todos compartilham de um ponto em comum: a capacidade de realizar transferências e pagamentos em questão de segundos, a qualquer hora do dia, sete dias por semana, 365 dias por ano.

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Os resultados variam de país a país. No relatório, o BIS destaca que o Reino Unido e o Chile, que estão entre os primeiros a adotarem a tecnologia, processaram em 2018 cerca de 30 pagamentos per capita, enquanto sistemas mais recentes, como o da Suécia e o da Dinamarca realizaram 40 e 48 transações per capita, respectivamente.

. Foto: Editoria de Arte
. Foto: Editoria de Arte

Os impactos também variam entre os países, mas é constante a redução no uso de dinheiro em papel. Em algumas metrópoles chinesas, por exemplo, é raro flagrar compras que não sejam pagas com o celular. Na Suécia, uma pesquisa realizada em 2018 mostrou que apenas 13% dos suecos tinham usado dinheiro em compras recentes.

— A menor circulação de papel moeda gera maior controle do fluxo monetário no país, aumentando o cerco contra a lavagem de dinheiro, a sonegação, o tráfico e o contrabando — afirma Luciano Macaferri Rodrigues, diretor geral da Thales para o Brasil. — Além disso, ocorre uma inclusão financeira da parcela da população não atendida pelo sistema financeiro tradicional.

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Para o Brasil, a expectativa é alta. Em apenas dois dias mais de 10 milhões de chaves para o Pix foram cadastradas, faltando mais de um mês para o início das operações.

Alexandre Pinto, diretor de inovação da Matera, empresa que oferece soluções digitais para o mercado financeiro, destaca que, apesar de não ser pioneiro, o sistema que entrará em operação no país possui algumas características únicas.

A principal delas é a interoperabilidade. Na China, constantemente citada como exemplo no uso de pagamentos digitais, o mercado é dominado pelos aplicativos WeChat, da Tencent, e AliPay, do grupo Alibaba.

QR Code usado para pagamentos com o WeChat, em mercado popular na China Foto: Qilai Shen / Bloomberg
QR Code usado para pagamentos com o WeChat, em mercado popular na China Foto: Qilai Shen / Bloomberg

Nos EUA, o principal serviço é oferecido por um consórcio de 29 grandes bancos. Já o Pix será aberto para todos os players do mercado, de grandes bancos a pequenas start-ups.

— É uma característica única e bastante avançada, que deve facilitar a adoção do sistema — comenta Pinto. — Nos EUA, a rede é operada por um clubinho dos grandes bancos. Na China existe um duopólio. No Pix, são quase mil operadores apenas na primeira fase.

Inspiração para os EUA

Além disso, o Banco Central obrigou todas as instituições financeiras com mais de 500 mil clientes a participarem da rede. Dessa forma, o Pix deverá ter um volume grande de usuários logo no início, o que deve incentivar a adoção rápida do sistema por varejistas e prestadores de serviços.

Segundo o especialista, a rede brasileira é tão diferenciada que o modelo será adotado pelo Federal Reserve, o Banco Central americano, num sistema que deve ser lançado em 2023 ou 2024, o FedNow.

— Não tenho a pretensão de dizer que eles se inspiraram no Pix, mas o FedNow é muito parecido — diz Pinto. — Estamos pelo menos três anos à frente da rede que será criada nos EUA.