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Economia Emprego

Maior número de start-ups no Rio são do setor financeiro e de educação

Levantamento inédito mostra que estado tem 398 empresas inovadoras, e que a maioria são Fintechs e edtechs
A sede da fábrica de Startups, no Porto Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo
A sede da fábrica de Startups, no Porto Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo

RIO - O Rio se tornou um pólo de start-ups de educação . De acordo com um levantamento inédito feito pela prestadora de serviços profissionais KPMG, em parceria com a consultoria Distrito, as edtechs (empresas dedicadas a desenvolver soluções para a educação, tendo a tecnologia como principal ferramentadas) representam 12% das start-ups no estado . Para efeito de comparação, em Santa Catarina, um dos “ecossistemas” mais inovadores do país, somente 4,3% das start-ups mapeadas são do setor de educação.

— Historicamente, o Rio já esteve entre as cidades com maior proporção de mestrandos/doutorandos e temos aqui as principais universidades do Brasil. Por outro lado, o maior combustível para um empreendedor construir algo grande é ter problemas ao seu redor, e o estado tem diversos no campo da educação — analisa Hector Gusmão, CEO da Fábrica de Startups, uma das parceiras do estudo.

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Um das edtechs cariocas, a Passei Direto, tem como objetivo a longo prazo “transformar a educação no Brasil”, segundo afirma por Rodrigo Salvador, CEO e cofundador da empresa. Com 20 milhões de visitas/mês, a rede social acadêmica foi criada em 2007 e é focada majoritariamente em estudantes universitários. Vem, contudo, expandindo seus serviços ao ensino médio e à educação continuada.

— Já existia uma rede social (Facebook), uma rede profissional (LinkedIn). Decidimos então criar a rede de estudos — explica Salvador, lembrando que empreender no Rio não foi tarefa fácil nos últimos anos. — Alguns talentos ainda resistem a vir para o Rio, mas a parte boa é que conseguimos atrair e reter ótimos funcionários. A cidade continua maravilhosa e o ecossistema de start-up está aquecendo por aqui.

Janine Rodrigues, escritora carioca que virou referência na abordagem da cultura negra na literatura infantil Foto: Luca Ayres / Divulgação
Janine Rodrigues, escritora carioca que virou referência na abordagem da cultura negra na literatura infantil Foto: Luca Ayres / Divulgação

Já a Piraporiando, editora de obras infantojuvenis e promotora de projetos pedagógicos focados na diversidade, foi fundada no Rio e, recentemente, abriu uma filial em São Paulo. Criada por Janine Rodrigues, a start-up de educação teve um crescimento de 25% em relação aao ano passado.

— O público do Rio sempre nos abraçou indo aos eventos, comprando livros e nos recebendo em escolas. Fizemos parte do Rio Criativo (ambiente de inovação do governo estadual) e tivemos muito apoio — explica Janine.

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As fintechs (start-ups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro) dividem com as edtechs a liderança no número de start-ups no estado.

Para Tiago Avila, líder de produto do Distrito Dataminer — a divisão do Distrito responsável pela elaboração de estudos do ecossistema de start-ups — a crise financeira do Rio abriu oportunidades de criação de novos negócios.

— O fato de a economia do Rio ter dado uma balançada, abriu diversos gaps , inclusive no setor financeiro. Surgiram soluções para melhorar a eficiência das grandes empresas — salienta Avila.

Um exemplo é a carioca BizCapital, fintech de crédito voltada para micro e pequenas empresas.

— Conseguimos liberar o dinheiro muitas vezes no mesmo dia, o que é extremamente rápido quando comparado a bancos e financeiras tradicionais — afirma o CEO Francisco Ferreira

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Ainda de acordo com o levantamento, o Rio hoje tem 359 start-ups, 85% delas na capital. A maioria foi criada entre 2010 e 2017 — período de boom com a chegada de investidores externos. De acordo com o Índice de Cidades Empreendedoras feito em 2017 pela Endevor, o Rio é campeão no quesito inovação, mas ficou em sexto lugar no ranking das melhores cidade para empreender no país. São Paulo está na liderança.

— São Paulo tem um volume grande de disponibilidade capital de risco e exposição global no mundo dos negócios. Mas no fim, estamos a uma ponte aérea de distância — brinca Gusmão.

Falta incentivo do governo

Na opinião dos especialistas, faltam iniciativas governamentais para estimular a criação de empresas. No âmbito federal, Gusmão elogia ações como normas para órgãos reguladores de indústrias, como O&G e Energia, incentivar um maior relacionamento com start-ups, linhas de investimento por meio do Sistema S, leis que desburocratizam o ambiente para as start-ups, desde fomento a soluções para IoT (BNDES), até o capital de risco (Finep e Lei do Investidor Anjo). Mas, no estado e no município, ele considera que as iniciativas são raras e ineficientes.

— O fomento ao empreendedorismo é o caminho para a prosperidade por meio de soluções para desafios sociais, de mercado e de geração de renda. O Rio precisa disso para diversificar a sua economia e se o tema não for tratado com a devida seriedade pelo ambiente público, dependeremos sempre de indústrias que têm o tempo contado — acredita o CEO da Fábrica de Startups

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Lygia Magacho, mestre em Gestão de Empresas pelo IAG PUC-Rio concorda e cita iniciativas pontuais do governo do estado por meio da Faperj para incentivar a inovação:

— Pela ótica da tripla hélice (universidade, empresas e governo), o Rio precisa se reestruturar para garantir um ambiente propício à inovação e à geração de start-ups. Temos vocações e bons atores que precisam melhorar sua estima, e suas relações institucionais, para construir um sistema integrado que permita ao estado crescer novamente.

A plataforma online One Touch Spa, desenvolvida pelos cariocas Leonardo Roriz e Marcos Reis, sabe a importância do apoio governamental. A empresa foi selecionada, dentre mais de 5 mil startups, para o programa de aceleração “BNDES Garagem”, que dá apoio financeiro, técnico e mentoria para o desenvolvimento de projetos inovadores. A empresa é um “spa corporativo personalizado” que oferece serviços de spa, como massagem, on demand para as empresas.

— No programa de aceleração, vendemos nossos serviços a empresas que os procuram para oferecer aos seus colaboradores. E, durante o programa, tivemos a oportunidade de criar uma parceria com a empresa onde estávamos, e desenvolvemos uma plataforma personalizada onde os membros que trabalham no prédio podem acessar e pagar pelas atividades ali oferecidas. Hoje estamos nas 4 unidades no Rio e também em Porto Alegre — explica Leonardo Roriz.