Economia Petrobras

Ex-presidente da Petrobras diz que sofreu pressão política para conter alta de preços dos combustíveis

Em entrevista ao jornal Estado S. Paulo, Castello Branco afirma que Bolsonaro defende interesse de caminhoneiros
O ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco Foto: Jorge William / Agência O Globo
O ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco Foto: Jorge William / Agência O Globo

RIO — O economista e ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco admitiu, em entrevista ao jornal O Estado S. Paulo, que sofria pressões políticas para conter o aumento dos preços dos combustíveis e que o presidente Jair Bolsonaro defendia o interesse dos caminhoneiros , categoria que critica os reajustes.

— As pressões se acumularam no primeiro trimestre de 2021, mas também não foram atendidas  — disse o executivo.

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Castello Branco contou que esteve em comissões no Congresso para explicar a política de preços da Petrobras e que os parlamentares teriam ficado satisfeitos com a explicação, mas não o presidente da República:

— Acho que os parlamentares ficaram satisfeitos com as minhas exposições. Agora, o presidente tem os caminhoneiros autônomos como seus apoiadores. Então, ele defendia os interesses do grupo  — afirmou.

O ex-presidente da Petrobras também revelou ter sofrido pressão em outras áreas:

— Houve alguns pedidos relacionados a gastos com publicidade e à nomeação de pessoas, que eu rejeitei. Comuniquei não só aos meus diretores, mas ao conselho de administração. No fundo, essas coisas contribuíram para me desgastar junto ao governo, mas não me arrependo um milímetro do que fiz.

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Privatização da Petrobras

Castello Branco deixou a Petrobras em março e foi substituído pelo general Joaquim Luna e Silva . Sobre seu sucessor, ele disse ser "difícil colocar uma pessoa que não tem vivência de gestão de negócios" no comando da companhia. Mas reconheceu "o mérito do general (...) porque ele não mudou nada".

Castello Branco também defendeu a privatização da Petrobras , dizendo que "uma sociedade de economia mista é um modelo híbrido inviável". Lembrou que o Estado brasileiro detém cerca de 37% do capital da empresa. E que a iniciativa privada, por meio de milhares de investidores, detém 63%.

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— Mas o governo se acha o dono da Petrobras, o presidente da República diz que ele é o dono da empresa e quer proceder como tal, desobedecendo regras e regulações. Esta é uma confusão que políticos fazem, que o dono da Petrobras é o governo. Não, não é o governo. É o Estado brasileiro, a sociedade, somos todos nós.

Por isso, diz Catello Branco, "não faz sentido tirar dinheiro da Petrobras para subsidiar o consumo de combustíveis por determinados grupos".