ESG
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Por Cláudio Marques, Especial para o Prática ESG — São Paulo

A paulistana Monalisa Gomes faz parte de um reduzido grupo de brasileiros: o de pessoas negras em cargos de alta liderança. Aos 39 anos, ela é country manager da austríaca Schauer Agrotronic para as três Américas, Portugal, Espanha e Itália e ainda tem assento no conselho de administração da startup Edmond Tech, de soluções financeiras para acesso à energia solar. A Schauer, onde a executiva está há dois anos, é especializada em soluções para alimentação e criação de animais.

Segundo Luciene Rodrigues, gerente de Projetos de Impacto Social no MOVER (Movimento pela Equidade Racial), enquanto 56% dos brasileiros se declaram negros, apenas 4,7% ocupam uma posição de liderança no mundo corporativo. Os números espelham a contradição demográfica e a dificuldade de ascensão profissional da população preta e parda, que é vista em cargos na base da empresa. Mostram como Monalisa é uma exceção.

— Minha carreira foi desenvolvida na raça — diz ela, que é formada em Ciências Contábeis, possui especialização em Finanças, Controladoria e em Negócios Estratégicos Sustentáveis.

Nascida em uma família humilde, morou na periferia, estudou em escolas públicas e trabalha desde a adolescência. Em 2006, entrou na também austríaca Fronius, que atua nas áreas de soldagem, energia solar e baterias.

Dez anos depois, tornou-se CEO da empresa. Em 2021, a executiva fez parte da segunda turma do programa de desenvolvimento da Conselheira 101, organização que prepara mulheres negras para ocupar postos nos conselhos de empresas, onde esses profissionais são ainda mais raros.

Meta de 10 mil líderes

O Conselheira 101 foi criado em 2020. Das três turmas já formadas, 47% das participantes já estão ocupando posições em conselho de administração e 50% ou fizeram movimentações laterais de carreira ou ascenderam a postos mais elevados, conta a cofundadora Jandaraci Araújo.

Também a B3, a Bolsa de Valores do Brasil, juntamente com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e a Iniciativa Empresarial pela Equidade Racial oferecem o Programa de Equidade Racial em Conselhos. Lançado em outubro, formou a primeira turma, com 33 executivos, em novembro.

O trabalho do MOVER vai na mesma linha. As empresas que o compõe já adotam ações estruturadas para atingir a meta de terem mais 10.000 pessoas negras ocupando cargos de liderança até 2030, além das atuais 16.000.

— Sabemos que é preciso mover o ponteiro não só com as pessoas que são negras, mas principalmente com as não negras sendo aliadas nessa causa, para conseguirmos fazer um movimento genuíno — diz Luciane, do MOVER.

Seleção sem viés

Empresas comprometidas com a diversidade podem adotar metas de inclusão, ações afirmativas, seleção sem informações de gênero, raça e formação e programas de trainees exclusivos para negros. O iFood, por exemplo, tem metas públicas de, até o final deste ano, ter 40% de sua equipe de 5.500 pessoas formados por negros e, na liderança em geral, chegar a 30%. Em dezembro eram, respectivamente, 30% e 20,3%.

— Temos um desafio racial. Precisamos acelerar essa pauta internamente na contratação e na retenção — diz Alinne Coviello, líder de Cultura, Comunicação Interna e Diversidade do iFood.

Ações e programas de inclusão e equidade racial ocorrem sobretudo em multinacionais, afirma Ricardo Sales, CEO e sócio fundador do Mais Diversidade, que presta consultoria e desenvolve treinamentos sobre o tema. Para ele, as empresas brasileiras, salvo exceções, ainda não puxam essa agenda com a velocidade necessária:

— E o tema também não aparece nas pequenas, médias e familiares, que são as maiores empregadoras do país.

Para Eliezer Leal, sócio da Singuê, plataforma de desenvolvimento de programas de diversidade, o que impede hoje as pessoas negras de ascender a cargos de liderança nas pequenas e médias empresas é racismo.

Ele lembra que as pessoas negras, hoje, estão em maior número nas universidades públicas. Além disso, participam cada vez mais de processos de trainee, estágio, e têm mais acesso a informação. Sales, da Mais Diversidade, reforça:

— Temos conseguido provar que não é preciso abrir mão de competência para contratar com diversidade. É uma visão preconceituosa de que é preciso abaixar a régua, ou abrir mão de uma série de características.

Atuando no segmento de seleção, contratação e no desenvolvimento de programas de seleção, a plataforma 99Jobs tem mais de 9,78 milhões de pessoas cadastradas em seu banco de dados. Desse total, 1,27 milhão em busca de oportunidades de trabalho se inscreveram em processos em 2022, sendo que mais de 454 mil eram pessoas negras.

De acordo com Eduardo Migliano, co-fundador da 99Jobs, 44,5% dos inscritos nos programas de trainee desenvolvidos pela empresa são negros. Ele acrescenta que, também em 2022, 50% dos programas de estágio e trainee realizados pela 99Jobs em multinacionais e grandes empresas no Brasil tiveram foco em inclusão racial.

— Se antes eu tinha 4 programas que incluiam pessoas negras, agora eu tenho 47 — afirma.

Segundo Migliano, 44% dos aprovados para participar de um estágio ou trainee são negros.

No entanto, os processos comuns de seleção estão mais sujeitos a vieses em relação à raça. O remédio contra esse quadro adotado por muitas organizações é o recrutamento oculto, em que algumas informações, como gênero, idade e nome da faculdade e até endereço são tirados do currículo do candidato em uma tentativa de eliminar os vieses inconscientes.

Apenas informações profissionais são analisadas pelos recrutadores a fim de evitar influências subjetivas que podem aflorar a partir do conhecimento da classe social do pretendente, cor da pele e raça ou se estudou em universidades vistas como de primeira linha.

Para Migliano, porém, o ideal é trabalhar mesmo a mudança de mentalidade das pessoas para que esse tipo de processo seletivo não seja necessário.

— O remédio contra isso [machismo, racismo e outros preconteitos] não é criar uma forma para que o gestor não veja se você é uma mulher ou negro, por exemplo, e sim treiná-lo para não pensar assim, fazer letramento básico — diz o executivo.

Ele reforça que para aumentar a diversidade na empresa é preciso, acima de tudo, intencionalidade:

— Junto com a cor de pele da pessoa vem as vivências, os repertórios, a ancestralidade, e isso, evidentemente, aparece no dia a dia. Portanto, não adianta esconder na entrevista ou no processo seletivo; é necessário mudar a mentalidade — finaliza.

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