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Economia

Entenda por que as empresas estão boicotando o Facebook e veja quais aderiram ao movimento

Boicote faz parte da campanha #Stop Hate for Profit, que denuncia falhas da rede social para combater o discurso de ódio e racista na plataforma
O campus do Facebook em Menlo Park, Califórnia: um esforço para pressionar o Facebook a reprimir o discurso de ódio levou dezenas de anunciantes a dizer que parariam de gastar com anúncios na plataforma Foto: Jason Henry / NYT
O campus do Facebook em Menlo Park, Califórnia: um esforço para pressionar o Facebook a reprimir o discurso de ódio levou dezenas de anunciantes a dizer que parariam de gastar com anúncios na plataforma Foto: Jason Henry / NYT

RIO - A campanha de boicote à publicidade no Facebook vem ganhando novos seguidores a cada dia. Neste fim de semana, Pepsi e Starbucks anunciaram que também vão suspender anúncios na platafoma de Mark Zuckerberg, engrossando a lista de empresas participantes do movimento . Nesta segunda-feira, a Ford Motor informou que, por 30 dias, não vai anunciar em redes sociais nos Estados Unidos.

Essas empresas se juntam a outras gigantes do marketing mundial, como Coca-Cola e Unilever . E a Microsoft, segundo fontes, vai suspender os anúncios globalmente. A campanha "Stop Hate for Profit" (“Pare o ódio pelo lucro”) começou nos Estados Unidos, mas já tem reflexos em outros países, incluindo o Brasil, onde essas empresas também vão suspender anúncios na rede.

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Entenda o movimento, saiba qual foi a resposta do Facebook até agora e o impacto da campanha sobre a gigante da tecnologia.

Por que essas empresas estão boicotando o Facebook?

Várias empresas decidiram suspender a publicidade na rede social de Mark Zuckerberg  por acreditarem que o Facebook não adotou uma política clara e eficaz para combater o discurso de ódio e racista na plataforma.

A campanha #StopHateForProfit, lançada por grupos de direitos civis após a morte de George Floyd por um policial, conclamou as empresas a suspender os anúncios.

Além disso, no início deste mês, Zuckerberg foi alvo de críticas, inclusive de funcionários do Facebook , após uma polêmica envolvendo o presidente Donald Trump.

Duas postagens do mandatário no Twitter foram marcadas pela rede social. Uma delas foi considerada incitação à violência , pois Trump dá a entender que a polícia poderia atirar nos manifestantes contrários ao assassinato de Floyd.

A outra, em que Trump critica o sistema de votos americano por correio e pede que os eleitores chequem os fatos, foi considerada "imprecisa" pelo Twitter . O presidente americano reagiu à sinalização do microblog, dizendo que a empresa queria interferir nas eleições americanas.

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Quantas empresas aderiram a campanha até agora?

Desde o lançamento da campanha, no início de junho, mais de 160 grandes corporações se comprometeram a suspender anúncios na maior plataforma de mídia social durante o mês de julho. Seus organizadores seguirão trabalhando para que mais companhias dos EUA e de outras países se engajem.

Quem idealizou a campanha do boicote?

A campanha Stop Hate for Profit  foi lançada por grupos de defesa dos direitos civis nos Estados Unidos no dia 17 deste mês, após a morte de George Floyd por um policial branco em Minneapolis, no fim de maio. Por trás do movimento estão a Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP), Color Of Change, Free Press, Common Sense e a plataforma on-line Sleeping Giants.

A campanha acusa a rede social de "amplificar as mensagens dos supremacistas brancos" e de "permitir mensagens que incitam violência".

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A campanha é limitada aos EUA?

A campanha começou pelos Estados Unidos, mas, agora, o movimento quer se tornar uma ação global, expandindo a pressão sobre a rede social para além dos EUA. A campanha vai começar a chamar grandes companhias europeias para se unirem ao boicote, disse Jim Steyer, diretor executivo da Common Sense Media, à agência Reuters.

O que querem os idealizadores da campanha?

Eles pedem aos anunciantes que pressionem o Facebook, dono do Instagram e do WhatsApp, a tomar medidas mais rígidas contra o conteúdos de ódio e de racismo em suas plataformas, retirando o investimento em publicidade durante o mês de julho.

Qual pode ser o impacto para o Facebook?

A suspensão de anúncios surge em um momento de desaceleração econômica global,por causa da pandemia.

Segundo Jitendra Waram analista da Bloomberg Intelligence, os boicotes em julho podem custar ao Facebook mais de US$ 250 milhões no terceiro trimestre, se 25% de seus cem principais compradores interromperem os gastos, e até US$ 500 milhões se o boicote atingir metade dos principais anunciantes.

Qual a resposta do Facebook até agora?

Respondendo à demanda por mais ações, o Facebook anunciou que tem muito a fazer e que está se reunindo com grupos de defesa de direitos civis e especialistas no tema para desenvolver mais ferramentas para combater discurso de ódio em redes sociais .

A companhia disse ainda que seus investimentos em inteligência artificial permitiram identificar 90% dos conteúdos com discurso de ódio antes mesmo que os usuários delatassem essas postagens.

Zuckerberg disse ainda que vai proibir anúncios que digam que "pessoas de raças, etnias, nacionalidades, religiões, castas, orientações sexuais, identidades sexuais ou status de imigração específicos" são uma ameaça aos demais.

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Veja algumas empresas que aderiram ao boicote

Starbucks

Rede de cafeteria americana Starbucks Foto: Richard Drew / AP
Rede de cafeteria americana Starbucks Foto: Richard Drew / AP

A rede de cafeterias Starbucks anunciou no domingo que irá fazer uma pausa em seus anúncios em todas as redes sociais americanas, para mostrar sua "oposição ao discurso de ódio" que se espalhou por estes espaços,  acrescentando que dará prosseguimento às discussões internas com seus parceiros de mídia e organizações de direitos civis para pôr fim a discursos de cunho racista e de ódio.

"Acreditamos que é preciso fazer mais para criar comunidades acolhedoras e inclusivas on-line, e que tanto empresários quanto políticos devem se somar", publicou a empresa.

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Unilever

A gigante de bens de consumo, um dos maiores anunciantes do mundo, disse na sexta-feira que deixaria de exibir anúncios no Facebook, Instagram ou Twitter nos Estados Unidos pelo menos até o resto de 2020.  A empresa, dona de marcas como Dove e Lipton, disse que "continuar anunciando nessas plataformas no momento não agregaria valor às pessoas e à sociedade". A Ben & Jerry's, uma marca de sorvete pertencente à empresa, aderiu ao boicote no último dia 23.

Coca-Cola

Em campanha contra o discurso de ódio nas plataformas digitais, Coca-Cola suspende todas as propagandas em redes sociais por 30 dias Foto: Luke Sharrett / Bloomberg
Em campanha contra o discurso de ódio nas plataformas digitais, Coca-Cola suspende todas as propagandas em redes sociais por 30 dias Foto: Luke Sharrett / Bloomberg

A gigante das bebidas, outro anunciante de grande porte, disse que interromperia todos os anúncios pagos em todas as plataformas de mídia social globalmente por pelo menos 30 dias. Em um comunidado, James Quincey, diretor executivo da companhia, disse que a empresa usaria o tempo para reavaliar suas estratégias publicitárias e políticas de publicidade, e informaria seus parceiros de mídia social que "esperamos maior responsabilidade, ação e transparência deles". A Coca-Cola informou ainda que a decisão não significa adesão ao movimento #StopHateForProfit.

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Pepsi

Garrafas de Pepsi em um supermercado. Foto: Elise Amendola / AP
Garrafas de Pepsi em um supermercado. Foto: Elise Amendola / AP

A Pepsi suspenderia anúncios pelos meses de julho e agosto, segundo declaram fontes ouvidas pela Fox Business. A companhia não comentou o tema.

Ford Motor

A Ford pretende começar a reabrir suas fábricas nos EUA a partir do dia 14 de abril Foto: Anthony Lanzilote / Bloomberg
A Ford pretende começar a reabrir suas fábricas nos EUA a partir do dia 14 de abril Foto: Anthony Lanzilote / Bloomberg

A segunda maior montadora americana vai deixar de anunciar em redes sociais nos EUA por 30 dias. A empresa disse ainda que vai reavaliar sua presença nessas plataformas e afirmou que todo discurso de ódio, violência e injustiça racial nas mídias sociais "precisa ser erradicado".

Microsoft

A Microsoft teme ver sua marca ao lado de conteúdos inadequados Foto: Alex Kraus / Bloomberg
A Microsoft teme ver sua marca ao lado de conteúdos inadequados Foto: Alex Kraus / Bloomberg

A gigante global suspendeu os anúncios no Facebook e no Instagram por receio de que estes apareçam junto a conteúdo inadequado, disse nesta segunda-feira à Bloomberg uma pessoa a par do assunto.

No ano passado, a Microsoft gastou US$ 116 milhões em publicidade no Facebook, sendo a terceira maior anunciante, segundo dados da Pathmatics. Ainda em maio a empresa parou de anunciar nessas plataformas nos EUA, mas agora fará isso globalmente, disse a fonte.

Adidas

A Adidas se juntou ao boicote contra o Facebook Foto: SeongJoon Cho / Bloomberg
A Adidas se juntou ao boicote contra o Facebook Foto: SeongJoon Cho / Bloomberg

A fabricante de material esportivo também decidiu suspender os seus anúncios e os da subsidiária Reebok, globalmente, no Facebook e no Instagram, por todo o mês de julho.

“Conteúdos online racistas, discriminatórios e de ódio não têm lugar na nossa marca nem na socidade”, afirmou uma porta-voz, informando que nos próximos 30 dias a companhia irá “desenvolver um critério para manter a nós e todos os nossos parceiros responsáveis por criar e manter ambientes seguros”.

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North Face

Fachada da North Face em Londres. Marca anunciou boicote ao Facebook Foto: Arquivo
Fachada da North Face em Londres. Marca anunciou boicote ao Facebook Foto: Arquivo

A North Face, empresa americana de produtos para atividades ao ar livre, foi a primeira grande marca a aderir à campanha.

Em um post no Twitter dizendo "Estamos dentro. Estamos fora", a empresa anunciou que deixaria de postar conteúdo e comprar anúncios do Facebook nos EUA em julho. E que também suspenderia a publicação de anúncios pagos no Instagram.

A empresa gasta mais no Facebook do que em qualquer outra plataforma, além do Google.

The Hershey Co.

A fabricante de chocolates vai suspender seus anúncios no Facebook no mês de julho. Segundo o site Business Insider, a empresa ainda vai reduzir em um terço seus gastos até o fim do ano.

Puma

A marca alemã de artigos esportivos vai deixar de anunciar no Facebook e no Instagram no mês de julho.

Pfizer

A fabricante do Viagra supenderá anúncios em Facebook e Instagram em julho, instando a rede social a tomar providência contra posts de ódio.