ESG
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Por Naiara Bertão*

Parte relevante do escopo da sustentabilidade aplicada à fabricação de vinhos está no campo, a começar pela redução do uso de produtos químicos. Na agricultura, é comum o uso de defensivos e fertilizantes para proteger a plantação contra pragas, insetos e oscilações muito bruscas no clima, que podem acabar com a safra. Na produção de uvas para vinhos e espumantes não é diferente, mas algumas empresas já estão mudando processos para diminuir a quantidade de produtos ou até deixar de usá-los.

É o caso da Chandon e da Família Salton, duas vinícolas que vêm adotando uma série de mudanças no campo. Uma dessas mudanças foi a manutenção da cobertura vegetal nas videiras, como forma de proteger o solo, reter umidade e nutrientes e dificultar o caminho para bichos e ervas daninhas prejudiciais às uvas.

No caso da Chandon, nas entrelinhas das parreiras do vinhedo próprio em Encruzilhada do Sul (RS), são plantadas leguminosas, pega-pega, flor de nabo e gramíneas.

— Temos mais de 30 espécies de plantas e leguminosas no solo do vinhedo, o que melhora sua saúde e drenagem — comenta Eugenio Barbieri, gerente de viticultura responsável pela propriedade de Encruzilhada.

A vinícola tem parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) nas pesquisas no campo. O grande trunfo foi ter conseguido eliminar, nas safras dos últimos dois anos, o uso de herbicidas. Ainda assim, o uso de químicos é necessário em algumas ocasiões, como em geadas, ou para controle de fungos. Segundo Philippe Mével, enólogo-chefe da Chandon, os níveis de resíduos químicos são constantemente monitorados.

— Na uva Blanc Noir, por exemplo, é tão baixo que está menor do que o nível de detecção. O controle desta vegetação não é mais realizado pela aplicação de herbicidas, mas pelo corte regular com roçadeiras nas entrefileiras e também com máquinas — conta.

Composto orgânico

Neste ano, a marca colocou no mercado pela primeira vez espumantes produzidos com técnicas de zero herbicida e praticamente lixo zero — mais de 99,34% dos resíduos gerados durante o processo produtivo na vinícola são reciclados ou reutilizados, como é o caso do bagaço da uva que vira adubo. Só em 2022 foram 300 toneladas de bagaço e sementes utilizados como composto orgânico.

Hoje são dois rótulos de espumantes sustentáveis: o Chandon Blanc de Noir, com uvas Pinot Noir, lançado em abril, e o recém-lançado Chandon Névoa das Encantadas, um rótulo 100% Chardonnay, ambos de Encruzilhada do Sul. A empresa agora tem a missão de capacitar e engajar seus fornecedores — responsáveis por 60% dos vinhedos utilizados pela empresa na elaboração de suas 2,5 milhões de garrafas anuais — a adotarem as mesmas práticas sustentáveis.

Engajar a cadeia é um dos principais desafios das vinícolas de uma forma geral. No caso da Salton, ele é ainda maior, já que a produção terceirizada responde por cerca de 95%, um total de 15 milhões a 17 milhões de quilos de uvas para espumantes e vinhos. Segundo o engenheiro agrônomo Junior Marques, responsável pelo vinhedo de Sant'Ana do Livramento da Salton, não só é preciso mudar hábitos e crenças antigas, como também oferecer assistência aos menores.

Gregório Salton, enólogo e integrante da quarta geração — Foto: Naiara Bertão/Valor Econômico
Gregório Salton, enólogo e integrante da quarta geração — Foto: Naiara Bertão/Valor Econômico

Para isso, o primeiro passo foi testar as melhores práticas de cobertura vegetal, gotejamento de água, e redução de uso de químicos e adubos no vinhedo próprio, de Sant'Ana. Nela, a colheita é 100% mecanizada.

A tecnologia também é aplicada no monitoramento do solo e da saúde das plantas. A propriedade conta com sensores abastecidos com energia solar que monitoram indicadores de precipitação, temperatura e incidência solar, além de outros com câmeras nos próprios pés e raízes das plantas para medir o microclima, possíveis doenças e que já apontam a necessidade de aplicação de químicos.

Parcerias

Com isso, foi possível, por exemplo, reduzir o uso de adubo (nitrogênio, fósforo e potássio) de 400 para 250 quilos em todo o ciclo da uva, sem perder a produtividade e qualidade.

— Só é aplicado na hora que a planta vai absorver. E sabemos disso por dados de leitura da raiz e fotos do sistema radicular — diz Marques.

A Salton mantém há 10 anos parceria com a Universidade Federal Santa Maria (UFSM) para estudos de solo. Todas as informações alimentam um banco de dados que é usado para tomar decisões, inclusive sobre produtos.

— Quando temos uma uva excepcional, resgatamos o histórico para analisar características e tentar replicar. É quando saímos da arte e entramos na ciência, buscando características analíticas que torna o vinho interessante — comenta Gregório Salton, enólogo e membro da quarta geração à frente da vinícola.

A parceria com a UFSM resultou em uma cartilha com recomendações. Para incentivar os fornecedores a aplicar as técnicas testadas na Salton, a empresa mantém um programa chamado Terroir Salton que oferece assistência técnica e benefício financeiro para quem se engajar. Em média, os membros recebem três visitas de agrônomos por ano.

Dona Ivonir Menegotto e seu filho, Adriano, seguem as recomendações desde 2018 em sua propriedade de pouco mais de dez hectares nas proximidades de Bento Gonçalves.

— Hoje, mantemos a cobertura verde e só usamos herbicida uma vez ao ano. Antes eram três a cinco vezes — conta a produtora de uvas.

Para tentar disseminar o conceito de viticultura sustentável no Brasil, Shana Sabbado Flores, especialista em Gestão e Inovação e professora do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), desenvolveu um protocolo com boas práticas, o BaccuS.

A partir de pesquisa de campo na França, Itália e Espanha e da observação do que outros cinco países estavam fazendo, foi estipulado um conjunto de cem indicadores, incluindo gestão da água, ecoeficiência e biodiversidade.

* A repórter viajou a convite de Salton e Chandon

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