Finanças
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Por The New York Times — Nova York

A indústria de criptomoedas é conhecida por reviravoltas dramáticas, preços de montanha-russa e fortunas que aparecem e desaparecem da noite para o dia. Mas mesmo pelos padrões do mundo da criptografia, o que aconteceu esta semana foi uma loucura.

A crise que envolve a plataforma de negociação de criptoativos FTX.com, de Sam Bankman-Fried, está se agravando rapidamente, com o alerta de falência da empresa caso não consiga fundos para cobrir um déficit de até US$ 8 bilhões.

Bankman-Fried informou isso aos investidores na quarta-feira, pouco antes de a rival chinesa Binance desistir abruptamente de uma oferta de compra. Ele disse que a FTX.com precisava de US$ 4 bilhões para permanecer solvente e está tentando levantar financiamento de resgate na forma de dívida, capital ou uma combinação dos dois, de acordo com uma fonte.

Para observadores do mundo não cripto, as notícias do colapso da FTX, uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo, podem parecer complicadas ou fantasiosas, o tipo de história que você passaria batido ao buscar novidades sobre as últimas ações de Elon Musk no Twitter. Mas no mundo dos criptoativos, o imbróglio já está sendo mencionado como o “momento Lehman” da indústria.

Trata-se de uma referência ao colapso do Lehman Brothers, em 2008, que desencadeou uma crise financeira global e deixou claro para os leigos qual o tamanho dos problemas em Wall Street.

De fato, a crise da FTX – incluindo uma tentativa fracassada de se vender para a rival chinesa Binance – pode se tornar a narrativa cripto mais emocionante do ano, um drama envolvendo bilionários rivais, rumores de sabotagem e apostas altas sobre o futuro da indústria cripto. É uma queda repentina e impressionante de uma das maiores, digamos, celebridades do mundo das criptomoedas. E sinaliza que o setor, que já sofre com um ano brutal de perdas, pode enfrentar tempos ainda mais difíceis.

Briga de titãs

No entanto, para entender melhor o caso, é necessário conhecer algumas das complicadas histórias que envolvem a FTX.

Existem duas corretoras onde a maioria das negociações de criptomoedas em todo o mundo são realizadas: Binance e FTX.

A Binance, a maior das duas exchanges, é administrada pelo bilionário chinês Changpeng Zhao, conhecido nos círculos de criptomoedas como C.Z. As operações da Binance são um tanto obscuras.

A chinesa não tem sede oficial e se envolveu com autoridades e órgãos reguladores em muitos países onde opera, mas tem sido extremamente bem-sucedida e atualmente controla cerca da metade do mercado de câmbio de criptomoedas.

A FTX, que tem sede nas Bahamas, é administrada por Sam Bankman-Fried, um bilionário americano de 30 anos e grande doador democrata. A empresa foi avaliada em US$ 32 bilhões em sua última rodada de captação de recursos.

Anúncios no Super Bowl e celebridades

A FTX também é mais conhecida que a Binance nos Estados Unidos, em parte porque gastou milhões de dólares em anúncios do Super Bowl, direitos de nome de estádios esportivos (o Miami Heat joga na FTX Arena) e organizou conferências onde celebridades como Bill Clinton e Tom Brady aparecem.

A FTX também é considerada (ou era, até esta semana) como uma das empresas "blue chip" da criptomoeda: o tipo de empresa estável e bem capitalizada que sobreviveu mesmo quando o resto do mercado de criptomoedas estava em queda livre.

Na verdade, passou grande parte deste ano socorrendo outras empresas de criptomoedas e foi geralmente considerada pelos investidores como responsável e madura, sem ter se envolvido em negociações arriscadas e especulativas.

Nerd de bermudas X 'renegado'

Bankman-Fried, conhecido como S.B.F., ficou muito famoso com o sucesso da FTX e se tornou uma espécie de garoto-propaganda para toda a indústria de criptomoedas. Ele é um nerd peculiar e despretensioso, que usa shorts e bermudas cargo e ostenta cabelos despenteados, e vem cultivando uma reputação de magnata das criptomoedas cumpridor da lei.

Em uma capa recente, a revista Fortune o chamou de “o próximo Warren Buffett”.

Zhao, da Binance, por outro lado, é conhecido como um "renegado". Ele resistiu aos pedidos de mais regulamentação de criptomoedas, e a Binance foi banida em vários países por operar sem licenças adequadas.

Sob pressão dos reguladores, a Binance bloqueou os usuários dos EUA de sua plataforma principal em 2019 e configurou a Binance.us, uma exchange separada que deveria operar legalmente nos Estados Unidos.

Disputa sobre regulação

Este ano, enquanto a indústria cripto estava sob escrutínio em Washington, Bankman-Fried e a FTX começaram a fazer lobby no Capitólio, gastando milhões para conquistar legisladores céticos e implementar regulamentações amigáveis ​​às criptomoedas.

Esses esforços de lobby dividem opiniões. Alguns fãs de criptomoedas apoiaram a pressão da FTX por mais regulamentação, mas outros acusaram Bankman-Fried de tentar derrubar os rivais, pressionando por leis que prejudicariam concorrentes, mas deixariam os negócios da FTX intactos.

Zhao estava entre aqueles que se opuseram ao esforço de lobby da FTX. “Não apoiaremos pessoas que fazem lobby contra outros players do setor pelas costas”, escreveu ele no Twitter. Ele e Bankman-Fried já foram amigos e, inclusive, a Binance foi um dos primeiros investidores na FTX.

Mas os dois bilionários se separaram quando os objetivos de suas empresas divergiram. E agora, eles estão oficialmente brigando justamente por causa desse lobby.

Intrigas e documentos vazados

Na semana passada, o canal de notícias cripto CoinDesk informou sobre um documento vazado que alegou que o fundo de hedge cripto do Bankman-Fried, o Alameda Research, tinha participações extraordinariamente grandes de tokens FTT. O relatório sugeria que a FTX e a Alameda, que eram negócios nominalmente separados, estavam de fato intimamente relacionadas.

Alguns observadores de criptomoedas especularam que Zhao e Binance podem ter vazado o documento para semear dúvidas sobre a estabilidade do FTX, mas a Binance negou.

Após o relatório, Zhao anunciou que a Binance venderia toda a sua participação em tokens FTT - no valor de cerca de US$ 500 milhões - por causa de "revelações recentes" sobre Alameda e FTX. O anúncio fez com que o valor do FTT despencasse.

Com medo de perder seu dinheiro, os investidores retiraram mais de US$ 6 bilhões da bolsa da FTX durante um período de três dias, deixando a empresa lutando por dinheiro para cobrir suas obrigações. Bankman-Fried tentou tranquilizar os investidores, tuitando que “o FTX está bem” e que “um concorrente está tentando nos perseguir com rumores falsos”.

Um tenta comprar o outro

Mas o pânico continuou e, depois de tentar sem sucesso conseguir um resgate de investidores privados, Bankman-Fried anunciou na terça-feira que venderia sua empresa (exceto a parte regulamentada pelos EUA, conhecida como FTX.us) para Zhao e a Binance.

Na quarta-feira, a Binance mudou de ideia e anunciou que desistiria do acordo, dizendo que depois de examinar os livros da empresa, decidiu que os "problemas da FTX estão além de nosso controle ou capacidade de ajudar".

Binance, de Changpeng Zhao (à direita), acabou desistindo de comprar a FTX de Sam Bankman-Fried — Foto: Bloomberg
Binance, de Changpeng Zhao (à direita), acabou desistindo de comprar a FTX de Sam Bankman-Fried — Foto: Bloomberg

Tudo isso aconteceu em tempo real no Twitter, onde Zhao e Bankman-Fried são ativos. E onde Zhao, desde a semana passada, é sócio - a Binance investiu cerca de US$ 500 milhões na aquisição da empresa por Elon Musk.

Enquanto o mundo cripto se recuperava das notícias do colapso da FTX, os funcionários e investidores da FTX tentaram entender o que havia acontecido. Bankman-Fried, em carta aos investidores, pediu desculpas por não ter tomado mais precauções.

“Lamento não ter feito melhor”, escreveu ele.

Zhao, por sua vez, parecia se divertir com a situação de seu maior rival, tuitando lições como “Nunca use um token que você criou como garantia”.

O colapso repentino da FTX levanta muitas questões sobre o futuro da criptomoeda. Primeiro, o que acontecerá com os clientes da FTX e seu dinheiro?

Ao contrário dos depósitos em uma conta bancária tradicional, os depósitos em exchanges de criptomoedas não são segurados pelo governo, e há dúvidas sobre se a FTX possui ativos suficientes para manter seus clientes restantes.

Se a empresa pedir proteção contra falência, como as empresas de criptomoedas Voyager Digital e Celsius Network fizeram este ano, os investidores poderão lutar por seu dinheiro – ou o que resta dele – nos tribunais.

E será que colapso da FTX desencadeará uma falha de mercado mais ampla, como o colapso do Lehman Brothers em 2008?

As notícias já se espalharam pelo resto do mercado de criptomoedas. Os preços do Bitcoin e do Ether caíram na terça-feira.

As ações de empresas de criptomoedas de capital aberto, como a Coinbase, também caíram. Os investidores da FTX, que incluem Sequoia Capital, Lightspeed Venture Partners e SoftBank, provavelmente perderão a maior parte ou todos os seus investimentos. E dado o quão entrelaçado o FTX estava com o resto da economia criptográfica, pode demorar um pouco até sabermos a extensão total do dano.

A esperança é que, em contraste com 2008, quando o colapso de Wall Street se transformou em uma crise financeira global que levou milhões de americanos a perder seus empregos e casas, as consequências do colapso da FTX permanecerão principalmente contidas na indústria de criptomoedas. Mas ainda é cedo para dizer.

Os dias de Bankman-Fried como um magnata das criptomoedas podem ter acabado. Na terça-feira, a Bloomberg estimou que seu patrimônio líquido havia caído 94% e que ele não era mais um bilionário.

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