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Economia

Eleva fica mais perto do maior do mundo em educação básica, após compra de escolas como pH e Pitágoras

Com expansão, grupo de Jorge Paulo Lemman amplia número de alunos para 120 mil. Líder mundial, que não atua no país, tem 150 mil, segundo especialistas
Eleva, de Jorge Paulo Lemman, consolida força no Rio com compra de colégios como pH e Pitágoras Foto: Agência O Globo
Eleva, de Jorge Paulo Lemman, consolida força no Rio com compra de colégios como pH e Pitágoras Foto: Agência O Globo

SÃO PAULO — Ao comprar 51 colégios da Cogna , a Eleva Educação, que tem como investidor o bilionário Jorge Paulo Lemann, consolida sua força no Rio de Janeiro, onde passa a administrar colégios como pH, Pitágoras e Leonardo Da Vinci, e aumenta as chances de se tornar o maior grupo de educação básica do mundo em número de alunos,.

Com a expansão, o grupo amplia o número de alunos para 120 mil. Hoje, a líder mundial na educação básica é a Jems Education, que não opera no Brasil, e tem 150 mil alunos, de acordo com especialistas do setor.

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O negócio foi anunciado na segunda-feira pelas duas companhias. A Eleva vai pagar R$ 964 milhões pelas escolas, sendo R$ 625 milhões em dinheiro, divididos em parcelas por cinco anos com reajuste pelo CDI.

O restante será quitado por meio de debêntures conversíveis em ações que devem ser quitadas em 30 meses.

Por outro lado, a Cogna, por meio de sua controlada Vasta, vai comprar por R$ 580 milhões o sistema de ensino da Eleva. As transações ainda precisam passar pela aprovação do Cade, órgão antitruste brasileiro.

São 18 marcas a serem incorporadas pela Eleva, entre elas Colégio pH, Centro Educacional Leonardo da Vinci, Colégio Lato Sensu, Sigma e Colégio Pitágoras.

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A Eleva surgiu em 2013 com a fusão das redes de ensino Elite e Pensi, com atuação forte no Rio de Janeiro. Desde então, ampliou o número de marcas e colégios. No Rio, a empresa tem ainda as escolas Eleva e Batutinhas, de alto padrão.

Mais aquisições à vista

A empresa começou o ano operando 132 escolas que somavam 88 mil alunos matriculados. Com a entrada das 51 unidades da Vasta serão 120 mil alunos.

O diretor-executivo da Eleva, Bruno Elias, afirma que a companhia avalia fazer mais aquisições neste ano, mas também deverá crescer organicamente.

— Escolher o ativo é importante e somos certeiros na qualidade. Em momentos de pandemia, a oportunidade vem de negócios de qualidade (cujos donos) não pensavam em vender e que agora repensam isso em meio à pandemia — diz ele.

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— O ramo de escolas é onde a gente começou, é um mercado enorme, fragmentado e com pouco profissionalismo. Mesmo com a aquisição dos colégios, não chegamos a ter 1,5% de participação de mercado nacional — afirma Elias.

Segundo Duda Falcão, uma das fundadoras da Eleva, São Paulo é um dos mercados em que a empresa quer crescer.

— A gente vai continuar olhando outras oportunidades de aquisição. Não tem um lugar específico, mas namoramos São Paulo com mais intensidade, podemos aumentar a nossa posição ali nos próximos meses e anos — diz ela.

O acordo anunciado na segunda-feira prevê ainda venda, pela Eleva, da plataforma de ensino criada pela empresa em 2014 para a Vasta, empresa controlada pela Cogna e que já detém os sistemas Anglo, pH, Par, Pitágoras, Ético, Maxi e Rede Cristã.

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— O material didático contribui muito, mas o que diferencia as escolas são as pessoas e os processos pedagógicos da porta para dentro. Vendemos o sistema com um acordo para uso de plataformas com várias regras, uma de entrega (de qualidade). A Vasta tem sistemas que podem ser usados em nossas escolas conforme formos expandindo — diz Elias.

A transação prevê que a marca Plataforma de Ensino Eleva seja licenciada para a Vasta até 2023. Já as escolas da Eleva passam a adotar sistemas de ensino da Vasta por dez anos, com exceção dos colégios de elite da plataforma, como a Escola Eleva (com unidades no Rio, em Brasília e Recife), Os Batutinhas (no Rio) e Gurilândia (em Salvador).

Para o executivo da Eleva, as aquisições trazem ao grupo uma nova vertente de negócios, de colégios com mensalidades entre R$ 1.500 e R$ 3.000.

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— A gente divide o grupo hoje em escolas com mensalidades entre R$ 600 e R$ 800 em um grupo; as de excelência, (que cobram) valores de R$ 1000 a R$ 2000; e as chamadas premium, de R$ 4 a R$ 5 mil (de tíquete médio). As escolas da Saber (Cogna) se posicionam em um outro mercado — explica.

Leonardo Nascimento, sócio-fundador da Urca Capital Partners, que atuou na compra do colégio Elite pelo fundo Gera Venture Capital, de Lemann, diz que a Eleva ganha musculatura em locais importantes, especialmente no Rio.

— Em algumas praças, como no Rio de Janeiro, a empresa ganha grande força, pois tem Elite, Pensi, Eleva e Ph. Outros grupos com atuação no Rio, como o Raiz Educação, ficam prejudicados — ressalta.

A Eleva também tem grande potencial de crescimento na visão de Leonardo Toscano, sócio da consultoria Excelia, especializada em fusões e aquisições.

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— Já é o maior grupo de educação básica do Brasil em número de alunos, com 120 mil. Poderá se tornar a maior do mundo em breve. A líder hoje é a Jems Education, que não opera no Brasil, e tem 150 mil alunos — afirma Toscano.

A venda do sistema de ensino Eleva para a Cogna, de acordo com ele, dá maior foco ao grupo.

— O sistema deles é talvez o melhor do país hoje, leva as escolas que o utilizam a se comprometer com performance crescente, por exemplo, mas é um negócio que não é o cerne da estratégia da companhia. A empresa prioriza escolas.

Para ele, a Eleva faz bom negócio ao comprar colégios bons, tradicionais e com rentabilidade aquém da potencial.

— Em quatro anos, provavelmente vai aumentar muito o EBITDA (lucro antes de antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do negócio com os ganhos de escala e as sinergias possíveis — diz.

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— Já a Cogna tem um endividamento considerado alto e precisa tomar providências para aumentar lucro e caixa. Os colégios administrados pela (sua controlada) Vasta tinham rentabilidade surpreendentemente baixa. A Vasta (controlada pela Cogna) vai se concentrar no negócio de sistemas, que pode ter margem maior — ressalta Toscano.

Para Leonardo Nascimento, a estratégia da Cogna pode ser aumentar a rentabilidade da Vasta ao aumentar sua participação no mercado no segmento de sistemas de ensino. A controlada do grupo abriu capital em Nova York no ano passado.

— A operação trouxe um negócio com mais margem para a Vasta, se o EBITDA aumentar, melhora o valor de mercado da empresa. A Vasta poderá fazer follow on (oferta secundária de ações), o que traria mais recursos para a Cogna e reduziria seu endividamento — diz.