Economia

Fed reduz juros a quase zero, lança recompra de US$ 700 bilhões em títulos e ação coordenada com outros BCs

Medidas foram tomadas para combater os efeitos econômicos da pandemia de coronavírus. Última vez que taxas operaram neste patamar foi na crise de 2008.
O presidente americano, Donald Trump, leva a mão ao rosto durante coletiva sobre coronavírus, em Washington Foto: JONATHAN ERNST / REUTERS
O presidente americano, Donald Trump, leva a mão ao rosto durante coletiva sobre coronavírus, em Washington Foto: JONATHAN ERNST / REUTERS

NOVA YORK E WASHINGTON- Em uma segunda medida extraordinária somente neste mês, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) reduziu drasticamente os juros da economia americana. Agora, os percentuais estão na banda entre 0% e 0,25% , com juros reais negativos, ou seja, inferiores à inflação.

A última vez que que os juros da maior economia do mundo operaram neste intervalo foi em 2008, quando o mundo enfrentava a crise global desencadeada pela bolha das hipotecas.

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“Os efeitos do coronavírus irão pesar na atividade econômica a curto prazo e representar riscos para as perspectivas econômicas. À luz desses desenvolvimentos, o Comitê decidiu diminuir o alcance da meta ”, afirmou o Fed, em comunicado divulgado neste domingo.

De acordo com a autoridade monetária dos EUA, a atitude é coordenada com os Bancos Centrais de Canadá, Inglaterra, Japão, Suíça e Europa , que também vão prover liquidez ao mercado com a injeção de dólares nos mercados.

No dia 3, o Fed fez outro movimento fora das reuniões padrões. Naquele momento, cortou os juros em 0,5 ponto percentual, para entre 1% e 1,25% .

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O Fed anunciou ainda a recompra de US$ 700 bilhões em títulos do Tesouro e lastreados em hipotecas, numa tentativa agressiva de impedir que as perturbações do mercado agravem o que provavelmente será uma grave desaceleração da economia causada pelo coronavírus

"O surto de coronavírus prejudicou comunidades e interrompeu a atividade econômica em muitos países, incluindo os Estados Unidos", disse o comitê no comunicado. "O Federal Reserve está preparado para usar toda a sua gama de ferramentas para apoiar o fluxo de crédito para famílias e empresas".

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O Fed comprará pelo menos US $ 500 bilhões em títulos do Tesouro e US $ 200 bilhões em títulos lastreados em hipotecas nos próximos meses para ajudar a desobstruir os mercados que se tornaram disfuncionais na semana passada, informou o banco central. Ele disse que iniciaria o programa  nesta segunda-feira.

O Fed disse que estava ativando linhas com outros cinco bancos centrais,  para amenizar as interrupções nos mercados estrangeiros de financiamento em dólar, incentivando efetivamente os bancos centrais estrangeiros a usar as instalações existentes para fornecer dólares a seus bancos. sistemas financeiros próprios.

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O presidente Donald Trump elogiou a ação do Fed e garantiu que não vai faltar produtos, pedindo para que a população não corra aos mercados.

— As compras estão no mesmo nível do Natal. Estão comprando três a cinco vezes mais do que costumam comprar. Mas não vai faltar produtos, estamos falando com as empresas — disse Trump, logo após a divulgação do comunicado do Fed.

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Roberto Dumas, professor de economia internacional do Insper, avalia os juros zerados nos Estados Unidos terão muito mais impacto sobre as empresas do que na economia como um todo.

— Essa medida não vai prejudicar a economia, mas também não significa que vai impulsioná-la. O corte nos juros não vai tirar a histeria dos mercados, pode apenas melhorar a condição de empresas endividadas. Isso, não necessariamente, quer dizer que a econmia vai voltar a crescer -- avalia.

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Dumas acredita que a medida tem como grande objetivo aliviar um pouco a situação de empresas que rumam à falência:

— Juro baixo diminui o custo de rolagem da dívida de quem está endividado. E, eventualmente, posterga a falência de empresas que já estão condenadas.

André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, avalia como negativa a decisão extraordinária do BC americano em zerar os juros da economia

— O FED está tentando reagir a uma crise que a política monetária tem muito pouco o que fazer. Cortar os juros agora só aumenta a volatilidade ao jogar mais dinheiro na mesa de uma economia que precisa de respostas objetivas e diretas, não de maneira difusa como é o efeito esperado da política monetária. A hora é de políticas fiscais, não de afrouxamento monetário.

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Na avaliação do economista, com o novo patamar dos juros, a instabilidade nos mercados persistirá por mais tempo:

— Esta medida irá prolongar os ruídos uma vez que impede que os agentes financeiros "deem o preço correto" aos desafios da economia real. Esta medida do Fed torna amplamente disfuncional os mecanismos de mercado neste momento.