Wall Street disse adeus e boa viagem para 2022, um ano que a maioria dos investidores prefere esquecer. Todos os três principais índices caíram nessa sexta-feira, registrando seu pior ano desde 2008 e encerrando uma sequência de altas nos três anos anteriores.
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Dow Jones, que perdeu 0,2% na última sessão, termina o ano com queda de cerca de 9%. Já o S&P 500, que se desvalorizou em 0,3% na sexta-feira, teve baixa de cerca de 20% em 2022. Nasdaq, por sua vez, perdeu 0,1% no último pregão e caindo 33% no ano.
As ações europeias também garantiram a pior corrida anual desde 2018, fechando o ano com perda de 11,8%.
Com uma queda de mais de 20% em 2022, o MSCI All-Country World Index, que mede o desempenho de mais de 3 mil ações de mercados desenvolvidos e emergentes, está a caminho de seu pior desempenho desde a crise de 2008, já que os aumentos das taxas de juros pelo Federal Reserve mais do que dobraram os rendimentos do Tesouro de 10 anos.
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O colapso das as ações globais chega ao recorde de US$ 18 trilhões. Para escapar de um segundo ano consecutivo no vermelho, será preciso enfrentar muitos obstáculos, que vão do aumento de casos de covid na China a inflações descontroladas.
Dois anos em queda são raros
Os investidores que olham para 2023 podem se consolar com o fato de que dois anos consecutivos de baixa são raros para os principais mercados de ações. O índice S&P 500 caiu por dois anos consecutivos em apenas quatro ocasiões desde 1928. O assustador, porém, é que quando isso acontece, as quedas no segundo ano tendem a ser mais profundas do que no primeiro.
Os otimistas podem acreditar que o pico de alta da taxa de juros está perto, possivelmente em março, com os mercados monetários esperando que o Fed comece a cortar juros até o final de 2023. Uma pesquisa da Bloomberg News descobriu que 71% dos principais investidores globais esperam que as ações subam em 2023.
Vincent Mortier, diretor de investimentos da Amundi, a maior administradora de recursos da Europa, recomenda um posicionamento defensivo para os investidores que estão entrando no ano novo. Ainda avalia que a primeira parte do ano pode ter pontos de entrada interessantes.
Após, no entanto, o ano surpreender até mesmo os mais experientes analistas financeiros, muitos estão se preparando para novas reversões. Um risco é que a inflação permaneça alta demais e os cortes nas taxas não se concretizem. Uma estimativa da Bloomberg Economics aponta probabilidade de 100% de recessão a partir de agosto, mas parece improvável que os bancos centrais se apressem em flexibilizar as políticas quando confrontados com rachaduras na economia, uma estratégia que eles adotaram repetidamente na última década.
“Os formuladores de políticas, pelo menos nos EUA e na Europa, agora parecem resignados com um crescimento econômico mais fraco em 2023”, disse Christian Nolting, diretor global de investimentos do Deutsche Bank Private Bank, a clientes em nota. As recessões podem ser curtas, mas “não serão indolores”, alertou.
Grandes problemas tecnológicos
Uma grande incógnita é como os papéis de tecnologia se sairão. A Tesla (TSLA) de Elon Musk caiu cerca de 70%, tornando-se uma das empresas com pior desempenho este ano. A Meta, controladora do Facebook, também aparece entre as dez últimas ações, após queda de 65%. Até a Apple, geralmente considerada mais resiliente do que outras empresas de tecnologia, caiu 31%, mais do que o mercado geral em 2022.
As ações de tecnologia de alto valor sofrem mais quando as taxas de juros sobem. Há ainda outro problema: tendências que apoiaram o avanço da tecnologia nos últimos anos podem retroceder. Enquanto a recessão econômica ameaça atingir a demanda do iPhone, uma queda na publicidade online pode arrastar a Meta e a Alphabet, dona do Google.
“Alguns dos nomes da tecnologia voltarão porque fizeram um ótimo trabalho convencendo os clientes a usá-los, como a Amazon, mas outros provavelmente nunca atingirão esse pico porque as pessoas mudaram”, Kim Forrest, diretor de investimentos da Bokeh Capital Partners , disse à Bloomberg Television.
Recessão de ganhos
Espera-se que os lucros corporativos anteriormente resilientes desmoronem em 2023, à medida que a pressão aumenta nas margens e a demanda do consumidor enfraquece.
“O capítulo final deste mercado baixista é sobre o caminho das estimativas de ganhos, que são muito altas”, de acordo com Mike Wilson, do Morgan Stanley, que prevê ganhos de US$ 180 por ação em 2023 para o S&P 500, contra as expectativas dos analistas de US$ 231.
Segundo ele, a próxima recessão de lucros pode rivalizar com 2008, e os mercados ainda não avaliaram isso.
A decisão de Pequim no início de dezembro de desmantelar as rígidas restrições da covid parecia um ponto de virada para o Índice MSCI da China, cuja queda de 24% foi um dos principais contribuintes para as perdas do mercado global de ações em 2022. No entanto, um aumento nas infecções ameaça a recuperação econômica. Muitos países agora estão exigindo testes de covid para viajantes chineses, o que é negativo para as ações globais de viagens, lazer e luxo.