ESG
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Por Eliane Sobral, Especial Para O Prática ESG — São Paulo

Graduada em economia e ciências contábeis, mestre em administração financeira e especialização em governança corporativa pela Yale University, e em conselhos de administração, pela Chicago University. A trajetória de Heloísa Bedicks se confunde com a da governança corporativa no Brasil. Por duas décadas, presidiu uma das mais importante entidades a tratar do tema, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Aliás, faz parte da primeira turma de conselheiros formados pelo IBGC, em 1995.

Com o conhecimento acumulado em quase três décadas dedicadas ao tema, no Brasil e no exterior, e com assento em conselhos de administração ou fiscal de importantes empresas, como Mapfre, Vale, Brasilseg, Fundação Boticário e Pacto Global, esses dois últimos como voluntária, ela afirma que o G da agenda ESG foi o tema que mais se desenvolveu no Brasil nos últimos anos.

- É o alicerce da sigla. Se não houver boas práticas de governança, o ambiental e o social não avançam.

O arcabouço legal brasileiro é um dos mais robustos do mundo, diz Heloísa, mas é preciso que as empresas, e seus executivos, estejam realmente comprometidos.

- É o compromisso com a boa-fé, com a verdade, por parte de quem presta informações da empresa, que fará com que casos como o da Americanas não aconteçam.

A seguir, os principais trechos da entrevista

A senhora destaca os avanços da governança no Brasil, mas vemos escândalos como o da Americanas. Não é contraditório?

Quando a B3 lançou o Novo Mercado, que tem critérios mais fortes de governança, eram apenas duas empresas: Sabesp e CCR. Hoje, são mais de 100 companhias. Existe, sim, uma preocupação por parte das empresas com as melhores práticas.

A Americanas tinha conselho de administração, conselheiros independentes, comitê de auditoria, conselho fiscal, ela estava no ISE da B3, estava no Dow Jones Sustainability Index. Se você pegasse um questionário de governança e fosse ticando, ela passaria com louvor. Ela seguia todos os critérios mais importantes de governança.

Apesar das várias instâncias de controle há um rombo bilionário. Dá para passar por todo mundo sem que ninguém veja?

Não temos ainda todas as peças do xadrez da Americanas, então, é difícil analisar. Mas, de forma geral, eu diria que sim. Se há conluio entre acionistas importantes e a administração da empresa, passa sem que ninguém veja.

O conselho de administração recebe informações dos gestores da empresa, a chance de que essas informações venham distorcidas, ou não receber todas as informações necessárias, é muito grande. Por isso que a gente fala que tem de haver boa-fé entre todas essas instâncias dentro de uma empresa.

O que mais, além de boa-fé?

Ética, com certeza, vontade de informar, vontade de ter transparência, principalmente, por parte da gestão da empresa. Quando a gente fala de vontade de informar, não é só passar informações positivas. Transparência significa mostrar a real situação em que a empresa se encontra. Pontos positivos, mas também os negativos. O Magazine Luiza divulgou uma informação que era negativa e o que houve foram muitos elogios à coragem da empresa em alertar o mercado para um fato negativo.

No dia em que foi feito o anúncio, as ações da companhia caíram quase 7%. Muitos CEOs têm receio de colocar o cargo em risco porque o que os acionistas esperam é resultado, não?

Nós temos que sair do capitalismo de shareholders [acionistas], onde é o lucro a qualquer preço, para o capitalismo de stakeholders, pensar em toda a cadeia produtiva, na comunidade, no tanto de recursos naturais que estamos utilizando e quanto isso é sustentável no longo prazo.

As novas gerações trazem um olhar para o mundo que é muito diferente das gerações anteriores. Eles estão preocupados com os recursos humanos, com as comunidades, com a preservação ambiental. A regra é “People, Planet and Profit”. É pensar em pessoas, no planeta para daí pensar no lucro.

Entendo que o fator gerador de existir de uma empresa é dar retorno aos acionistas. Ela tem que dar lucro, mas tem que estar atenta a suas externalidades também. Tem que praticar o capitalismo consciente. Essas discussões existem no Brasil, mas temos muito que avançar. Estamos nos primeiros degraus daquela escada enorme.

O que fazer para ser mais preciso e transparente?

Antes de mais nada é preciso querer informar de forma clara e precisa. E não falo apenas dos riscos financeiros. Por exemplo, as mineradoras deveriam informar os riscos inerentes às atividade delas. Algumas empresas acreditam que basta um relatório de sustentabilidade. Não li o da Americanas, mas só deve ter coisa bonita lá.

A senhora acredita que o Brasil está bem posicionado em governança, quando comparado a outros países?

Por quatro anos, fui vice-presidente do Global Network of Director Institutes, que congrega os maiores institutos de governança e de conselheiros do mundo, e o que a gente discutia muito lá é que, nos Estados Unidos, o mesmo profissional ocupa o posto de presidente do conselho e CEO. É um fator cultural. O profissional não aceita ir para uma empresa se ele mesmo não ocupar esses dois cargos-chaves. O que para nós é algo impensável.

Outro problema que se observa em países que têm estrutura de capital pulverizada é o encastelamento da gestão. Como não tem acionista de referência, o próprio conselho define os conselheiros e escolhe a gestão. O que ocorre é que não há renovação, e o comando pode perdurar por muito tempo.

A OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] e o Banco Mundial, durante muito tempo, promoveram mesas redondas de governança na América Latina. Participei de todas e posso dizer que Chile, Colômbia e México se destacavam em governança. E os mesmos problemas que ocorrem no Brasil existem também nesses outros países. Agora, tem muito o que melhorar e em todos os lugares.

A senhora pode dar exemplo de onde a ética tem faltado?

Vamos voltar ao caso da Americanas. Ela apertava o fornecedor ao máximo. Ela pagava com 180, 270, 360 dias. Que fornecedor consegue ter capital de giro tão grande pra receber dali a seis meses, um ano. Não ter boas relações com os fornecedores não é ético, e isso é um dos pilares do ESG. Existe uma distância muito grande entre o que se fala e o que se pratica. E não é só a Americanas.

A senhora foi conselheira do BNDES por três anos. O que motivou seu pedido de renúncia?

Sou uma pessoa apartidária. Mas acho muito sério no Brasil a colocação de políticos em cargos para os quais eles não têm formação e conhecimento adequados. O político tem que trabalhar no cargo público para o qual ele foi eleito e não querer ter um complemento salarial, participando do conselho de uma empresa, ou por indicação política.

E foi por isso que eu pedi minha renúncia ao conselho do BNDES (ela saiu em janeiro de 2023, no início do governo Lula). Se nós temos uma legislação que diz que 36 meses é o prazo de quarentena, por que mudar isso para um mês? O que é uma quarentena de um mês? Nada! Eu fico muito brava quando vejo esses políticos querendo se apropriar de empresas públicas.

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