Época
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Por Henrique Gomes Batista; Renato Andrade


SÃO PAULO - Anitta e Warren Buffett nunca se conheceram. Mas a garota mais famosa de Honório Gurgel e o investidor mais cultuado do planeta são um bom exemplo da controversa teoria dos seis graus de separação, que há 60 anos insiste que qualquer pessoa do planeta está, no máximo, a cinco seres humanos de distância uma da outra.

No caso da estrela carioca e do Oráculo de Omaha, existe apenas um nome entre os dois mundos: David Vélez, o presidente do Nubank.

Nascido na violenta Medellín, mas criado na Costa Rica e educado na ensolarada Califórnia, Vélez conseguiu fazer o que todos disseram para ele que seria impossível quando aterrissou no Brasil há quase uma década: criar um banco no concentrado mercado local.

Junto com outros sócios, o colombiano não só ergueu sua instituição do zero como conseguiu, no mês passado, receber um investimento histórico de US$ 500 milhões de Buffett e trazer para dentro do conselho de administração de sua empresa a estrela mais pop da cena musical brasileira.

. Criação O Globo — Foto:
. Criação O Globo — Foto:

Para quem se diz introvertido e avesso aos holofotes e à efervescência das mídias sociais, Vélez adota, na prática, uma política bem diferente do seu jeito de ser quando o assunto é fazer o que for preciso para ver seu projeto decolar.

Filho de um pequeno empresário, Vélez deixou Medellín quando tinha oito anos. A família seguiu para a Costa Rica, onde seu pai criou uma fábrica de botões. O espírito empreendedor floresceu quando chegou aos Estados Unidos em 2001. Entrou em Stanford, uma das três melhores universidades americanas e berço de empresas como a gigante Google.

Stanford foi a porta para o mundo das finanças e das start-ups. Assim que concluiu o ensino superior, Vélez foi para grandes casas financeiras. Passou pelo Morgan Stanley até chegar ao Sequoia, ícone entre as empresas especializadas em investir no Vale do Silício.

California dreaming

Apesar de quase dez anos de Brasil, Vélez ainda é pouco conhecido no país. O sotaque portunhol evidencia a raiz colombiana, mas o jeito de agir e pensar definitivamente não encontra eco no mundo latino.

— Ele é colombiano por acaso. Ele pensa como um californiano — afirmou ao GLOBO uma concorrente que preferiu não se identificar.

Ser um “gringo”, como ele mesmo diz, é uma característica que Vélez considera fundamental para explicar parte do sucesso do Nubank, que ostenta atualmente a posição de sétima start-up mais valiosa do mundo.

POP: Anitta, entre Cristina Junqueira e David Vélez, é o novo membro do conselho do banco Divulgação — Foto:
POP: Anitta, entre Cristina Junqueira e David Vélez, é o novo membro do conselho do banco Divulgação — Foto:

— Embora não seja possível provar isso, eu acho que precisava mesmo de um estrangeiro para fazer algo como o Nubank. Alguém que fosse ingênuo ou ignorante o suficiente para tentar fazer algo que ninguém acreditava que era possível — disse Vélez ao GLOBO em uma entrevista virtual na semana passada.

O Nubank é hoje um caso de sucesso. Mas o início da aventura brasileira não foi sempre tranquila. Vélez chegou a São Paulo em 2012, com a missão de abrir uma filial da Sequoia. No plano profissional, a iniciativa não deu certo.

Do ponto de vista pessoal, a chegada ao Brasil mostrou ao “gringo” as dificuldades existentes no país para uma pessoa conseguir abrir uma conta bancária, ter crédito e uma vida financeira. Por que não explorar isso?

A dor de cabeça acabou se transformando numa inspiração que ganharia o nome de Nubank. A Sequoia Capital e Kaszek Ventures garantiram os primeiros US$ 2 milhões para iniciar os negócios com o famoso cartão de crédito roxo. A ideia de começar pelo crédito não foi aleatória.

— A gente sempre teve a pretensão de criar uma plataforma de múltiplos serviços. Nosso nome é Nubank, não Nucard — brinca. — Começar com crédito era uma proposta menos arriscada para o consumidor. Quando a gente chega e fala “cliente, me dê todo o seu dinheiro?”, ele fala: “Peraí, quem são vocês?”. Começar com crédito foi uma forma de criar menos fricção do que começar com débito ou depósitos.

Nubank captou US$ 400 milhões e mais US$ 750 milhões em junho. Está avaliado em US$ 30 bilhões  Divulgação — Foto:
Nubank captou US$ 400 milhões e mais US$ 750 milhões em junho. Está avaliado em US$ 30 bilhões Divulgação — Foto:

O início pelo cartão roxo também permitiu que Vélez e seus sócios passassem relativamente despercebidos pelos bancões, que concentram quase 90% de todo o mercado de crédito local. Essa concentração foi um dos elementos usados por Vélez quando foi conversar com o Banco Central e explicar suas intenções ao desembarcar no Brasil.

Em sua primeira reunião com o regulador do sistema bancário, Vélez argumentou em favor de uma maior concorrência e do uso da tecnologia para tentar baixar tarifas e aumentar o acesso da população aos bancos.

A licença para que o Nubank começasse a sair do papel levou mais de três anos e o volume de capital exigido para que a operação fosse iniciada — uma espécie de seguro que o BC exige de quem oferecer crédito e receber depósitos por aqui — ficou bem acima do que é praticado atualmente no mercado.

Na última década, o BC, órgão famoso pela qualidade do seu quadro técnico, promoveu mudanças regulatórias que permitiram a criação de um ecossistema que inclui o Nubank e outros players.

Na semana passada, o banco americano JP Morgan comprou 40% do C6 Bank, fundado há três anos por Marcelo Kalim.

Vélez e seus sócios — a brasileira Cristina Junqueira e o americano Edward Wible —reconhecem que a velocidade com que o Nubank deixou o papel e virou uma empresa avaliada em US$ 30 bilhões foi muito acima do que o imaginado no melhor dos sonhos.

— A gente nunca imaginou que o nosso crescimento fosse ocorrer tão rápido. A dor dos consumidores era maior do que a que a gente imaginava. E o mercado levou os negócios a uma velocidade que a gente nunca imaginou — reconhece Vélez.

Entender essa dor do cliente brasileiro, que sempre reclamou dos bancos, é algo reconhecido por parte do mercado financeiro.

— Eles conseguiram ser, incontestavelmente, o melhor serviço aos clientes bancários no Brasil hoje — disse Larissa Quaresma, analista da Empiricus.

— O Nubank se destacou com a proposta de ter excelência em tudo o que faz e é genuíno. É quase mais uma empresa tech que um banco — afirmou Junior Borneli, presidente da StartSe, Plataforma de Conhecimento da Nova Economia. — Apesar de ser uma pessoa muito discreta, Vélez é uma referência para os empreendedores brasileiros, por ter criado uma empresa para solucionar um problema e ter o foco em um cliente.

Longe dos holofotes

Apesar de estar no comando de uma empresa avaliada em US$ 30 bilhões e adotar um jeito muito mais associado ao mundo das start-ups do que dos bancos, o estilo Vélez de ser está a milhas de distância de outras figuras cultuadas na nova economia. Nos Estados Unidos, Elon Musk está em tudo o que é lugar.

David Vélez tem muitas vitórias à frente do Nubank Divulgação — Foto:
David Vélez tem muitas vitórias à frente do Nubank Divulgação — Foto:

No Brasil, outros nomes de empresas bem-sucedidas dão a impressão de que o sucesso subiu na cabeça. Vélez, aparentemente, não é um desses casos.

— Eu não quero ser guru, não tenho interesse nenhum de ser líder ou nada disso — explica, ao contar como tem dividido os holofotes e os bastidores com Cristina Junqueira, a face pública do Nubank. Enquanto ela dá entrevistas, participa de lives e está presente nas redes sociais, Vélez prefere a coxia e as negociações com os investidores.

— Eu passo muito tempo com os nossos investidores. Mantenho muita comunicação com o nosso conselho. A gente se divide. A Cris é melhor do que eu sendo essa cara externa do Nubank. Isso abre espaço para que eu siga focado em outras áreas e cada um ganha fazendo aquilo em que é melhor — diz o distinto morador do bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista, casado com uma peruana, com três filhos brasileiros e uma fortuna pessoal estimada pela Forbes em US$ 5,2 bilhões.

Apesar de estar com um pé bem fincado no mundo dos bancos, o anti-guru low profile segue com o figurino e o discurso típico dos “startupeiros”. Sempre de camisa lisa, sem gravata e ternos bem cortados, Vélez tem a resposta pronta para quando é perguntando onde imagina estar daqui oito anos:

— Daqui oito anos a gente continua no primeiro minuto do jogo. Esse é o mindset que eu quero manter.

Vélez e seus sócios foram visionários, aumentaram a competição no mercado brasileiro, inovaram, atraíram o lendário Buffett, mas seu banco ainda não dá lucro. Tratando-se de uma start-up, está tudo dentro do esperado. Ainda assim, em algum momento, a conta vai ter que sair do vermelho. Usando a analogia de Vélez, o jogo está somente no começo.

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