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Economia Emprego

Proposta para proibir a prática de coaching será debatida por senadores

Sugestão feita por cidadão ganhou 24 mil assinaturas em plataforma participativa
O papel do coaching será debatidos Foto: Pixabay
O papel do coaching será debatidos Foto: Pixabay

RIO - A plataforma de propostas populares de lei no Senado, chamada de E- cidadania, recebeu uma sugestão de proibição e criminalização do coach. O autor da proposta, o sergipano William Menezes, diz que a medida busca evitar “charlatanismo” que seria cometido por profissionais da área. A sugestão de Menezes já recebeu mais de 24 mil assinaturas, e será encaminhada para a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.

— A atitude deste cidadão ecoa como um ponto de alerta importante para as pessoas, quanto às práticas inadequadas do coaching no mercado. Entretanto, não se pode considerar que todos os coaches sejam charlatões. Portanto, coibir a prática é algo muito complicado, pois no mesmo mercado que habitam profissionais embusteiros com formações insipientes existem coaches seríssimos, com formação adequada e embasada fortemente nos princípios éticos, humanos e técnicos —considera professora Anna Cherubina Scofano, coordenadora do curso de Analista em Recursos Humanos da FGV.

O crescimento da oferta (quem não conhece um coach?), técnicas questionáveis como “reprogramação de DNA” e “Cura Quântica”, a ausência de uma regulamentação, de um órgão fiscalização e de uma formação educacional deixam a atividade em xeque. O crescimento da metodologia — que é indicada para quem deseja alcançar objetivos específicos, desenvolver habilidades, aprimorar competências e atingir resultados — está longe de ser algo tipicamente brasileiro; o mercado movimenta mundialmente US$ 2,3 bilhões. No entanto, a crise nacional deu um empurrãozinho no aumento da oferta.

— Executivos de grandes empresas que foram demitidos viraram coach ou consultores. Muitas vezes, são profissionais bons no que faziam anteriormente, mas sem a técnica necessária para ser um coach. — considera o professor Marco Tulio Zanini, da FGV EBAPE.

A estimativa da quantidade de coachs é imprecisa. Dados não oficiais indicam que o país tem 73 mil profissionais, crescimento de 300% nos últimos 4 anos.

A IFC, maior escola mundial, tem no Brasil 800 cadastrados. Aline Brandão, diretora administrativa e financeira do ICF Brasil, considera que um dos requisitos para escolha de ‘treinador’ é que ele tenha feito cursos em escolas credenciadas pelo IFC, que exige um mínimo de 125 de treinamento, mais 10 horas de mentoria, além de seis sessões supervisionadas e uma avaliação final de desempenho.

— Acreditamos que o mercado contratante, sejam pessoas ou empresas, deve buscar entender o que é coaching, para que serve e melhorar a qualidade da contratação —diz Aline

Preço não é critério de qualidade

O preço nem sempre é referência de qualidade. O valor de uma sessão de uma hora pode variar entre R$ 100 até R$ 3000. Segundo os especialistas, não significa que o profissional que cobra menos é ruim, mas que ele foca em um público com menor poder aquisitivo.

Para a mentora e supervisora de coachs Channa Vasco, quem procura fazer um processo de coaching deve fazer perguntas como: qual metodologia ele usa, quem são seus casos de sucesso, quem foram seus últimos treinados.

—Com esta seleção natural, apenas os coachs que de fato transformam a vida das pessoas irão se manter no mercado e os aventureiros vão buscar outras oportunidade e modismos— afirma.

Eliana Dutra, CEO da ProFit Coach e autora do livro “Coach - O que você precisa saber”, concorda. Ela aconselha ainda que o interessado solicite uma sessão de demonstração.

— O coach não vai dizer o que fazer. Se ele disser, é um mau sinal — salienta ela.

E mais importante lembrar: coach não é guru:

— Ele não pode fazer promessas, pois o coachee é que deve assumir o protagonismo e ser o responsável pelas mudanças e resultados que pretende alcançar — explica Ylana Miller, professora da Pós-Graduação da ESPM Rio.

Conselho de Psicologia alerta

Por conta da confusão entre as práticas, o Conselho Federal de Psicologia vê com preocupação a disseminação “indiscriminada e oportunista do coaching” na sociedade brasileira e já se posicionou sobre o assunto.

O coach José Roberto Marques, do IBC Foto: Everton Rosa/Divulgação / Everton Rosa/Divulgação
O coach José Roberto Marques, do IBC Foto: Everton Rosa/Divulgação / Everton Rosa/Divulgação

— Embora o coach seja visto por muitos como uma profissão, para a psicologia trata-se de uma prática multiprofissional, facultada a diferentes profissões, dentre elas a psicologia . Questões traumáticas, por exemplo, não se situam no campo do coaching, mas sim no campo da psicologia e devem ser abordadas por um psicólogo —explica o professor Luiz Eduardo V. Berni, consultor do CFP.

José Roberto Marques, fundador do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), considera que as pessoas costumam achar que o coaching é uma terapia, quando na verdade, é uma metodologia de desenvolvimento.

— A psicologia trata da prevenção e do tratamento das vulnerabilidades, situações de estresse, assim como de episódios traumáticos, como perdas, lutos e outros. É uma profissão da área da saúde. O trabalho do coach é um trabalho breve e focal, que objetiva o atingimento de metas pelo desenvolvimento de competências — explica.

Herica Oliveira fez curso de coach depois de ter uma experiência ruim Foto: Arquivo Pessoal
Herica Oliveira fez curso de coach depois de ter uma experiência ruim Foto: Arquivo Pessoal

Formada em administração de empresas, Andrea Batista é coach há quatro anos. Para tanto, passou por três formações: Life&Professional, Executive&Business e Positive Psichology Coaching. Hoje, atende três clientes individualmente e mais um grupo.

— A maioria ainda não conhece o coaching. É uma metodologia cientifica, embasa em estudos que integram planejamento estratégico, gestão da qualidade, psicologia positiva, neurociência. È um composto extraordinário, e isso assusta muitos. E de fato traz soluções, melhoria e motivação.

Para a coach Herica Oliveira, a nova profissão veio por caminhos tortuosos: ao assumir uma empresa familiar, ela procurou um coach para ajudá-la no processo de se tornar empresária e teve uma experiência mito ruim.

—Vi que era uma ferramenta poderosa para desenvolver pessoas e melhor performances —relembra ela, que auxilia empreendedoras e pessoas em transição de carreira.