Exclusivo para Assinantes
Economia Emprego

Profissionais usam as férias para estudar outros idiomas fora do país

É preciso considerar custos, destino, moeda e objetivo profissional
Renata vai para Londres estudar inglês durante as férias: “esse tempo vai me ajudar no desenvolvimento da minha carreira, tanto no trabalho quanto na minha pesquisa de doutorado” Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Renata vai para Londres estudar inglês durante as férias: “esse tempo vai me ajudar no desenvolvimento da minha carreira, tanto no trabalho quanto na minha pesquisa de doutorado” Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO — Daqui a algumas semanas, a tecnologista em detecção precoce do câncer Renata Maciel embarcará para Londres para realizar um sonho antigo. Mesmo estudando inglês durante anos, ela tinha muita vontade de fazer um intercâmbio para vivenciar o dia a dia na língua estrangeira, além da experiência em si. Mas nunca dava certo.

— Ou eu não tinha tempo, ou era muito caro — conta ela.

Agora, já bem empregada e fazendo um doutorado, em que lê com frequência textos em inglês, Renata viu nos dias de férias a chance de tirar o sonho da gaveta.

Assim como ela, muitos profissionais aproveitam o período de “descanso” para estudar no exterior, tanto para aprender um novo idioma quanto para se aperfeiçoar, ou ainda para fazer cursos profissionalizantes, como de negócios e de marketing.

VEJA TAMBÉM:

Escolas oferecem pós e MBAs de seis meses a um ano

Pós: ensino a distância cresce no país, mas ainda enfrenta desconfiança

O plano B: Profissionais transformam seus projetos secundários em principal fonte de renda

Profissionais contam o que fizeram para tirar seus períodos sabáticos

A gerente executiva da Caixa Patrícia Corrêa já passou por esta experiência e diz que valeu muito a pena ficar um mês em Dublin, na Irlanda. Para ela, que diferentemente de Renata não foi através de uma agência, o melhor do seu planejamento próprio foi ter escolhido uma escola com poucos alunos brasileiros.

— Já que é só um mês, tem que se misturar ao máximo com pessoas locais e de outras culturas para falar o idioma. Não é que voltei 100% fluente, mas ajudou muito. Eu estudei por anos e vi que o que mais valeu neste mês foi praticar. Ao estar lá, você tem que se virar, e isso te leva a desinibir e a conversar o tempo inteiro, porque precisa se virar. O intercâmbio me deu mais fluência, valeu muito a pena — conta.

Os programas de quatro semanas — incluindo curso, passagem hospedagem e alimentação — custam, em média, entre R$ 10 mil e R$ 12 mil, mas podem variar muito conforme o destino e tipo de pacote. O inglês ainda é o curso mais procurado para este tipo de intercâmbio, sendo que Estados Unidos e Canadá são os queridinhos dos brasileiros, especialmente Nova Iorque, San Diego, Toronto e Vancouver.

As razões para escolher um destino são quase sempre pautadas pelo custo, pela necessidade de tirar visto e, no caso dos brasileiros, principalmente pela possibilidade de pode viajar para cidades vizinhas. Segundo a gerente de produto de curso da CI, Luiza Vianna, o Canadá é o destino número um há mais de uma década, pois o dólar canadense tem uma cotação mais baixa que o americano.

Em seguida, diz Luiza, vem Nova Iorque, que, mesmo sendo cara, é o sonho de muitos brasileiros por ser cosmopolita e tão famosa, e Londres, apesar do valor da libra ser alto e limitar um pouco o acesso. Mas ainda assim chama a atenção por ser na Europa, o que permite viagens para outros países com facilidade.

Desinibição. Patrícia diz que estar em outro país a forçou, positivamente, a conversar em inglês  Foto: Acervo pessoal
Desinibição. Patrícia diz que estar em outro país a forçou, positivamente, a conversar em inglês  Foto: Acervo pessoal

Renata, por exemplo, preferiu a Inglaterra pela mistura de fatores e, mesmo pesquisando na internet, preferiu ir por agência.

— Me senti mais segura porque está tudo detalhado. Onde chego e vou ficar, o que e quando vou estudar. Eu poderia ir apenas viajar, mas acho que usar este tempo para estudar na Inglaterra vai me ajudar muito na pesquisa de doutorado e no meu trabalho. Mas é também uma experiência que quero ter — diz ela.

Já Patrícia quase não entrou na Irlanda, pois ainda não tinha a matrícula feita ao se apresentar na imigração.

— Eu fiz tudo por conta: procurei as escolas, me hospedei em hostel... Mas não fiz esta matrícula e quando perguntaram o motivo da minha visita e eu disse que era para estudar, mas estava sem documentação adequada, deu problema. Tem que ver as regras antes de sair do Brasil, porque faz toda diferença — lembra Patrícia.

CONFIRA:

Quer trabalhar no exterior? Países como Austrália, Canadá e Alemanha têm oportunidades para mão de obra qualificada

Saiba como se preparar para trabalhar no exterior

Por isso, ao decidir usar as férias para estudar, o profissional tem que considerar todos estes pontos e também a carga horária do curso e o que aquilo vai lhe acrescentar na carreira ou vida pessoal. O diretor nacional de vendas da STB, Rui Pimenta, diz que uma característica comum aos alunos brasileiros é querer ter segurança em todos os detalhes ao sair do país.

— O brasileiro já que sair daqui com tudo organizado, sabendo do curso, da acomodação, do seguro de viagem. Ele precisa entender como vai funcionar para se sentir seguro — afirma Rui.

Uma curiosidade é que as escolas estrangeiras também têm investido em pacotes especiais para os brasileiros.

— As escolas têm uma tabela diferenciada para o Brasil porque sabem que tem muita gente que procura e que a valorização da moeda é muito baixa, então se adequam aos preços — diz.

Segundo ele, há dois públicos predominantes que procuram estes cursos rápidos para as férias. No caso dos mais novos, geralmente é para fazer um curso profissionalizante que tenha a ver com a faculdade que estão fazendo. Já os mais experientes querem aprimorar o inglês, pois sentem falta da fluência no dia a dia de trabalho.

PREFERÊNCIA TAMBÉM POR MARKETING E NEGÓCIOS

A estudante de engenharia de produção Lindsay Castellar faz parte do primeiro grupo. Ela ainda está na faculdade, mas já quis fazer um intercâmbio nas férias. Ficou um mês e meio em São Francisco, na Califórnia, onde estudou business management (gerência de negócios). Para ela, os dias nos Estados Unidos ajudaram a aumentar o vocabulário e a pensar mais rápido em inglês.

Luiza Vianna, gerente de produto de curso da CI, está há 20 anos no ramo e diz que a maior procura ainda é por cursos de curta duração. Contudo, a procura pelos de longo prazo vêm crescendo, especialmente por quem usa a rescisão da demissão para fazer o ano sabático.

Em São Francisco. Lindsay ficou um mês e meio e aumentou o vocabulário e agilidade para falar inglês Foto: Acervo pessoal
Em São Francisco. Lindsay ficou um mês e meio e aumentou o vocabulário e agilidade para falar inglês Foto: Acervo pessoal

Segundo ela, muitos profissionais que procuram estudar nas férias têm o mesmo desejo de Patrícia: escolas com poucos brasileiros. Outro ponto recorrente é a insegurança com o inglês limitado antes de ir e a preocupação com a limpeza onde ficarão hospedados.

— Os cursos mais procurados são de General English , mas temos alguns alunos que optam por cursos de liderança e business . Nesses casos, as aulas são voltadas para as áreas de trabalho ou atuação. Nas aulas, os estudantes trabalham textos, situações e vocabulário da área. Também existem cursos específicos para as áreas médica, jurídica e de artes, mas a procura é menor — diz Maria Eugênia Sanson, diretora acadêmica da Cultura Inglesa.

Na STB, por exemplo, além dos tradicionais pacotes de idiomas, são ofercidos outros com estudo de inglês para negócios em Toronto; curso de fashion design em Miami; empreendedorismo criativo em Londres e aulas durante uma semana para aprender francês e sobre vinhos, em Bordeaux, na França.

— O mais procurado para férias é o curso de inglês. E o perfil mais comum é de profissionais liberais e das áreas de marketing e negócios. Cerca de 60% deles querem melhorar o currículo — afirma Luiza.

Usar o tempo de férias para estudar é algo positivo para carreira e vida pessoal, mas é importante que o profissional não confunda pesos e medidas.

PESO NA CARREIRA

A consultora de RH IIPSI Monica Portella, pondera que muitas vezes o profissional acredita que um diploma de um mês terá um peso semelhante ao de uma pós ou de uma instituição de renome. Mas, na verdade, não tem.

— Um curso de um mês não vai tornar ninguém fluente. De acordo com pesquisas, o cérebro precisa de, ao menos, quatro meses para isso. Se for fazer curso numa universidade de verdade ou uma pós ou MBA, vai agregar muito mais para o currículo. Um curso rápido não pesa tanto.

A consultora de RH Silvina Ramal também lembra que um intercâmbio de férias não deve ser apresentado com o mesmo peso de um curso de longa duração numa instituição de renome e nem da salvação da fluência. Entretanto, ela pondera que a atitude é muito bem vista pelas empresas quando o profissional estudou o idioma por anos e usa as férias para buscar um aperfeiçoamento.

— Estes cursos proporcionam um bom networking , enriquecem culturalmente e mostram o esforço do profissional em crescer. Ele sai da zona de conforto e amadurece.

Ela cita, ainda, um outro tipo de intercâmbio: o de trabalho voluntário. — No currículo, isso chamaria muito a atenção de um recrutador, pois demonstra a visão global e a preocupação do profissional com o mundo em que ele vive, além da questão da diversidade. Alguém que usou as férias para servir, certamente está aberto para o diferente.

ANTES DE FAZER AS MALAS, AVALIE :

O CURSO

Primeiro, avalie o que pretende. Não vale a pena estudar inglês sem saber o básico. Veja se é melhor um curso de idiomas ou profissionalizante e procura uma escola boa e, de preferência, com pouco brasileiros;

O DESTINO

Para escolher onde, avalie a moeda e a sua cotação, se precisa de visto e como tirá-lo, o clima do período em que pretende ir e se é possível viajar por perto;

OS CUSTOS

O custo varia, mas, em média são uns R$ 10 mil a R$ 12 mil para estudar um mês, com passagem, hospedagem (casa de família, ou acomodação estudantil), comida e seguro-viagem.