Da medalha ao cachê: após sucesso nas Olimpíadas, atletas como Rayssa Leal e Ítalo Ferreira vão ao ouro na propaganda

De olho em atributos como superação e determinação, agências de publicidade disputam atletas para vender marcas assim como fazem com ex-BBBs
Rayssa Leal, a fadinha do skate, estrela campanha publicitária da Nike. Número de seguidores disparou Foto: Foto: Wander Roberto/COB / Agência O Globo

RIO - As Olimpíadas de Tóquio mal começaram e as agências de marketing já iniciaram uma verdadeira disputa pelos atletas.

Marcas de varejo, maquiagem, esmaltes, instituições financeiras, empresas de telefonia e até de streaming estão de olho em nomes como Rayssa Leal, a fadinha do skate, que levou a medalha de prata aos 13 anos na modalidade street , assim como Ítalo Ferreira, que se consagrou como o primeiro ouro da história do surfe nos Jogos Olímpicos.

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Na lista está ainda Douglas Souza, que integra a seleção masculina de vôlei, e vem “bombando” nas redes sociais.

Fontes do setor publicitário dizem que a sinalização é que o cachê dos atletas triplique ao menos nesses primeiros meses após os jogos.

Há quem compare esse interesse pelos esportistas ao gerado pelos participantes do Big Brother Brasil, que fez disparar a procura por campanhas de oportunidade logo após o fim do reality show .

O jogador de vôlei Douglas Souza fez sucesso nas redes sociais e foi contratado pela XP Foto: Divulgação
A jogadora de vôlei Rosamaria Montibeller fechou contrato para ser agenciada pela Mynd, empresa responsável por Douglas Souza Foto: Miriam Jeske/COB
Ítalo Ferreira levou o ouro no surfe em Tóquio e ganhou campanha da Oi Foto: Divulgação
Após prata no skate street em Tóquio, Rayssa Leal ganhou campanha da Nike no dia seguinte Foto: Divulgação
Fernando Scheffe conquistou o bronze na prova dos 200 metros livres e recebeu em dois dias 83 contatos de empresas Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA / Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Daniel Cargnin conquistou medalha de bronze no judô e está atraindo empresas de telefonia, marcas de material esportivo e produtos alimentícios Foto: Gaspar Nóbrega/COB/Divulgação / Gaspar Nóbrega/COB/Divulgação
Ana Patrícia e Rebecca, do vôlei de praia, fazem parte da equipe de atletas patrocinados pela TIM Foto: Divulgação
Os canoístas de prata Isaquías Queiroz e Erlon de Souza fazem parte da equipe de atletas patrocinados pela TIM Foto: Divulgação
O lutador de taekwondo Ícaro Miguel faz parte da equipe de atletas patrocinados pela TIM Foto: Divulgação

Uma executiva do setor deu o termômetro do interesse: novos contratos já estão sendo assinados e negociados no eixo Brasil-Japão.

A XP acaba de anunciar Douglas Souza, como o mais novo integrante do chamado Time XP. Em poucos dias, o atleta viu o número de seguidores nas redes sociais passar de cerca de 200 mil para quase três milhões.

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Alta meteórica teve Rayssa, que passou de 700 mil para seis milhões e ganhou campanha da Nike com o tema “Novas fadas” antes da final Olímpica.

Já Ítalo, que dobrou sua base de seguidores, para mais de dois milhões, ganhou campanha na Oi, uma das empresas que vem investindo no patrocínio do surfe e do skate como estratégia de marketing. Nas redes sociais, a operadora brinca dizendo que “tirou a maior onda possível”.

Uma marca de esmalte está interessada após o atleta competir com unhas pintadas.

Bloqueio polonês fomrado por Fabian Drzyzga, Mateusz Bieniek e Michal Kubiak contra ataque da equipe da Venezuela no vôlei masculino Foto: ANGELA WEISS / AFP
Jordan Chiles, dos Estados Unidos, durante a prova de trave da ginástica artística feminina no Centro de Ginástica Ariake, em Tóquio Foto: MARTIN BUREAU / AFP
Bradly Sinden (azul), da Grã-Bretanha, comemora a vitória na semifinal masculina de taekwondo de 68 kg contra o chinês Zhao Shuai Foto: JAVIER SORIANO / AFP
O britânico Adam Peaty durante a final do masculino de natação de 100m peito Foto: FRANCOIS-XAVIER MARIT / AFP
Tojonirina Alain Andriantsitohaina, de Madagascar, durante competição de levantamento de peso de 67 kg masculino Foto: VINCENZO PINTO / AFP
Sun Yingsha, da China, em jogo de tênis de mesa contra Xiaoxin Yang, de Mônaco, durante partida de tênis de mesa da terceira rodada do individual feminino Foto: JUNG YEON-JE / AFP
O nadador húngaro Tamas Kenderesi cospindo água antes da semifinal do masculino de natação borboleta 200m Foto: ATTILA KISBENEDEK / AFP
O belga Matthias Casse (branco) e o porto-riquenho Adrian Gandia na rodada de eliminação de 81kg do judô masculino Foto: JACK GUEZ / AFP

Felipe Kozlowski, head de parcerias do Instagram no Brasil, avalia que a ausência de público nos estádios tem impulsionado a conexão de torcedores e atletas nos meios digitais:

— Estamos vivenciando um dos eventos mais digitais com as Olimpíadas de Tóquio. E os atletas estão sabendo aproveitar esse palco para construir suas audiências e, consequentemente, atrair a atenção das marcas — avalia Kozlowski.

Dario Menezes, diretor executivo da Caliber, empresa de gestão de reputação de marca, destaca que as redes sociais potencializaram o fenômeno do marketing de oportunidade:

— Como hoje muitas das empresas vivem no imediatismo e não pensam no longo prazo, essa é uma estratégia que veio para ficar. Mas a história demonstra que a alquimia de médio e longo prazo é muito melhor.

Em dois dias, 83 contatos

O judoca Daniel Cargnin, que conquistou medalha de bronze, já é procurado por diferentes marcas, como empresas de telefonia, marcas de material esportivo e produtos alimentícios. Antes de participar de sua primeira Olimpíada, ele tinha apenas duas parcerias.

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Rodrigo Passos, diretor da RSP Sports, empresa de gestão e assessoria esportiva, diz que uma série de empresas têm procurado o nadador Fernando Scheffer, que conquistou o bronze na prova dos 200 metros livres:

— Em dois dias recebi 83 contatos. Agora todo mundo quer se aproveitar desse momento.

Douglas Souza passou de 200 mil para 3 milhões de seguidores Foto: COB

  É assim que as agências de publicidade já estão “cotando” os nomes das novas celebridades para campanhas de diversos setores. Uma marca de sandálias desenvolve campanha para sua linha infantil e está de olho em Rayssa.

— Os atletas geram esse interesse institucional das marcas porque possuem atributos como superação e determinação. São aspectos importantes nesse momento porque superaram obstáculos na pandemia — disse Marilena Senra, sócia da agência PeoplenBrands — celebridades e negócios.

A Mynd, agência especializada em marketing, acaba de contratar nomes como Douglas e Rosamaria Montibeller, ambos de vôlei. A agência também deve fechar com novos nomes do mundo esportivo, e as negociações estão a “pleno vapor”.

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A TIM pretende aumentar os investimentos nos próximos anos. Hoje, a empresa patrocina pela primeira vez atletas na vela, canoagem, vôlei de praia e Taekwondo.

— Começamos a campanha um pouco antes do início dos Jogos e essas surpresas que estamos vendo são ótimas, com os atletas dando um show de autoconfiança — disse Ana Paula Castello Branco, diretora de Comunicação da empresa.

A tatuagem dos anéis olímpicos do nadador Anton McKee, da Islândia Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP
Tatuagem dos anéis olímpicos no pé da canadense Jennifer Abel, atleta de saltos ornamentais Foto: ODD ANDERSEN / AFP
A ginasta italiana Vanessa Ferrari Foto: LOIC VENANCE / AFP
A britânica Kirsty Gilmour, do badminton Foto: PEDRO PARDO / AFP
Alexandra Mirca, da Moldávia Foto: ADEK BERRY / AFP
O nadador Adam Peaty, da Grã-Bretanha, tem um leão tatuado no braço esquerdo Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP
A boxeadora italiana Irma Testa Foto: FRANK FRANKLIN II / AFP
Uma tatuagem da brasileira Rebecca Silva, do vôlei de praia Foto: YURI CORTEZ / AFP
Emily Seebohm, da Austrália, e sua tatuagem dos arcos olímpicos desenhado nas costas Foto: FRANCOIS-XAVIER MARIT / AFP
A jogadora de basquete dos EUA Brittney Griner Foto: THOMAS COEX / AFP
O nadador Caeleb Dressel, dos EUA Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP
A brasileira Larissa Fais Munhoz Araújo, da equipe feminina de handebol Foto: DANIEL LEAL-OLIVAS / AFP
A tatuagem do americano Bowen Becker Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP
O ginasta russo Artur Dalaloyan Foto: LOIC VENANCE / AFP
O skatista Manny Santiago, de Porto Rico Foto: JEFF PACHOUD / AFP
Welson Sim, da Malásia Foto: OLI SCARFF / AFP
Tatuagem do nadador Joseph Schooling, de Cingapura Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP

Geração Z e novos nomes

Na Oi, segundo Livia Marquez, diretora de Comunicação e Mídia da tele, o esporte aumenta o engajamento da marca nas redes, o que demonstra a popularidade do surfe e do skate, por trazer proximidade à vida das pessoas:

— Esporte faz parte da essência da marca. Vejo com bons olhos essa união.

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Mas as próprias agências comentam nos bastidores que ainda há espaço no orçamento para as promessas que estão por vir ainda, como Rebeca Andrade, ginasta que é uma das favoritas à medalha na ginástica olímpica. Tem ainda a boxeadora Bia Ferreira.

— A edição de Tóquio é provavelmente o primeiro evento de grande magnitude para milhões de consumidores da Geração Z. São jovens que nunca conceberam o planeta sem celular — disse Gustavo Viana, diretor de Marketing da Fisia, distribuidor oficial da Nike do Brasil.