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Economia Coronavírus

Coronavírus: varejo e indústria investem para evitar estoques vazios com retomada de atividades

Para driblar os efeitos do fechamento do comércio, grandes redes investem na ampliação de centros de distribuição
Centro de distribuição da Via Varejo, em Jundiaí. A empresa comprou uma start-up de logística para reduzir custos e aumentar a agilidade Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Centro de distribuição da Via Varejo, em Jundiaí. A empresa comprou uma start-up de logística para reduzir custos e aumentar a agilidade Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

RIO - Na semana em que o comércio do Rio entrou em nova fase no seu processo de reabertura, uma verdadeira operação de guerra vem tomando conta da indústria e redes varejistas. Reuniões diárias, comitês de crise e número maior de centros de distribuição com atuação regional passaram a fazer parte da rotina das empresas.

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O objetivo é evitar a falta de estoque ou de determinados produtos — como já se verifica em parte do comércio após a reabertura — e driblar as dificuldades logísticas de um país com regras variadas para horário e funcionamento de lojas de acordo com a região.

Para lidar com o xadrez de múltiplos calendários de reabertura na flexibilização das medidas de isolamento, as empresas investem em comitês de crise para acelerar a tomada de decisões. No Sul, municípios que já haviam reaberto estão voltando atrás com o aumento nos casos de contaminação do coronavírus. É o caso de Porto Alegre e Foz do Iguaçu. Em Pernambuco, 85 cidades tiveram o calendário de reabertura adiado.

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Mapeamento da Covid-19

Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, 75% das companhias apresentam alguma dificuldade logística desde março. Assim, para driblar os efeitos do fechamento do comércio, grandes redes investem na ampliação de centros de distribuição.

A estratégia é atuar de forma regional, diz Guilherme Trotta, diretor comercial da Log, dona de galpões que funcionam como centrais de estoque. A alta é de 30% no aluguel de espaços, diz:

— As empresas estão alugando galpões em diferentes cidades do país para atender ao e-commerce e, agora, a lojas físicas das regiões próximas.

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Alexandre Machado, sócio-diretor da consultoria GS&Consult, diz que as grandes redes que tiveram bom desempenho na internet vão voltar a enfrentar a concorrência com a abertura do varejo físico. Por isso, estão reforçando sua estratégia logística.

— Muitos estão investindo em soluções variadas, como mecanismos de retirada de produtos na loja e sistemas que permitem ler todos os estoques ao mesmo tempo — diz Machado.

Assim, a C&A e a Renner começaram a mudar sua logística de forma gradual nas última semanas. As redes aproveitaram o tempo que o comércio ficou fechado para usar as lojas como centros de distribuição para vendas na internet.

Na rede Pernambucanas, a estratégia foi, desde o primeiro dia após o fechamento de todas as lojas, monitorar o avanço da Covid-19 em todos os municípios. Isso, diz Sergio Borriello, presidente da empresa, permitiu a preparação para ondas de abertura:

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— Conseguimos monitorar e ajustar o estoque. As restrições de horário colocam uma certa complexidade adicional ao modelo logístico.

Insumos por avião

A Via Varejo, dona de Casas Bahia e Ponto Frio, adquiriu, em abril, a Asap Log, start-up de logística, que faz a integração entre diferentes operadores. A ideia é reduzir os custos e agilizar as entregas. No Grupo Habib’s, o processo de pedido de produtos das lojas para a central passou de seis para 12 horas de antecedência.

— O desafio é a previsibilidade da demanda, influenciada pelas regras diferentes de flexibilização do isolamento — diz Mauro Saraiva, diretor de Operações.

Na General Mills, dona da Yoki, a pandemia exigiu uma logística flexível.

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— Desde março, problemas diferentes foram aparecendo, e tivemos que nos adequar. No início, os motoristas dos caminhões não conseguiam se alimentar, e passamos a doar comida. Criamos comitê de crise — conta Paula Proença, diretora de Logística da empresa.

Alexandre Ostrowiecki, presidente da Multilaser, fabricante de eletroeletrônicos, diz que, para não perder vendas, passou a trazer componentes por avião:

— Muitos produtos acabaram faltando. A abertura gradual com regras distintas é um desafio, pois muitos locais fecham suas estradas, o que acarreta prejuízos.

A crise atingiu todos os segmentos. A Royal Canin, de ração para cães e gatos, teve de traçar planos diários de entrega com base nas informações de reabertura das cidades. A empresa adotou ainda o software de uma start-up de logística para reduzir os custos e melhorar o serviço.

— Passamos a trabalhar de forma preventiva — diz Susicler Salum, diretora de Logística da Royal Canin.

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A fabricante de chocolate Mars, dona do M&M, passou a fazer reuniões diárias com as diferentes equipes para entender a melhor forma de entregar os produtos.

— Com base no cenário de abertura de algumas cidades, temos um plano de priorização dos nossos principais itens, que são aqueles que tem maior demanda — explica Cristiane Albuquerque, diretora de Logística da Mars.