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Economia

Empresas prolongam home office, devolvem imóveis e valor do aluguel de salas comerciais cai

Com as mudanças iniciadas na pandemia, taxa de vacância dos escritórios sobem no Rio e São Paulo
Aumento do home office está aumentando o número de imóveis comercais vazios Foto: Pulsar Imagens
Aumento do home office está aumentando o número de imóveis comercais vazios Foto: Pulsar Imagens

RIO - A TIM colocou os dois mil atendentes do call-center em home office de forma definitiva. Na PepsiCo, funcionários de escritório poderão optar por trabalhar de onde quiserem. A Petrobras já aprovou o teletrabalho para a equipe administrativa após a retomada de atividades presenciais.

As mudanças no mercado de trabalho produzidas pela pandemia vão durar mais que o previsto pelas empresas. E já afetam a locação de imóveis corporativos de alto padrão no Rio e em São Paulo. Há queda no preço por metro quadrado, e o percentual de espaços vazios está subindo.

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— No segundo trimestre, com a pandemia, começaram as devoluções de escritórios. Entre abril e setembro, foram devolvidos 122 mil metros quadrados em prédios classe A por empresas em São Paulo. Deste total, 73% ocupavam áreas com menos de mil m², o que mostra impacto maior sobre as de menor porte — destaca Paulo Casoni, diretor de Transações da JLL.

Uma área de 122 mil m² é quase nove vezes mais que o espaço total de escritório da sede da Vale no Rio, que ocupa 15 andares da Torre Oscar Niemeyer, em Botafogo. A mineradora avalia devolver 11 deles em paralelo à decisão de adotar o home office em definitivo para quase todos os funcionários administrativos, como antecipou o colunista do GLOBO Lauro Jardim.

desempenho também é inferior ao declarado antes da pandemia (5,7).

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Procurada, a Vale explicou que montou um comitê global que estuda novas formas de trabalho no pós-pandemia. Por ora, todos os colaboradores com funções que permitem o teletrabalho estão atuando pelo regime.

As companhias estão buscando cortar custos fixos diante da mudança de cenário trazida pela pandemia.

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Em São Paulo, a taxa de vacância de escritórios de alto padrão, que mede o volume de espaços para locação vazios, chegou a 19,4% no terceiro trimestre, acima dos 17,3% registrados no trimestre anterior e dos 15,7% de julho a setembro de 2019. O preço do aluguel ficou estável, perto de R$ 85/m², valor 3,6% menor que no terceiro trimestre de 2019.

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Em São Paulo, empresas como Sky e Chubb Seguros devolveram espaços corporativos anos dois últimos trimestres. A Sky explicou que se muda para um novo escritório em parceria com a WeWork, o que já estava previsto antes da pandemia.

O presidente da Chubb, Antonio Trindade, diz que a mudança está em linha com o projeto de flexibilizar a jornada. O objetivo é permitir que parte dos 700 colaboradores em São Paulo trabalhem de casa alguns dias da semana:

— Quando for possível voltar ao trabalho presencial, a ideia é adotar um formato híbrido para todos.

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O mercado carioca, que chegou a amargar mais de 46% de vacância na entrada de 2018, chegou a 38,7%, 1,6 ponto percentual abaixo do segundo trimestre. A previsão, contudo, é fechar 2020 com 41%. O metro quadrado estava avaliado em R$ 88 no terceiro trimestre, com 0,8% de perda ante os três meses anteriores, e retração de 7,4% na comparação com julho a setembro de 2019.

No Rio, que tem percentual de imóveis vazios superior à média nacional nos últimos anos, lançamentos foram suspensos e parte do estoque foi ocupado por empresas menores após a queda de preço.

— A tendência é de aumento da vacância e queda no preço pelo menos até o primeiro trimestre de 2021. Depois, com a vacina, isso será revertido, com o crescimento voltando. Olhar para custo não é simples. Romper contrato inclui multas pesadas. E não há como achar que vai transferir o custo para o funcionário — pondera Casoni.

decisão difícil

Não significa o fim dos escritórios e que as empresas vão transferir as operações para a casa dos funcionários. Mas o mercado vai mudar:

— As companhias terão algumas áreas em teletrabalho. Deve vir uma descentralização dos escritórios, com espaços menores e melhor distribuídos pelas cidades — explica o executivo.

A Enel Brasil, de energia, mantém a mudança de parte da equipe da sede em Niterói para o edifício Aqwa Corporate, na Zona Portuária, no primeiro semestre de 2021. A empresa já permitia teletrabalho aos funcionários administrativos uma vez por semana e avalia ampliar a prática no pós-Covid. Hoje, são 4.600 trabalhadores em home office.

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André Fischer, coordenador do Programa de Gestão de Pessoas (Progep) da Fundação Instituto de Administração (FIA), reforça a necessidade de cautela.

— Muitas empresas estão desativando escritórios e adotando home office definitivo, mas a parcela de trabalhadores que ficará em teletrabalho é difícil de prever agora, porque as condições não são normais.

O presidente da ABRH, Paulo Sardinha, alerta que a economia que as empresas têm em meio à pandemia pode ser uma ilusão, porque as pessoas aceitaram as condições por um tempo, com medo de perder o emprego. Se a pandemia demorar muito, a empresa terá que adaptar pequenos escritórios, o que pode ser mais oneroso. Por isso, diz, há empresas devolvendo os imóveis e outras fazendo reformas.

É o caso da Ciclic, insurtech da BB Seguros, que optou por não devolver o escritório alugado na Vila Olímpia, em São Paulo, por enquanto.

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— Sair do escritório e depois, eventualmente, montar outro seria um custo muito maior. Resolvemos mantê-lo. Estamos contratando funcionários nas últimas semanas, e a ideia é não aumentar o escritório após uma volta ao presencial, passando a trabalhar em formato híbrido, entre presencial e home office — diz o CEO, Raphael Swierczynski.

A TIM anunciou que os dois mil funcionários de seu call-center, do Rio e São Paulo, ficarão definitivamente em teletrabalho. A companhia sustenta que a produtividade desses trabalhadores subiu 8% na pandemia, e o índice de satisfação dos clientes aumentou 37%. Os pedidos de demissão caíram em mais de um terço.

tempo para estudar

A tele fechou novo acordo coletivo com os funcionários, incluindo regras para o teletrabalho e forneceu equipamentos e mobiliários como computador, sistema de biometria, mesa, conexão à internet e ajuda de custo de R$ 80 por mês.

— Deixei de gastar duas horas no trânsito por dia. E não me preocupo mais com a violência ao voltar à noite para casa. Com mais tempo livre, pude voltar a estudar — conta Diego Murilo, de 36 anos, consultor de relacionamento da TIM no Rio.

Quando a pandemia for controlada, a TIM avalia implementar um modelo híbrido, presencial e home office.

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Na PepsiCo Brasil, os funcionários de escritório — são perto de mil e e estão em home office — poderão optar por trabalhar na empresa ou em qualquer outro ponto.

— O home office já era realidade para alguns funcionários e funcionárias, mas o cenário atual acelerou essa agenda — resume Fabio Barbagli, vice-presidente de Recursos Humanos da companhia.

A Petrobras aprovou em agosto o modelo permanente de teletrabalho para a área administrativa. No pós-pandemia, eles poderão fazer home office até três dias por semana.