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Conheça start-ups que ajudam empresas a tirar políticas ESG do papel

Mais de 800 negócios tecnológicos no país têm como clientes grandes companhias que querem melhorar governança e adotar ações sustentáveis
Projeto Ituxi, no município de Lábrea (AM), onde ocorre a produção de créditos de carbono. Em funcionamento desde 2013 reúne famílias rurais de uma das regiões da Amazônia mais afetadas pelas queimadas e pelo desmatamento Foto: Divulgação
Projeto Ituxi, no município de Lábrea (AM), onde ocorre a produção de créditos de carbono. Em funcionamento desde 2013 reúne famílias rurais de uma das regiões da Amazônia mais afetadas pelas queimadas e pelo desmatamento Foto: Divulgação

RIO - A sustentabilidade ganha força no ambiente de negócios com as políticas ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) cada vez mais presentes nas estratégias das companhias, mas nem todas estão preparadas para colocá-las em prática.

Muitas estão recorrendo a outras empresas nessa adaptação, fomentando um mercado de serviços sustentáveis que atrai start-ups.

Um levantamento da plataforma Distrito mapeou, este ano, 802 negócios de base tecnológica com soluções ESG no Brasil. Em 2010, eram apenas 139. A maior parte ajuda grandes companhias a tirar ações do papel.

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Uma delas é a cleantech Trashin, que faz gestão de resíduos da coleta seletiva ao descarte. Sua plataforma digital conecta geradores de resíduos a cooperativas de reciclagem e indústrias de transformação.

Créditos de carbono

A start-up também oferece soluções de logística reversa para ajudar empresas a reduzir o impacto de embalagens no ambiente, por exemplo, e acumular créditos de reciclagem. Entre seus clientes estão shoppings e multinacionais de consumo como P&G e Unilever.

— Tivemos um crescimento importante durante a pandemia. Vejo que as empresas passaram a se preocupar mais com essas questões — diz Renan Vargas, um dos fundadores da start-up, que prevê triplicar o faturamento neste ano e concluir uma rodada de investimentos neste mês.

Já a Moss.earth é uma fintech focada no mercado de crédito de carbono, que já é regulado em vários países e busca atribuir um custo à poluição.

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Empresas que superam limites estabelecidos em cada setor têm que comprar créditos gerados por negócios que poluem menos que o teto ou atividades que compensam emissões de CO. A Moss.earth atua numa das franjas desse mercado, a de sistemas de crédito de carbono voluntário.

A start-up compra esses créditos de projetos de preservação de áreas na Amazônia, devidamente selecionados, e os revende por meio de uma plataforma. Entre os clientes estão três mil pessoas físicas em todo o mundo e 50 companhias, como iFood e Gol.

No caso da companhia aérea, a compensação será feita por meio do MCO2, token verde lastreado em blockchain, criado pela Moss.earth para neutralizar a emissão de CO2.

Após comprar a passagem, o cliente receberá um e-mail com o cálculo da emissão de carbono do trecho e com as orientações que permitem a compensação.O serviço é válido para voos nacionais e internacionais operados pela Gol.

De acordo com o fundador e CEO da fintech, Luis Adaime, cerca de R$ 75 milhões de reais já foram enviados para projetos na Amazônia em pouco mais de um ano.

Um dos beneficiados é o Ituxi, que reúne famílias em uma área de 150 mil hectares em Lábrea, no Amazonas, em torno do manejo sustentável de castanha-do-brasil e da produção de óleo de copaíba. A atividade ajuda a preservar a floresta numa das regiões da Amazônia mais afetadas pelas queimadas e pelo desmatamento.

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Na mira de investidores

Com pouco mais de um ano de existência, a Moss.earth entrou na mira de investidores e já obteve aportes de US$ 3,4 milhões, segundo Adaime, para quem esse tipo de mercado ainda está devagar no Brasil em comparação com países europeus, por exemplo:

— Estamos atrasados. Há uma percepção equivocada de que ESG é só ser bom com o meio ambiente. Vai além disso. É uma tese de longevidade das empresas e de evitar riscos.

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Segundo Tiago Ávila, líder do Distrito Dataminer, braço de inteligência de mercado do Distrito, as empresas percebem que buscar parcerias para cumprir novas exigências do mercado pode ser mais vantajoso, num primeiro momento, do que criar soluções próprias:

— A parceria com as start-ups é importante porque acelera a transição, em um momento em que as empresas estão aprendendo. Isso acelera a implementação de práticas sustentáveis.