Economia

Erdogan culpa 'conspiração' por tombo da lira, descarta subir juros e ameaça buscar 'novas alianças'

Presidente da Turquia rechaçou eventual socorro internacional ao país
O presidente turco, Erdogan Foto: MURAT KULA / AFP
O presidente turco, Erdogan Foto: MURAT KULA / AFP

ISTAMBUL - Investidores que esperavam por uma saída para a instabilidade econômica da Turquia receberam um balde de água fria neste domingo da boca do presidente Recep Tayyip Erdogan. Em três discursos, Erdogan atacou os Estados Unidos, ameaçando encontrar novas alianças e novos mercados, descartou eventual aumento de juros e afirmou que a Turquia jamais aceitará um socorro internacional. Sua mensagem foi essencialmente o oposto do que os investidores gostariam de ouvir.

LEIA MAIS : Entenda como a queda da lira turca afeta mercados

Turquia derrete mercados e dólar vai a R$ 3,864

As declarações de Erdogan foram feitas apenas algumas horas antes da abertura dos mercados na segunda-feira, depois de a lira turca ter caído até 17% contra o dólar na sexta-feira, espalhando o temor de que a turbulência pudesse se espalhar para a Europa e outros mercados emergentes.

Para Erdogan, a desvalorização da lira é resultado de uma "conspiração política" contra a Turquia. Para o presidente, o nível atual da lira e as flutuações da taxa de câmbio "não podem ser explicados pela lógica". O presidente pediu pelo terceiro dia consecutivo que os turcos vendam euros e dólares para sustentar a lira.

- Qual é a razão para toda essa tempestade em um copo d’água? Não há razão econômica para isso ... Isso é uma operação contra a Turquia (...) O objetivo dessa operação é fazer com que a Turquia se renda em todas as áreas, das finanças à política - disse Erdogan, diante de uma plateia de correligionários partidários na cidade de Trabzon, à beira do Mar Negro. - Mais uma vez enfrentamos uma conspiração política clandestina. Se Deus quiser, vamos superá-la.

Diante da "conspiração", Erdogan disse que a Turquia se vê obrigada a buscar novos aliados.

- Vamos dizer adeus àqueles que estão prontos para desistir de parcerias estratégicas - ameaçou Erdogan, referindo-se aos EUA, país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que impôs sanções à Turquia no início do mês após o governo turco se recusar a libertar um pastor americano. - Estamos trabalhando dia e noite (na busca) de mercados alternativos.

'JUROS SÃO UMA EXPLORAÇÃO'

As declarações de Erdogan também reduziram as expectativas dos investidores de que o país recorreria a um aumento da taxa de juros na tentativa de atrair capital estrangeiro. O BC turco havia elevado suas taxas em maio, em movimento emergencial para conter a desvalorização da moeda, mas, na última reunião, decidiu não subir os juros. Neste domingo, Erdogan descartou qualquer possibilidade de recorrer a um aperto monetário.

- As taxas de juros são uma ferramenta de exploração que torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres - disse Erdogan. - Ninguém deveria tentar nos fazer cair nessa armadilha, não seremos enganados por essa trama, ninguém deve ficar excitado.

Seus comentários sobre os juros, além da recente nomeação de seu genro como ministro da Fazenda, aumentaram a percepção de que o BC não é independente.

A lira recuou cerca de 40% frente ao dólar este ano, em grande parte devido à preocupação com a influência de Erdogan na economia e seus repetidos apelos para que os juros não subam apesar da inflação elevada e da deterioração da relação com os EUA.

Embora a  resolução das tensões com os EUA seja crucial, o principal problema da Turquia é "a falta de autoridades que sejam pró-mercado e que tenham experiência com o assunto", disse Win Thin, estrategista da Brown Brothers Harriman em Nova York.

- A formulação de políticas públicas é determinada por Erdogan, e ele simplesmente não tem idéia de como os mercados funcionam - afirmou. - (Seu discurso) É como jogar gasolina no fogo.