Economia Escândalo no Facebook

Facebook tira notícias de sua plataforma na Austrália e afeta serviços de saúde e emergência

Queda de braço entre rede social e governo australiano, que aprovou lei obrigando plataformas digitais a pagarem por conteúdo, vai na contramão do Google
Facebook entrou em rota de colisão com governo e imprensa australiana ao resistir à nova lei que obriga a remuneração de produtores de conteúdo pelas plataformas digitais Foto: Dado Ruvic / REUTERS/3-11-2016
Facebook entrou em rota de colisão com governo e imprensa australiana ao resistir à nova lei que obriga a remuneração de produtores de conteúdo pelas plataformas digitais Foto: Dado Ruvic / REUTERS/3-11-2016

RIO - Na contramão do Google, que fechou acordo para remunerar produtores de conteúdo jornalístico na Austrália para escapar do endurecimento da nova legislação do país sobre o tema, o Facebook decidiu apostar numa estratégia de boicote e resistir.

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A rede social liderada por Mark Zuckerberg anunciou na quarta-feira a decisão de restringir a exibição e compartilhamento de conteúdo noticioso de produtores australianos na sua plataforma para usuários do país.

A rede social tirou do ar contas de veículos de imprensa locais, mas também de órgãos de utilidade pública, provocando revolta entre os australianos. O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, chamou a rede social de "arrogante".

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A empresa não concorda com a nova lei de direitos autorais aprovada pelo governo da Austrália para enquadrar as chamadas big techs . Essas gigantes globais da internet têm resistido à remuneração dos produtores do conteúdo que circula em suas plataformas.

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Com a decisão do Facebook, a imprensa australiana está impedida de compartilhar conteúdo noticioso por meio de suas contas no Facebook, que conta diariamente com alto entre 16 milhões a 18 milhões de usuários diários na Austrália, que tem 25 milhões de habitantes.

A estátua de um canguru foi uma das poucas coisas que sobraram no jardim de uma casa devastada por incêndio florestal em Gidgegannup, a 40 quilômetros de Perth, no nordeste da Australia: Facebook suspendeu serviços de informação em sua plataforma em meio a estado de emergência Foto: TREVOR COLLENS / AFP/4-2-2021
A estátua de um canguru foi uma das poucas coisas que sobraram no jardim de uma casa devastada por incêndio florestal em Gidgegannup, a 40 quilômetros de Perth, no nordeste da Australia: Facebook suspendeu serviços de informação em sua plataforma em meio a estado de emergência Foto: TREVOR COLLENS / AFP/4-2-2021

Na manhã desta quinta-feira na Austrália, páginas de vários veículos noticiosos na rede social haviam sido apagados.

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A decisão do Facebook chegou a afetar os serviços de emergência que usam o Facebook para informar a população sobre riscos de incêndios florestais e ciclones, comuns nesta época do ano.

Também foram afetados serviços de informação do governo sobre a pandemia de Covid-19. As contas dos serviços público de incêndios, saúde e meteorologia de todo o país foram afetadas pelas restrições justamnete em um momento em que várias regiões da Austrália estão em estado de emergência.

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A ministra do Meio Ambiente do país, Sussan Ley, recorreu ao Twitter para dizer que as contas desses serviços governamentais haviam sido suspensas e orientou internautas a se informarem diretamente pelos sites do governo.

Facebook alega que legislação australiana sobre remuneração de conteúdo desconsidera modelo de plataformas digitais como a rede social Foto: Johanna Geron / REUTERS
Facebook alega que legislação australiana sobre remuneração de conteúdo desconsidera modelo de plataformas digitais como a rede social Foto: Johanna Geron / REUTERS

Há ainda registros de suspensão das contas do departamento de saúde de pelo menos três estados, entre eles o de Queensland, o mais populoso, e da ONG voltada para a causa ambiental WWF. Sindicatos também tiveram perfis afetados.

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O serviço nacional de luta contra violência doméstica e organizações de caridade tiveram seus conteúdos apagados na plataforma. A própria página do Facebook em sua rede ficou sem conteúdo para usuários da Australia.

‘Guerra à Austrália’

A postura da rede social não foi bem-recebida por muitos internautas, que voltaram a circular no Twitter a hashtag #DeleteFacebook. Também voltou a pressão para que empresas não anunciem nas plataformas do Facebook e que apoiem o jornalismo profissional.

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O site de um dos jornais afetados pela medida estampou: “Quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021: o dia em que o Facebook declarou guerra à Austrália”

Mark Zuckerberg defendendo as aquisições de WhatsApp e Instagram no Congresso dos EUA Foto: Erin Scott / REUTERS
Mark Zuckerberg defendendo as aquisições de WhatsApp e Instagram no Congresso dos EUA Foto: Erin Scott / REUTERS

O ministro australiano de Finanças, Josh Frydenberg, declarou que havia acordado com o diretor-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, “tratar de encontrar um caminho para o futuro” sobre a discordância da empresa em relação à nova legislação que obriga as chamadas big techs a remunerar produtores de conteúdo jornalístico.

Rede Social aposta em jogo de pressão

A iniciativa faz parte do jogo de pressão do Facebook para resistir à nova legislação que a obriga a pagar pelo conteúdo jornalístico que circula em sua plataforma, que lucra com publicidade.

Em comunicado, o gerente do Facebook para Austrália e Nova Zelândia, William Easton, disse que a lei proposta no país “interpreta mal” a relação entre a plataforma e a mídia.

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Em comunicado, o Facebook afirma que dialogou ao longo de três anos com o governo australiano em busca de uma solução. Este foi o período de discussão que antecedeu a aprovação do código de conduta.

Em uma clara ameaça, o Facebook diz que estava preparado para lançar o Facebook News na Austrália e elevar investimentos no mercado local, mas que só faria isso com as regras que considera corretas em vigor. E afirma que agora deve priorizar investimentos em outros países.

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A rede social explica que está usando uma combinação de tecnologias para restringir o acesso, que impede as empresas de mídia de publicar links no Facebook ou de ter conteúdo visível na rede. A restrição tem caráter global.