ESG
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Por Naiara Bertão* — Bento Gonçalves, Sant'Ana do Livramento e Encruzilhada do Sul (RS)

Foi em um bucólico cenário junto às videiras da Chandon, marca de espumantes da Moët Hennessy, divisão de vinhos e destilados do grupo de de luxo LVMH, em Encruzilhada do Sul, no Rio Grande do Sul, que um grupo de jornalistas e influenciadores conheceu, no fim de setembro, o novo lançamento da marca, o Chandon Névoa das Encantadas, um rótulo 100% Chardonnay e que veio ao mercado após três anos de tentativas.

A produção, de apenas 2.800 garrafas, só está sendo comercializada em adegas e confrarias especializadas. O pequeno estoque — o rótulo representa menos de 0,1% do total de garrafas produzidas pela Chandon no Brasil anualmente — e a limitação de pontos de venda são propositais.

— Esse espumante exige distribuição seletiva porque não se trata de um Chandon clássico. Há uma história que precisa ser contada por um sommelier, com sugestões de consumo — diz Philippe Mével, enólogo-chefe da Chandon.

Certificação

— O diferencial do produto é o processo de produção, natural, com baixa intervenção humana — apenas acréscimo de leveduras selecionadas para a fermentação, sem uso de açúcar e outros aditivos —, e feito a partir de videiras que atendem parâmetros de sustentabilidade. Apesar de ser natural, o rótulo não é um orgânico, por não seguir exatamente todos os requisitos para este selo. Ele se enquadra em outra categoria que vem ganhando destaque no mundo da viticultura: a de sustentável.

O Névoa das Encantadas é consequência de uma mudança de identidade da Chandon. Isso passa por ser mais sustentável, proteger o planeta, cuidar das pessoas, regenerar o solo e valorizar a biodiversidade — afirma Catherine Petit, diretora-geral da Moët Hennessy Brasil.

Neste ano, a Chandon se tornou a primeira marca de espumantes do país a receber o selo Produção Integrada de Uva para Processamento (PIUP), certificado que atesta que a empresa emprega boas práticas agrícolas e de produção de vinhos em suas operações. Em vinhos, a Vinícola Ravanello, em Gramado (RS), conquistou o mesmo título em 2018. A executiva da Chandon diz que as seis adegas da marca no mundo — Brasil, Argentina, Estados Unidos, Austrália, China e Índia — estão seguindo os mesmos princípios.

Philippe Mével, o enólogo-chefe da Chandon (à direita) — Foto: Naiara Bertão/Valor Econômico
Philippe Mével, o enólogo-chefe da Chandon (à direita) — Foto: Naiara Bertão/Valor Econômico

No mundo, as práticas de sustentabilidade na produção de vinhos e espumantes começam a se tornar importantes diferenciais. Algumas regiões produtoras, como Austrália e África do Sul, exigem selos do tipo PIUP para exportação.

A Chandon diz que os custos iniciais são cerca de 30% maiores para produzir espumantes sustentáveis. Mas o investimento proporciona redução de gastos ao longo do tempo, uma vez que as práticas aumentam a saúde do solo e a produtividade do vinhedo. O consumidor final também começa a ver diferença.

— Já há pesquisas feitas no Canadá e na França que mostram a disponibilidade dos clientes em pagar a mais pelo produto sustentável — comenta Shana Sabbado Flores, especialista em Gestão e Inovação e professora do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).

Os vinhos orgânicos já são oferecidos nas adegas desde a década de 1980, mas com a crescente preocupação com saúde e meio ambiente, eles têm ganhado mais corpo. Segundo a Insight Partners, o mercado de orgânicos, o mais popular entre os vinhos alternativos hoje, deve crescer 12% ao ano de 2022 até 2028, passando de US$ 12,47 bilhões para US$ 24,56 bilhões.

No Brasil, não há dados precisos sobre o consumo de vinhos orgânicos e sustentáveis, mas a expectativa do setor é que se amplie. O potencial de crescimento é grande: em 2021, a média de consumo de vinho por aqui foi de 2,64 litros ante 30 litros dos argentinos, por exemplo, os maiores apreciadores da bebida na América Latina.

Foco na Governança

Diferentemente dos orgânicos, a produção de sustentáveis tem um olhar mais sistêmico e tenta suprir uma lacuna que os primeiros não conseguem ainda: ter escala. Uma vinícola que tem se empenhado para implementar práticas sustentáveis é a Salton.

Fundada há 112 anos, a número 1 do Brasil em venda de espumantes conta com mais de 70 rótulos no portfólio entre vinhos e espumantes. A lista de produtores ultrapassa os 350, a maioria de pequeno porte, o que confere um desafio extra.

Thais Colau, gerente de Inteligência do Negócio e ESG da Salton, conta que a empresa já se preocupa com o pilar de governança há um tempo. Em 2021, contratou a KPMG para ajudar na definição da estratégia no longo prazo e evoluções no tema de governança corporativa. Neste ano contratou a Resultante, cujo foco é ESG, para fazer um diagnóstico completo e ajudar a traçar um plano de ação mais detalhado. E se filiou ao Pacto Global da ONU no Brasil.

A vinícola contabilizou 951 toneladas de gás carbônico equivalente, contra 15.787 de toneladas removidas. As remoções vieram basicamente das reservas de de vegetação pampa nativa mantida em Sant'Ana do Livramento e pelo trabalho de reflorestamento de acácias também no local.

Diferenças entre vinhos B.O.N.S.

  • Biodinâmicos

Não há uso de produtos químicos sintéticos. O vinhedo é visto como um ecossistema único, onde minerais , plantas, animais e o homem convivem em harmonia. Também leva em consideração influências astrológicas e ciclos lunares na produção. O enólogo não pode interferir no resultado do vinho.

  • Orgânicos

Vinhos produzidos com uvas cultivadas organicamente e certificadas, sem uso de defensivos agrícolas ou agroquímicos sintéticos. Além disso, são feitos sem adição de sulfitos na fermentação — só se valem dos sulfitos naturais, gerados na própria produção.

  • Sustentáveis

Estão ligados a práticas ecologicamente corretas no campo e na produção, com preocupação com a eficiência no uso da água, busca por fontes de energia renovável, gestão de resíduos, redução do uso de químicos sintéticos, além de preocupação com as emissões de gases de efeito estufa.

  • Naturais

Estão relacionados a métodos de produção mais primitivos e simples, seguindo, muitas vezes, ritos de antigos produtores. Não é desejado o uso de tecnologia nem de pesticidas ou herbicidas. Os vinhos naturais têm poucos ou nenhum aditivo.

* A repórter viajou a convite de Salton e Chandon.

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