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Economia

Empresas reforçam caixa com captações no mercado para atravessar crise econômica

No primeiro trimestre, do valor recorde de R$ 33,4 bilhões captados em operações de IPO e follow on, R$ 20,9 bi reforçaram os cofres das companhias
Empresas reforçam caixa com captações no mercado para atravessar crise econômica Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Empresas reforçam caixa com captações no mercado para atravessar crise econômica Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

SÃO PAULO - As empresas estão reforçando seu caixa para investir e atravessar a crise econômica trazida pela pandemia de Covid-19. A maior parte dos recursos captados pelas companhias que foram buscar sócios na Bolsa de Valores, no primeiro trimestre deste ano, foi direcionada ao caixa, segundo levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

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No primeiro trimestre, do valor recorde de R$ 33,4 bilhões captados em operações de IPO (sigla em inglês usada para abertura de capital) e follow on (ofertas secundárias de ações), R$ 20,9 bilhões reforçaram os cofres das companhias.

Para o gestor independente Maurício Pedrosa, a busca de recursos no mercado de capitais é estimulada pela expectativa de crescimento da economia no futuro. Como há liquidez abundante no mundo, esse dinheiro ajuda a reforçar a musculatura das companhias neste momento de crise.

— Há inclusive muitas empresas emitindo dívida para recomprar suas próprias ações porque acreditam no crescimento futuro — diz Pedrosa.

Aposta no 2º semestre

Este ano, foram 16 operações de abertura de capital, e há atualmente pelo menos 50 empresas com pedidos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM, a xerife do mercado brasileiro) para realizar essa operação. Essa fila mostra que as companhias entendem que haverá mais janelas de captação em 2021, mesmo com expectativas de baixo crescimento — ou até recessão — da economia neste início de ano.

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Mas com o avanço da vacinação, existe a expectativa de retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a partir do segundo semestre.

— A maior parte dos recursos está sendo usada para as empresas se capitalizarem, investirem e crescerem. É sinal de que elas estão conseguindo convencer os investidores, captar e direcionar esses recursos a investimentos novos. Depois, elas voltam ao mercado fazendo operações de fusões e aquisições. A taxa de juros baixa está viabilizando um mercado de capitais que o país sempre esperou ter — afirma José Laloni, vice-presidente da Anbima.

São empresas de diversos tamanhos e setores. A Eletromidia, por exemplo, de painéis de publicidade, captou R$ 871 milhões em fevereiro. No prospecto de apresentação, a empresa explicou que os recursos levantados na oferta primária serão direcionados a expansão de investimentos em tecnologia e transformação digital, além de aquisições.

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A Focus Energia, do segmento de geração e comercialização de energia renovável, arrecadou R$ 887,4 milhões com seu IPO, em fevereiro. Os recursos serão investidos no Projeto Futura, de geração de energia solar, e em projetos de geração distribuída.

A Westwing, de móveis e decoração, levantou R$ 1 bilhão com seu IPO, que será investido em produtos de marca própria, tecnologia e logística.

Osias Brito e Maurício Nozawa, sócios fundadores da BR Finance, observam que as empresas que estão tendo sucesso em obter recursos no mercado são de setores com boas perspectivas de crescimento, como educação, saúde, tecnologia. São segmentos que registram expansão, mesmo neste período de crise, e requerem novos investimentos.

— A Locaweb, de tecnologia, fez uma nova oferta de ações em fevereiro, depois de abrir seu capital ano passado. Os recursos serão direcionados a novas aquisições. O setor de educação e de saúde deve passar por novas ondas de consolidação, e isso atrai os investidores, principalmente estrangeiros — afirma Brito.

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Ele ressalta, porém, que o mercado continua seletivo no caso de empresas que não tenham uma boa história de crescimento para contar:

— O investidor, principalmente o estrangeiro, procura empresas com boa gestão, governança e que apontem um caminho de crescimento. Aquelas que estão endividadas e com dificuldades de caixa não conseguem acessar o mercado.

Buscar recursos na Bolsa ou por meio da emissão de dívida costuma ser mais barato do que levantar financiamentos em bancos, afirma Pedrosa. Com juros baixos globais, tomar dinheiro no exterior, através da emissão de bonds (títulos), está mais barato para empresas que têm boa classificação de risco.

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Segundo a Anbima, no primeiro trimestre, as empresas captaram US$ 7,6 bilhões, quase o mesmo valor captado em 2020 no período, que foi de US$ 8 bilhões.

Um ano após ter aberto o capital na Bolsa de Valores, levantando R$ 575 milhões com a venda de ações, a Locaweb, empresa de tecnologia, voltou ao pregão em fevereiro passado, com uma nova oferta de papéis. A empresa vendeu 78,2 milhões de novas ações e captou R$ 2,3 bilhões.

Segundo Rafael Chamas Alves, diretor financeiro da Locaweb, as captações de empresas de tecnologia têm sido bem-sucedidas, graças à aceleração da transformação digital das companhias na pandemia.

Os recursos obtidos pela Locaweb serão usados na estratégia de aquisições. Desde o terceiro trimestre de 2020, foram compradas nove empresas, sendo três após o follow on de fevereiro.

— Os recursos continuarão sendo utilizados para novas aquisições. Mantemos o ritmo de busca por novas empresas — diz Chamas.

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Debêntures

Novas operações de captação são anunciadas praticamente toda semana. Na última terça-feira, dia 13, o Conselho de Administração da Eletrobras aprovou a emissão de R$ 2,7 bilhões em debêntures simples, em duas tranches.

Em comunicado ao mercado, a presidente interina e diretora financeira e de Relações com Investidores da companhia, Elvira Cavalcanti, explicou que os recursos serão usados “para reforço de caixa” e em investimentos na usina nuclear de Angra 3.

Já a JBS, depois de emitir em dezembro Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) lastreados em debêntures, captando R$ 1,9 bilhão — R$ 200 milhões a mais que o valor estipulado — aprovou, em março, uma nova emissão, de até R$ 1,8 bilhão, segundo comunicado ao mercado.

Os recursos obtidos serão destinados à aquisição de bovinos de produtores rurais. Procurada, a empresa não comentou.