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Coronavírus e guerra do petróleo: confira guia para lidar com a crise nos mercados

Especialistas indicam o que fazer com o seu dinheiro e seus planos de férias
Coronavírus e guerra de preços do petróleo afetam investimentos e viagens Foto: Editoria de Arte
Coronavírus e guerra de preços do petróleo afetam investimentos e viagens Foto: Editoria de Arte

RIO — Uma disputa entre a Arábia Saudita e a Rússia em torno dos preços do petróleo se somou à epidemia do novo coronavírus e fizeram as Bolsas globais desabarem na última segunda-feira. No caso do brasil, o Ibovespa fechou com queda de 12,17% , o maior tombo desde 1998. O cenário deixou os investidores receosos sobre o futuro de suas aplicações em renda variável. Já quem tinha planos de viajar para o exterior precisa lidar com a realidade de quarentenas e restrições a deslocamentos - e não sabe se conseguirá reaver o dinheiro gasto.

Somente neste ano, a Bolsa acumula desvalorização de 25,58%. Em 2019, o índice fechou com alta de 31,58%. Essa rápida mudança na tendência do Ibovespa faz com que os investidores vejam encolher seus investimentos em ações ou fundos multimercado. Os planejadores financeiros são quase unânimes a indicar cautela e sangue frio em momentos como este, mesmo que o cenário pareça irreversível.

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Confira, abaixo, um guia sobre como proteger seus investimentos e as informações sobre quais são seus direitos caso tenha viagem marcada para países com alta incidência de casos de Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus).

Renda variável

Mesmo com o Ibovespa acumulando perdas de 25,5% em 2020, indicação é manter os investimentos
Painel de ações Foto: Pixabay
Painel de ações Foto: Pixabay

A volatilidade dos últimos dias deve continuar, em meio à epidemia de coronavírus e à queda de braço entre Rússia e Arábia Saudita. Por isso, a recomendação para os investidores, principalmente aqueles que estão há pouco tempo na Bolsa, é ter calma e esperar a turbulência passar.

— O momento é muito incerto para se tomar uma decisão. Estamos recomendando cautela. Vemos mais espaço para queda, não é o momento de vender e realizar a perda, nem de comprar — diz Henrique Esteter, analista da corretora Guide.

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Além disso, os analistas relembram que retirar os recursos de investimentos em renda variável, neste momento, é uma alternativa muito arriscada por conta da dificuldade em reaver as perdas em outras modalidades de investimento.

Com os juros na mínima histórica (a Selic está em 4,25% ao ano, e o mercado projeta que ela pode encerrar 2020 em 3,75%), desmontar as aplicações em renda variável e migrá-las para a a renda fixa pode representar um caminho sem volta para reaver a quantia perdida.

Investimento de longo prazo

Analistas avaliam que as fortes perdas da Bolsa serão revertidas e que o momento atual é atípico
Operador da Bolsa de Nova York diante das fortes perdas causadas pelo coronavírus e a crise dos preços do petróleo Foto: Timothy A. Clary / AFP
Operador da Bolsa de Nova York diante das fortes perdas causadas pelo coronavírus e a crise dos preços do petróleo Foto: Timothy A. Clary / AFP

Na avaliação de Rafael Panonko, chefe de análise da Toro Investimentos, este momento de tensão nos mercados é atípico. Contudo, o especialista mantém uma visão otimista para a Bolsa de Valores no longo prazo. Ele ressalta que as ações voltarão a subir, ainda que seja difícil dizer quando.

O investidor precisa ainda ver se está confortável com o nível de risco em sua carteira. Quem está apavorado com a recente turbulência talvez esteja assumindo mais risco do que seria adequado a seu perfil.

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— Tomar mais risco não quer dizer ganhar mais dinheiro automaticamente, como alguns investidores foram levados a crer. Quem está exposto a renda variável está tomando risco de ter dias como este. É importante ter uma posição em renda variável do tamanho do seu estômago — afirma Arnaldo Curvello, sócio-diretor da Ativa Investimentos.

Em 2008, ano no qual o mundo se deparou com a crise das hipotecas nos Estados Unidos, o Ibovespa despencou 41,2% No ano seguinte, fechou com alta de 82,6%.

Os analistas destacam que os fortes impactos na Bolsa, normalmente, são seguidos por um período de altos ganhos.

Compra de ações

Especialistas avaliam que, neste momento, comprar ações diretamente não é uma boa alternativa
Ações negociadas em Bolsa de Valores Foto: Pixabay
Ações negociadas em Bolsa de Valores Foto: Pixabay

Neste momento de turbulência, a recomendação dos analistas é não investir diretamente em ações. Gestores profissionais conseguem lidar melhor com as oscilações do mercado e ver onde estão as oportunidades. Aplicadores conservadores devem ter uma exposição limitada à renda variável, algo em torno de 10% de sua carteira.

— Se o cliente não está confortável, não adianta segurá-lo. É melhor sair, mesmo com prejuízo, e investir em opções menos arriscadas. Como um fundo multimercado ou fundos imobiliários, que também são renda variável, mas têm menos volatilidade — explica Rodrigo Franchini, sócio e chefe de produtos da Monte Bravo.

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Para quem não se adapta às fortes emoções do mercado, ficar na renda fixa pode ser melhor. Nesse caso, títulos de dívidas de empresas e Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Agrícola (LCA), que são isentos de Imposto de Renda, são boas opções.

Viagens ao exterior

Recomendação dos especialistas é procurar os órgãos de defesa do consumidor
Turistas vestem máscaras ao visitar o Coliseu, um dos principais pontos turísticos da Europa Foto: Tiziana Fabi / AFP
Turistas vestem máscaras ao visitar o Coliseu, um dos principais pontos turísticos da Europa Foto: Tiziana Fabi / AFP

Segundo o chefe de gabinete Procon-SP, Guilherme Farid, quem já tem uma passagem aérea comprada e deseja cancelar ou postergar sua viagem em razão da preocupação com o coronavírus deve procurar o órgão de proteção ao consumidor.

Apesar de, nesse caso, a empresa aérea não ter culpa, a lei reconhece que a parte vulnerável da relação é o consumidor, de modo que é ele quem merece proteção especial.

— Nessa hipótese específica, que não tem previsão legal, faz-se necessário negociar com a empresa, que não pode se recusar a dar alternativas ao consumidor — opinou.

Troca ou reembolso

Segundo a assessora jurídica do Procon Carioca, Renata Ruback, sendo confirmado o surto da doença no país, o consumidor pode trocar, sem ônus, a passagem para outro dia e local ou, se preferir, obter o reembolso integral do valor pago pela tarifa, incluindo também as taxas:

— Como o cancelamento se dá em razão de uma doença epidemiológica que repentinamente afetou a região, sendo confirmada a possibilidade de riscos à saúde do consumidor, o mesmo não pode ser penalizado em virtude do cancelamento.