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Economia

Coronavírus: país tem 8,6 milhões de trabalhadores informais idosos ou doentes crônicos

Cerca de 1,7 milhão está nos dois grupos, os mais vulneráveis entre os profissionais sem proteção social
Idosos com trabalho informal estão entre as parcelas mais vulneráveis à crise do coronavírus Foto: Marcos Alves/13-08-2010
Idosos com trabalho informal estão entre as parcelas mais vulneráveis à crise do coronavírus Foto: Marcos Alves/13-08-2010

RIO - Há uma parcela dos trabalhadores informais no Brasil que é a mais vulnerável de todas . Muitos idosos ou pessoas com doença crônica , o que agrava os efeitos do coronavírus, trabalham por conta própria, sem garantia de renda se não trabalharem. Eles somam 8,6 milhões , ou 33% dos conta própria, de acordo com levantamento feito pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps).

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— São pessoas que vivem na pobreza, na informalidade e têm doenças crônicas. Esse trabalhador informal tem de ficar de quarentena. Tem de se encontrar uma maneira de o dinheiro chegar até ele, sem que precise trabalhar — afirma o economista Rudi Rocha, um dos autores do estudo, diretor de pesquisas do Ieps e professor da FGV-SP.

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A situação é mais dramática para 1,7 milhão dessa população de conta própria. Além de estar numa condição mais precária no mercado de trabalho, têm mais de 60 anos e também são doentes, segundo o estudo também assinado pelo ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga (sócio-fundador do instituto), por Beatriz Rache, Letícia Nunes e Miguel Lago.

Trabalho mais precário

A economista Ana Amélia Camarano, do Ipea, acrescenta que uma parte significativa dos idosos de 60 anos ou mais estão em trabalhos mais precários e de baixa qualificação.

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— Entre as mulheres de 60 a 64 anos, o que predomina é trabalho doméstico. Entre os homens, é a construção civil. Já é um grupo vulnerável pela idade e ainda tem que sair de casa para um trabalho de risco.

Ligia Bahia, médica sanitarista da UFRJ, diz que os idosos sem proteção social são os mais doentes:

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— Eles acumulam mais riscos à saúde. Muitos moram sozinhos e sequer têm rede social de apoio. É a população que merece mais cuidado. Não consegue produzir renda sem sair de casa para trabalhar.

Segundo Rudi Rocha, usar o cadastro do Bolsa Família, do Benefício de Prestação Continuada (BPC), de programas de que monitoram doentes crônicos e da Farmácia Popular são algumas maneiras de chegar à essa população mais vulnerável:

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— São base de dados que já estão na mão e podem fazer o dinheiro chegar rapidamente à mão das pessoas. O mais difícil é a parte da população que não é elegível a nenhum programa, que vai ficar sem renda depois de um mês.

Saúde comprometida

Na força de trabalho total, que inclui todas as formas de inserção no mercado de trabalho e os desempregados, o número de idosos e doentes crônicos é de 27,1 milhões.

Os pesquisadores consideraram para o estudo quem sofre de hipertensão, diabetes, insuficiência renal ou alguma doença no pulmão, como enfisema, bronquite crônica ou doença pulmonar obstrutiva crônica.