Exclusivo para Assinantes

Conheça o casal que ficou rico fazendo chá e teve 'um filho' de US$ 3,8 bilhões

Empresa que fabrica a bebida abriu capital na Bolsa de Hong Kong nesta semana e tem planos de abrir 300 lojas em 2021
Peng Xin e seu marido, Zhao Lin, ofereceram a casa do casal como garantia em um empréstimo bancário para fazer decolar seu negócio de chá de bolhas Foto: Bloomberg

HONG KONG — Em 2014, Peng Xin e seu marido, Zhao Lin, ofereceram sua casa como garantia em um empréstimo bancário para fazer decolar seu novo negócio de chá de bolhas (bubble tea, em inglês), conhecido também como chá perolado.

A empresa que fundaram, a Nayuki Holdings Ltd., abriu capital na última quarta-feira na Bolsa de Hong Kong e está avaliada em US$ 3,8 bilhões. Após o IPO (oferta inicial de ações na sigla em inglês) a fortuna do casal vale cerca de US$ 2,2 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

IPO: Monge budista que passou anos recluso prepara IPO de US$ 1,8 bi para sua start-up

— Não foi uma decisão imprudente — disse Peng, diretora executiva e gerente geral da empresa. Passamos quase dois anos testando nossas bebidas na rua antes de abrir nossa primeira loja.

A Nayuki, que começou com três filiais na cidade de Shenzhen, no sul da China, está crescendo no mercado de chás de alta qualidade, cuja maioria das receitas contém uma base de chá misturada com frutas ou leite, tendência que se expandiu para mais de 560 lojas em mais de 70 cidades, principalmente na China.

Po Lai (Polly) Tam, de 29 anos, veio para São Paulo há dez meses de Hong Kong com dinheiro para investir e decidiu abrir uma cafeteria: “Aqui se ganha mais e se trabalha menos” , diz a empresária, que sonha viver entre os dois países Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
O advogado Thomas Law preside o Instituto Cultural Brasil-China (Ibrachina) acredita que a Chinatown será um legado para a cidade de São Paulo Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Liu Sheanjiuan e Yili Wang gerenciam o curso de idiomas OiChina, no Rio de Janeiro. Mãe e filha aproveitam o crescimento do interesse dos brasileiros pelo mandarim, a língua dominante na China, com o aumento dos investimentos do gigante asiático no país nos últimos anos. Gostam de ir além do idioma e divulgar aspectos culturais do seu país natal. Elas também trabalham com traduções para empresas chinesas em busca de oportunidades no Brasil. Foto: ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
"A comunidade está muito mais aberta e participativa. Isso é bom para nós e para os brasileiros", diz Wong Chiu Ping, cardiologista de 83 anos. No Brasil desde 1951 — quando, aos 15, chegou com a família após 83 dias num navio, fugindo da revolução comunista —, virou um dos mais proeminentes membros da comunidade, após dirigir a cardiologia do Hospital da USP e atuar, até hoje, no hospital Sírio-Libanês. Foto: Divulgação / Acervo pessoal
Duas gerações que tocam uma padaria chinesa na Liberdade - Zhu Dongju, de 50 anos, conta que, quando montou sua padaria na Liberdade, o bairro japonês de SP, preferia dizer que seus produtos eram “asiáticos”. Hoje com sua filha Shileisma Su, de 20 anos, vê isso de forma bem diferente: “As pessoas sabem que somos chineses, vêm aqui por isso, e estão conhecendo mais a nossa culinária” Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Legado comunitário:Padre Lucas Xiao, da missão católica, passou metade de seus 48 anos no Brasil. Vê interesse de compatriotas em contribuir com o país nas doações: “Com um bom projeto educacional, sempre há dinheiro dos chineses” Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Maior visibilidade:Luo Xiaoting, jovem chinesa de 22 anos que estuda química no Brasil e trabalha num mercado chinês no Centro de São Paulo, vê hoje um orgulho maior de toda a comunidade no país: “As pessoas aqui estão nos reconhecendo” Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Após ter sido dono até de churrascaria na China, Liu Yi, de 31 anos, veio de vez para São Paulo há três meses para trabalhar numa fintech, uma start-up financeira: “Vejo que mudou o perfil dessa nova geração que chega ao país” Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

 

De secretária a empresária

O bubble tea foi criado em Taiwan na década de 1980 e, mais tarde, se tornou popular em outras partes da Ásia. Embora sejam frequentemente associadas a bolas de sagus de tapioca que representam as "bolhas" no nome, a versão de Nayuki geralmente contém diferentes itens, como frutas frescas ou coberturas de cream cheese.

A Nayuki, que arrecadou cerca de US$ 656 milhões em seu IPO, respondeu por cerca de 19% do mercado de estabelecimentos modernos de chá premium em 2020, informou a empresa em seu prospecto de IPO, citando um relatório da China Insights Industry Consultancy.

Conheça:   O chinês que desbancou Warren Buffett no ranking de bilionários

Está em segundo lugar no ranking. Outro player importante é a HeyTea, que foi criada em 2012 e tem capital fechado.

Peng, de 33 anos, conheceu e se casou com Zhao em Shenzhen, a cidade que serve como centro de tecnologia do país. Ela trabalhou como secretária-geral adjunta de uma empresa de software antes de iniciar a empresa.

Zhao, de 42 anos, presidente de Nayuki, trabalhou anteriormente em várias empresas de alimentos, incluindo a unidade de Shenzhen do Burger King. Cada um dos dois cofundadores possui cerca de 28% da Nayuki. A empresa não quis comentar sobre seu patrimônio líquido.

Chinesa Didi:  Dona do app 99 no Brasil levanta US$ 4,4 bi em IPO e chega a valor de mercado de US$ 80 bi

— Nossa família e amigos estavam preocupados conosco na época — lembra Peng, referindo-se a como eles ofereceram sua casa como garantia. — Mas nós e nossa equipe acreditamos em nossa escolha.

A empresa já se internacionalizou. Tem uma loja em Hong Kong e uma no Japão. E pretende abrir mais 300 filiais neste ano e outrass 350 em 2022, disse Peng. A maioria delas será um novo formato de loja chamado Nayuki PRO, que também vende café e itens de padaria para atrair funcionários dos escritórios vizinhos.

Nayuki tem lançado uma nova bebida todas as semanas desde o ano passado para fazer com que os clientes mais jovens voltem às suas lojas, disse Peng. Ela disse que a empresa obtém a maior parte de suas vendas online depois que o coronavírus mudou seus hábitos de consumo.