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Economia Escândalo no Facebook

Entenda o caso do escândalo de dados no Facebook e saiba como proteger sua privacidade

Confira perguntas e respostas sobre o assunto

Logomarca do Facebook em 3D. Imagem: Dado Ruvic/Reuters
Logomarca do Facebook em 3D. Imagem: Dado Ruvic/Reuters

RIO - O escândalo sobre o uso de dados do Facebook desperta cada vez mais atenção e o interesse não é para menos: a rede social tem mais de dois bilhões de usuários ativos em todo o mundo. Reportagens publicadas no fim de semana mostraram que informações pessoais de participantes da rede social foram vendidas e usadas pela Cambridge Analytica, uma empresa de marketing para campanhas políticas. A consultoria assessorou a equipe do hoje presidente americano Donald Trump durante a disputa presidencial de 2016 nos Estados Unidos.

Confira a seguir perguntas e respostas para entender o caso e saber como proteger seus dados na rede social.

O que aconteceu?

Uma empresa de marketing político, a Cambridge Analytica, teve acesso aos dados de 50 milhões de usuários do Facebook após comprar informações que tinham sido coletadas por um aplicativo chamado “thisisyourdigitallife”, que oferecia aos usuários previsões do futuro segundo informações de personalidade publicadas na rede social. Ele funcionava como um teste de personalidade, com perguntas e respostas que permitiam construir um perfil de cada um. Cerca de 270 mil pessoas fizeram o download do aplicativo e se conectaram com suas senhas do Facebook. Só que o programa conseguiu ter acesso não só aos dados desses usuários, mas também de seus amigos. Com isso, alcançou informações de 50 milhões de usuários.

O que é a Cambridge Analytica?


O escritório comercial no centro de Londres abriga a sede da Cambridge Analytica. Foto: Daniel Leal-Olivas/AFP
O escritório comercial no centro de Londres abriga a sede da Cambridge Analytica. Foto: Daniel Leal-Olivas/AFP

A Cambrige Analytica é uma empresa de mineração e análise de dados para campanhas políticas. Em seu site, a consultoria afirma que “dados comandam tudo o que fazem”. “A Cambridge Analytica usa dados para mudar o comportamento da audiência”, afirma o lema da empresa, com sede em Londres. A consultoria assessorou a equipe do hoje presidente americano Donald Trump durante a disputa presidencial de 2016 nos Estados Unidos. SSteve Bannon — chefe da campanha e estrategista-chefe de Trump na Casa Branca — foi um dos fundadores da Cambridge Analytica, da qual saiu em 2016. Foi ele que supervisionou as primeiras tentativas da Cambridge Analytica para coletar dados do Facebook, segundo disse um ex-funcionário da empresa de mineração de dados ao “Washington Post”.

A empresa atua no Brasil?


O nome da consultoria aparece na placa do edifício de escritórios no centro de Londres. Foto: Henry Nicholls/Reuters
O nome da consultoria aparece na placa do edifício de escritórios no centro de Londres. Foto: Henry Nicholls/Reuters

Ainda não está claro se a Cambridge Analytica atua no Brasil. Um vídeo gravado secretamente e divulgado pelo Channel 4 News, do Reino Unido, nesta semana, mostra dois executivos da empresa afirmando que usaram a coleta de dados ilegal em outros países, como México e Malásia, e que estavam vindo para o Brasil participar da eleição de outubro deste ano. Ao mesmo tempo, no entanto, o publicitário baiano André Torretta revelou que suspendeu um acordo operacional com a empresa, que tinha sido feito no início de 2017.

Há brasileiros entre os 50 milhões de usuários cujos dados chegaram à Cambridge Analytica?

Ainda não há informações confirmadas sobre a nacionalidade dos 50 milhões de usuários cujos dados a Cambridge Analytica teve acesso, mas pode haver brasileiros no grupo.

Como os dados podem ter sido usados na campanha presidencial dos Estados Unidos?

Os dados coletados do Facebook teriam sido usados pela campanha do presidente americano Donald Trump para direcionar propaganda política. A partir dos perfis detalhados de milhões eleitores americanos, era possível determinar a qual público encaminhar propaganda durante a campanha e determinar quais eram os temas de maior interesse do eleitorado.

Que técnicas foram empregadas?

O teste que criou a base de dados de 50 milhões foi criada por Alexsandr Kogan. Ele foi contratado pela Cambridge Analytca, que montou os perfis psicológicos. Com base nos testes de personalidade, a consultoria foi capaz de segmentar as mensagens usadas pela campanha . Por exemplo: para classificar os eleitores, um algoritmo poderia encontrar vínculos entre “amabilidade”, ou “neurose”, e gênero, idade, religião, hobbies, viagens, pontos de vista políticos específicos e uma série de outras variáveis. Até ser suspenso, foram gerados mais de 4.000 dados sobre cada eleitor nos Estados Unidos, segundo Alexander Nix, CEO da Cambridge Analytica. O executivo conta que foi possível aplicar técnicas que chamou de “microssegmentação comportamental” ( behavioral microtargeting ) e “mensagens psicográficas” ( psychographic messaging ). Na prática, a mensagem certa era enviada para o eleitor certo.

Quem denunciou?


Christopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge Analytica, foi quem denunciou que a empresa teve acesso aos dados de 50 milhões de usuários do Facebook. Foto: Henry Nicholls/Reuters
Christopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge Analytica, foi quem denunciou que a empresa teve acesso aos dados de 50 milhões de usuários do Facebook. Foto: Henry Nicholls/Reuters

O responsável pelas denúncias é Christopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge , que trabalhou na coleta dos dados.

— As regras não importam para eles. Isso é uma guerra e tudo é justo — afirmou Wylie, sobre a Cambridge Analytica, onde trabalhou até 2014. — Eles querem lutar uma guerra cultural na América. A Cambridge Analytica deveria ser o arsenal de armas para lutar esta guerra.

O que fazer para proteger minha privacidade?

O primeiro passo para se proteger é ajustar as configurações de privacidade no seu perfil do Facebook. É possível minimizar as informações que compartilha de forma pública e selecionar que apenas seus amigos vejam seus posts ou só você veja a lista de seus amigos. Veja aqui como escolher seu público-alvo.

Como se proteger
Algumas medidas podem reduzir o risco aos seus dados pessoais
Limpe periodicamente o histórico
Ajuste as configurações de privacidade
Browsers como Chrome, Safari e Internet Explorer acumulam os dados de navegação
dos usuários. Para minimizar os riscos a sua privacidade, limpe periodicamente o histórico
de navegação e os chamados cookies, que funcionam como rastreadores de nossos passos
O primeiro passo é ajustar as configurações de privacidade no seu perfil do Facebook. É possível minimizar as informações que compartilha de forma pública e selecionar que apenas seus amigos vejam seus posts ou que só você veja a lista de seus amigos
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Confira os apps ligados ao seu perfil
Leia as políticas de privacidade
Deixe a preguiça de lado e leia tudo. Em geral, há um contrato que prevê os termos para o compartilhamento de dados. Se discordar de algo, o caminho é não usar o programa
Ao usar o login do Facebook para entrar em outro site, jogo ou aplicativo, estes acessam seus dados pessoais. No seu perfil, veja em “Configurações” os aplicativos conectados e verifique as autorizações. Apague os apps que não usa mais e reveja as permissões dos que continuará usando
Atenção a marcas
desconhecidas
Instale bloqueadores de rastreio
Instale um bloqueador de anúncios
É possível instalar programas no browser para bloquear rastreadores, como Privacy Badger e Disconnect. Eles, porém, às vezes fazem com que algumas partes de sites tenham problemas ou não apareçam
Outra forma de proteção é a instalação de bloqueadores de anúncios, como o uBlock Origin. Isso porque alguns anúncios podem ser programados para rastrear e coletar informações dos usuários
Há uma infinidade de programas e aplicativos, e todo cuidado é pouco. Dê preferência a marcas ou instituições conhecidas. Pense duas vezes antes de baixar um aplicativo ou programa novo
Como se proteger
Algumas medidas podem reduzir o
risco aos seus dados pessoais
NO BROWSER
Limpe periodicamente o histórico
Browsers como Chrome, Safari e Internet Explorer acumulam os dados de navegação
dos usuários. Para minimizar os riscos a sua privacidade, limpe periodicamente o histórico
de navegação e os chamados cookies, que funcionam como rastreadores de nossos passos
NO APLICATIVO
Ajuste as configurações de privacidade
O primeiro passo é ajustar as configurações de privacidade no seu perfil do Facebook. É possível minimizar as informações que compartilha de forma pública e selecionar que apenas seus amigos vejam seus posts ou que só você veja a lista de seus amigos
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Na tela de “Configurações da conta”, clique em “Privacidade” para acessar todas as configurações
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Confira os apps ligados ao seu perfil
Ao usar o login do Facebook para entrar em outro site, jogo ou aplicativo, estes acessam seus dados pessoais. No seu perfil, veja em “Configurações” os aplicativos conectados e verifique as autorizações. Apague os apps que não usa mais e reveja as permissões dos que continuará usando
Na tela de “Configurações da conta”, clique em “Aplicativos” para acessar todas as configurações
Leia as políticas de privacidade
Deixe a preguiça de lado e leia tudo. Em geral, há um contrato que prevê os termos para o compartilhamento de dados. Se discordar de algo, o caminho é não usar o programa
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Clique sobre o ícone do menu.
Role a tela e clique em
“Termos e Políticas”
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Atenção a marcas desconhecidas
Há uma infinidade de programas e aplicativos, e todo cuidado é pouco. Dê preferência a marcas ou instituições conhecidas. Pense duas vezes antes de baixar um aplicativo ou programa novo
Instale bloqueadores de rastreio
É possível instalar programas no browser para bloquear rastreadores, como Privacy Badger e Disconnect. Eles, porém, às vezes fazem com que algumas partes de sites tenham problemas ou não apareçam
Instale um bloqueador de anúncios
Outra forma de proteção é a instalação de bloqueadores de anúncios, como o uBlock Origin. Isso porque alguns anúncios podem ser programados para rastrear e coletar informações dos usuários

Como saber o que cada aplicativo prevê?

Deixe a preguiça de lado e leia todos os termos de privacidade que são apresentados quando se assina um novo aplicativo ou ferramenta de internet. Em geral, há um contrato que prevê os termos para o compartilhamento de dados. Se houver alguma indicação que não concorde, o caminho é não usar o programa.

Tenho como saber quais aplicativos já usei pelo Facebook?

Ao usar o login do Facebook para ter acesso a um outro site, jogo ou aplicativo, esses serviços podem ter acesso a seus dados pessoais. Na sua página do Facebook, vá em “Configurações” para saber quais são os aplicativos que estão conectados a ele. A partir daí é possível verificar que tipo de autorização foi dada a cada aplicativo. Mesmo que não seja usado de forma cotidiana, o aplicativo continuará tendo acesso aos seus dados. Apague os programas que não usa mais e reveja as permissões daqueles que continuará usando.

Que cuidados devo tomar ao baixar um aplicativo?

Há uma infinidade de programas e aplicativos disponíveis na rede e todo cuidado é pouco. Dê preferência a marcas ou instituições que sejam conhecidas e respeitadas. Às vezes, há problemas mesmo que se leia as políticas de privacidade. No caso do aplicativo “thisisyourdigitallife” — quiz de perguntas sobre personalidade que está na origem do escândalo de uso de dados do Facebook pela Cambridge Analytica —, os termos de privacidade previam que os dados seriam coletados para uso acadêmico, mas não falava sobre uso comercial. Mas até quem teve cautela nesse caso poderia ter problemas: o pesquisador que criou o aplicativo era da Universidade de Cambridge. Assim, nunca é demais pensar duas vezes antes de baixar um aplicativo ou programa novo.

Há programas que podem evitar a transferência dos meus dados?

Há programas que funcionam com bloqueadores, seja de rastreadores ou de anúncios. Há programas que podem ser instalados no browser para tentar bloquear os rastreadores incluídos em sites, como Disconnect e Privacy Badger. Há um preço a pagar, no entanto: esses programas às vezes fazem com que algumas partes de sites tenham problemas ou simplesmente não apareçam. Outra forma de proteção é a instalação de bloqueadores de anúncios, seja no computador ou no smartphone. Isso porque alguns anúncios podem ser programados para rastrear e coletar informações dos usuários. Um dos bloqueadores disponíveis é o uBlock Origin.

Mark Zuckerberg Foto: JUSTIN SULLIVAN / AFP
Mark Zuckerberg Foto: JUSTIN SULLIVAN / AFP

Há outros cuidados a serem tomados?

Browsers usados para o acesso à internet — como Chrome, Safari e Internet Explorer — vão acumulando os dados de navegação dos usuários ao longo do tempo. Para minimizar os riscos para sua privacidade, é recomendado que se limpe periodicamente o histórico de navegação e também os chamados cookies, que são arquivos pequenos enviados por sites e armazenados no navegador, onde são registrados dados sobre nós. Eles podem funcionar como rastreadores de nossos passos na rede.

A legislação brasileira me protege?

Sim. O Código de Defesa do Consumidor e Marco Civil protegem usuários, embora ainda falte regulamentação sobre o assunto . O Marco Civil, por exemplo, prevê que o consumidor pode entrar em contato com desenvolvedores de jogos e testes e pedir a exclusão de seus dados pessoais. Já o Código de Defesa do Consumidor tem como base a boa-fé, princípio que é completamente violado com a venda de dados sem prévio conhecimento do usuário e sua anuência sobre a utilização e a destinação dessas informações. Veja o que advogados dizem sobre o assunto

O que o Facebook fez até agora?

O fundador e diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, só se pronunciou sobre a crise na quarta-feira, 21 , embora o escândalo tenha estourado no fim de semana. Zuckerberg publicou um texto em seu perfil na rede social admitindo erros, mas afirmando que as ações para que o repasse de dados não volte a ocorrer foram tomadas anos atrás. Ele também explicou como serão os próximos passos do Facebook em relação às questões de privacidade e aplicativos na rede social. “Primeiro, vamos investigar todos os aplicativos que tiveram acesso a grandes quantidades de informação antes de mudarmos nossa plataforma (...) em 2014, e vamos conduzir uma auditoria total em qualquer aplicativo com atividade suspeita”, detalhou.