ESG
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Por Katia Simões, Especial Para O Prática ESG — São Paulo

Não é apenas na ficção, como ocorreu na novela Pantanal, que a bandeira da sustentabilidade chegou ao campo, especialmente com a defesa do sistema agroflorestal, que concilia a produção de alimentos com recuperação de áreas degradadas, a partir da plantação de florestas. Jovens cada vez mais capacitados querem levar ao campo ferramentas tecnológicas que garantam mais produtividade, menos impacto ambiental e mais rentabilidade aos negócios.

A resistência, porém, existe e constitui uma das principais barreiras para o avanço das mudanças. Na prática, os novos agentes do campo, produtores rurais ou fornecedores de tecnologia e serviços, não buscam apenas o lucro, visam também o compartilhamento de benefícios sociais e ambientais.

— Representantes da segunda, da terceira geração [dos produtores], que começam a assumir os negócios têm na agenda ESG um dos pilares para o desenvolvimento do campo — afirma Diogo Carvalho, diretor de internacionalização da SoluBio, empresa de biotecnologia que oferece solução completa para produção de bioinsumos na fazenda. — Com eles, as práticas de ESG começam a sair do papel e passam a ser valorizadas.

Lastro em árvore

Pedro Miranda, 27 anos, criou, em agosto de 2020, a Abundance Brasil, ESG-Tech que financia novas florestas sustentáveis por meio de um ecossistema cooperativo de performance ESG. Segundo ele, cada Abudance Token — criptoativo sustentável lastreado em árvores — é vendido por R$ 100 e equivale a uma árvore. A startup comercializa o token e distribui crédito de carbono na modalidade restauração de áreas ao dono do ativo.

— A Abundance fica com 30% do valor do token, enquanto o dono da terra recebe 70% — afirma. — Já temos uma floresta plantada de 100 mil árvores em Cana Verde, no sul de Minas Gerais, e comercializamos 9.420 árvores/tokens.

A meta, diz ele, é plantar 1 bilhão de árvores até 2030, o que exige entre 500 mil e 1 milhão de hectares disponíveis para esse fim. Até meados de 2023, quatro novas florestas, no sul de Minas, Roraima, Amazônia e próximo ao Rio Araguaia, entrarão no ecossistema da startup.

Quando em 2014 Mariana Vasconcelos, então com 23 anos, criou a Agrosmart com o objetivo de ajudar o homem do campo a tomar decisões com mais assertividade, o termo agtechs era pouco conhecido.

— Até 2030, a geração Z somará 75% dos consumidores, jogando luz sobre a qualidade do alimento que colocamos na mesa, rastreando toda a cadeia produtiva, punindo as empresas com forte impacto ambiental e valorizando as marcas que adotam a agenda ESG — afirma Mariana.

Hoje, a Agrosmart monitora, coleta e processa dados de plantações de mais de 30 tipos de cultivo espalhadas por 800 mil hectares de maneira remota ou presencial, por meio de sensores no solo, a fim de definir as melhores condições de plantio e ajudar produtores rurais a serem mais sustentáveis.

No início deste ano, colocou em operação uma plataforma corporativa ESG, com o objetivo de ajudar as empresas a acompanharem aspectos ambientais, sociais, de governança e de operação de toda a cadeia do agronegócio. Mas, segundo ela, o avanço da agricultura sustentável e da agenda ESG ainda enfrenta barreiras.

— A conectividade é um grande problema, assim como a inclusão digital e a falta de conscientização ambiental. É preciso repensar métodos para adotar as melhores práticas. Soma-se a isso a falta de incentivo financeiro.

Para Maria Paula Castro, diretora de Operações da EcoTrace Solutions, o apagão de mão de obra especializada no campo e a demanda cada vez maior do mercado por transparência, redução do impacto ambiental e avanço na agenda social têm provocado mudanças na cultura dos gestores e despertado o interesse dos jovens em se fixar no campo.

Fundada em 2018, a agrotech tem como principal objetivo fazer a rastreabilidade de commodities, de maneira segura, confiável e auditável.

— Atuamos em todos os elos da cadeia, do produtor ao consumidor final. Além da garantia de origem, ajudamos a tornar os processos 100% auditáveis com uso da tecnologia blockchain, o que torna o agronegócio mais transparente, confiável, padronizado e sustentável.

Rentabilidade

Quem também viu no campo uma oportunidade foi Ronan Campos, que em 2016 abriu a IDGeo, agtech com foco no monitoramento de lavouras e usa a inteligência artificial para fazer diagnóstico remoto e otimizar a operação.

— Eu acredito que a sustentabilidade e a rentabilidade das lavouras virão com a otimização da agricultura, ou seja, produzir mais no mesmo terreno, diminuindo a demanda por novas áreas — afirma.

Campos afirma que a IDGeo é a única empresa a oferecer um produto escalável para localização de daninhas na lavoura usando radar, o que viabiliza o mapeamento de grandes áreas. A empresa conseguiu reduzir em 23% a perda de plantio de floresta, gerando uma economia de R$ 1,2 mil por hectare num ciclo de sete anos de produção de cana de açúcar, diz.

Tecnologia pode ser ponte entre as gerações

Da academia ao mercado, todos são unânimes em dizer que a transformação digital e a inovação no campo são uma necessidade. Não contar com o auxílio da tecnologia para gerenciar as tarefas dentro da porteira, por exemplo, é como pilotar um avião sem painel de bordo: fica difícil saber o que está dando certo e o que precisa ser melhorado.

A conectividade, porém, é um dos grandes desafios do agronegócio brasileiro. “Esbarramos não só no avanço das redes no campo, mas também na aculturação dos produtores”, diz Maria Paula Castro, COO da EcoTrace Solutions.

— Ainda falta conscientização, mas os jovens que estão chegando aos postos de comando começam a mudar esse cenário.

Ela está certa. Segundo dados da consultoria KPMG e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimentos (MAPA), entre 2020 e 2021, 84% dos agricultores usaram pelo menos uma tecnologia digital, cuja adoção cresceu 10 pontos percentuais entre 2020 e 2021.

— Vemos a tecnologia, que de uma maneira ou de outra sempre foi adotada no campo, como uma ponte entre as gerações — afirma Paulo Costa, CEO do Cubo Itaú, hub de inovação. — As agtechs chegam assumindo mais riscos para promover a transformação digital, para entregar valor a quem olha o custo na vírgula.

Segundo o mapeamento Agtechs 2021, feito pela Associação Brasileira de Startups o Brasil conta com 299 agtechs ativas, sendo que 72,6% estão voltadas para dentro da porteira (envolve diretamente os produtores agropecuários), 10,2%, antes da porteira (o que é necessário para a gestão agrícola, mas que não atua na fazenda) e 17,2%, depois da porteira (após a produção agrícola).

Para Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, uma das empresas mantenedoras do Cubo Agro, a segunda geração que começa a assumir o comando no campo pede avanço da governança, não se contenta em tomar decisões apenas por feeling, baseia-se cada vez mais em dados.

— Soma-se a isso, as novas exigências da sociedade, que prega o uso mais eficiente de insumos, práticas mais sustentáveis e com menos impacto ambiental— afirma. — Diante desse novo cenário, a agenda ESG tem um espaço grande para crescer.

Segundo Maurício Moraes, sócio da PwC Brasil, que recém-adquiriu o AgTech Garage, maior hub de inovação aberta do agronegócio no país, o grande desafio é entender que esse é um caminho sem volta e saber mensurar o valor que a agenda ESG agrega.

— É preciso ampliar a tangibilidade desses benefícios— reforça.

José Thomé, CEO da AgTech Garage, por sua vez, assinala que escalar ainda é uma barreira.

— A agenda ESG em maior ou menor intensidade já vem acontecendo. Não erro em afirmar que está generalizada como prioridade nas startups. No agro como um todo, porém, ainda depende do uso da tecnologia, da regulação do mercado e, até mesmo, da educação — afirma.

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