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Economia Investimentos

Especialistas dão conselhos sobre como sobreviver às turbulências da Bolsa

Investidor deve evitar olhar aplicativos com dados sobre desempenho das ações e deixar mercado se estabilizar antes de tomar decisões
Operadores na Bolsa brasileira após os negócios terem sido suspensos, por ter havido queda do índice superior a 10% na última semana REUTERS/Amanda Perobelli Foto: AMANDA PEROBELLI / REUTERS
Operadores na Bolsa brasileira após os negócios terem sido suspensos, por ter havido queda do índice superior a 10% na última semana REUTERS/Amanda Perobelli Foto: AMANDA PEROBELLI / REUTERS

RIO — A modelo Aline Malafaia decidiu que só vai olhar seus investimentos uma vez por mês. A carioca faz parte da nova leva de pessoas físicas na Bolsa de Valores, mas, mesmo diante da recente queda dos índices com a crise econômica internacional e a pandemia de coronavírus , não pretende alterar suas posições a curto prazo.

Ela prefere não acompanhar os rendimentos todos os dias para não tomar decisões precipitadas e procura ler informações confiáveis sobre o mercado financeiro.

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— Se olhar todo dia, você enlouquece, tem um infarto a cada oscilação. Estou mantendo minhas posições, porque, se eu sair agora, vou perder dinheiro. Mas é muito difícil ver o dinheiro diminuindo. Trinco os dentes e respiro fundo para manter a calma. Quando surge alguma notícia mais preocupante, perturbo meus assessores de investimentos, mas não faço nenhuma operação no calor das emoções — afirma a modelo.

A atitude de Aline exige controle emocional. Por isso, especialistas indicam algumas atitudes cotidianas que podem ajudar aqueles que têm mais dificuldade de conter a ansiedade: evitar abrir relatórios ou grupos de mensagens sobre finanças; ignorar soluções milagrosas compartilhadas em redes sociais; e, principalmente, dar uma volta e espairecer sempre que pensar em mexer nos investimentos.

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Longo prazo

Diferentemente da crise de 2008, agora as redes sociais são fonte potencial de disseminação de informações — falsas ou verdadeiras — , comenta a especialista em psicologia econômica Vera Rita de Mello. Nos grupos de aplicativos de mensagem e nas caixas de e-mail, alerta ela, não faltam “falsos gurus” em finanças:

— Essa é a primeira crise com redes sociais que estamos vivendo. Isso faz uma diferença gigantesca. Nós não tivemos essa repercussão toda em 2008, muito menos a propagação de informações falsas, alarmistas e descoladas da realidade. Sabe quem troca o álcool em gel pelo vinagre (no combate ao coronavírus) porque viu um vídeo no WhatsApp? Esse comportamento também acontece no mercado financeiro.

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A especialista destaca que a primeira recomendação diante do atual panorama de instabilidade do mercado é não agir por impulso:

— A pressão interna é grande. Ninguém quer perder nada, principalmente dinheiro. A renda variável é um investimento de longo prazo. Você compra e segura. A ideia de ficar transacionando a curto prazo é coisa de profissional. Ou é para iludidos que acham que vão se dar bem no mercado. Se ficar pulando de galho em galho neste momento, o investidor vai acabar perdendo mais do que se esperar a poeira baixar, porque não temos a dimensão exata do que está acontecendo.

A assessora de investimentos da corretora Guide Mayra Lima recomenda que o investidor cheque as informações e filtre a dose de alarmismo das mensagens:

— Com o telefone bombando de mensagens, a gente abre por impulso. Isso afeta muito o lado emocional de todo mundo. Na hora que a pessoa entra e vê a posição, a perda do valor financeiro, a tendência é sair vendendo tudo. O melhor a se fazer é nem abrir nada. Espera a poeira baixar, contata a corretora, se for o caso, vai dar uma volta, mas não toma nenhuma decisão de cabeça quente.

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Diversificação

Além de calma, planejamento financeiro e uma carteira de investimentos diversificada são essenciais para uma boa gestão dos recursos, ressalta Mayra:

— A diversificação é um fator importantíssimo. Não dá para apostar todas as fichas em apenas um tipo de investimento. Além disso, ter um planejamento financeiro ajuda a lidar com essas situações. Entender o que é confortável para poder planejar e saber que caminho tomar.

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Mesmo com uma alta de 13,91% na última sexta-feira, fechando aos 82.677 pontos, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, teve a pior semana dos últimos 12 anos. Entre os dias 9 e 13 de março houve uma desvalorização de 15,63%, a maior perda desde a semana encerrada em 10 outubro de 2008, quase um mês após a quebra do banco Lehman Brothers, marco da crise global. Naquela semana, o Ibovespa caiu 20,01%.

A sensação de desespero não tem acometido apenas os novatos, na visão de Thiago Salomão, analista de ações da corretora Rico. Até mesmo investidores mais experientes, que vivenciaram a crise de 2008, sofreram com as recentes oscilações de mercado, conta:

— Quem pegou a última grande crise está calejado, mas também se machucou. O mercado inteiro foi pego na contramão. Tinha muita gente no carnaval comprando, achando que era a operação da vida. Foi inesperado, muito rápido.

O que ter em mente ao investir

  • Não tome decisões precipitadas. Investimentos de renda variável são a longo prazo. Fazer uma transição por impulso pode acarretar perdas maiores do que esperar o mercado acalmar.
  • Cuidado com informações e soluções milagrosas compartilhadas pelas redes sociais.
  • Se estiver nervoso, não abra relatórios ou grupos de mensagens que tratam de investimentos. Se o nervosismo bater, antes de tomar qualquer decisão, consulte um especialista.
  • Tenha uma carteira diversificada. Dessa forma, fica-se menos exposto, e seus recursos não ficam comprometidos em uma única modalidade de investimento.
  • Peça ajuda. Se possível, contrate um especialista para orientar sua tomada de decisão e apoiar a gestão dos seus investimentos.
  • Informe-se. O mercado financeiro demanda conhecimento. Saiba onde está aplicando e sempre tire dúvidas com seu gestor.