Finanças
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Por Vitor da Costa — Rio

O Federal Reserve, Banco Central americano, elevou a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira. Apesar do sétimo aumento consecutivo nos juros, a instituição promoveu uma redução no ritmo de seu aperto monetário. O Fed vinha de quatro elevações consecutivas de 0,75 ponto percentual.

Com a decisão, agora os juros estão na faixa entre 4,25% e 4,50%, maior nível desde o final de 2007. A votação foi unânime. O banco também anunciou suas novas projeções econômicas.

Apesar de reduzir o ritmo de altas, o banco reforçou que segue priorizando o combate a inflação e que novas altas serão necessárias ao longo de 2023. O Fed ressaltou que está fortemente empenhado em convergir a inflação ao seu objetivo de 2%, e que estaria preparado para calibrar a orientação da política monetária conforme apropriado "caso surgissem riscos que pudessem impedir o alcance de suas metas".

"O Comitê antecipa que os aumentos em curso na faixa da meta serão apropriados para atingir uma postura de política monetária suficientemente restritiva para retornar a inflação para 2% ao longo do tempo", destaca o banco no documento.

Segundo o anúncio, para se determinar o ritmo de aumentos futuros, os dirigentes do banco levarão em conta o aperto acumulado da política monetária, as defasagens com que essa política afeta a atividade econômica e a inflação e os desenvolvimentos econômico-financeiros.

Em seu anúncio, o Fed afirma que continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências, conforme descrito nos seus planos de redução de balanços.

A redução no ritmo de aperto já era esperada pelo mercado após as últimas declarações públicas do presidente do Fed, Jerome Powell.

Mais altas pela frente

O aumento nas taxas tem como objetivo combater a inflação elevada no país. Em entrevista após o anúncio, Powell destacou que o trabalho de combate à inflação não está terminado. Ele reforçou o mercado de trabalho ainda aquecido, apesar das altas de juros já realizadas.

— Ainda temos um longo caminho a percorrer. [...] Restaurar a estabilidade de preços provavelmente exigirá a manutenção de uma política restritiva por algum tempo — disse Powell.

O dirigente reforçou que o tamanho do aumento da taxa entregue em 1º de fevereiro, na próxima reunião do Fed, dependeria dos dados recebidos, deixando a porta aberta para outro movimento de 0,50 ponto percentual ou de uma magnitude inferior.

— É nosso julgamento hoje que ainda não estamos em uma posição de política suficientemente restritiva.

Powell havia sinalizado anteriormente planos para moderar as altas, enfatizando que o ritmo de aperto é menos significativo do que o pico e a duração das taxas em um nível alto.

Os últimos indicadores até mostraram uma desaceleração do aumento dos preços, mas a inflação segue longe da meta do Fed, de 2%. Segundo dados do Departamento do Trabalho, divulgados na quarta-feira, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% em novembro após avançar 0,4% em outubro.

No acumulado de 12 meses, a alta é de 7,1%, a menor para essa base desde dezembro de 2021, e uma desaceleração ante os 7,7% registrados em outubro.

O núcleo do índice, que exclui componentes voláteis de alimentos e energia, avançou 0,2% em novembro ante os 0,3% registrados no mês anterior. Na base anual, o núcleo acumula alta de 6%, queda em relação aos 6,3% vistos em outubro.

Ainda assim, o relatório de geração de empregos, o payroll, de novembro, indicou que o mercado de trabalho segue aquecido, o que pressiona a inflação.

— Os dados de inflação recebidos até agora em outubro e novembro mostram uma redução bem-vinda no ritmo dos aumentos de preços, mas serão necessárias substancialmente mais evidências para dar confiança de que a inflação está em uma trajetória descendente sustentada — disse Powell

Patamar de juros nos EUA — Foto: Editoria de Arte
Patamar de juros nos EUA — Foto: Editoria de Arte

Projeções: mais juros e PIB menor

Além do anúncio sobre os juros, os agentes de mercado esperavam a divulgação do “dot plot”, ou resumo das projeções econômicas. O gráfico mostra a mediana das expectativas dos dirigentes do banco para os juros, inflação, desemprego e Produto Interno Bruto (PIB) para os próximos anos. Já eram esperadas mudanças nas estimativas.

Os formuladores de política monetária projetam que as taxas de juros terminariam no próximo ano em 5,1%, de 4,6% da previsão divulgada em setembro. Elas seriam reduzidas para 4,1% em 2024 contra os 3,9% da projeção anterior. Para 2025, a projeção foi elevada de 2,9% para 3,1%.

No caso da inflação, medida pelo PCE, o Fed projeta uma taxa de 5,6% (ante 5,4%) ao término deste ano e de 3,1% (ante 2,8%) no fim de 2023. Para 2024 e 2025, as estimativas são de 2,5% e 2,1%, elevações ante os 2,3% e 2%, previstos anteriormente.

Para o núcleo, as estimativas são de 4,8% em 2022 e de 3,5%, em 2023. Para 2024, a projeção é de 2,5% e para 2025, de 2,1%.

As previsões atualizadas também mostraram que o desemprego ficará em 3,7% no final deste ano, e em 4,6% ao término do próximo, permanecendo no mesmo patamar ao final de 2024. Para 2025, a projeção é de uma taxa a 4,5%.

A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi elevada para 0,5% ao fim deste ano, ante os 0,2% divulgados em setembro. Para 2023, houve corte de 1,2% para 0,5% e, para 2024, recuo de 1,7% para 1,6%. Em 2025, a projeção está em 1,8%, mesmo patamar divulgado em setembro.

Corte de juros mais distante

O gestor de mercados internacionais da Gap Asset, Bernard Tamler, avaliou o anúncio do banco como hawkish (favorável à retirada de estímulos).

Após a comunicação do banco, Tamler avalia como prematuro o debate de ciclo de corte de juros, o que chegou a animar o mercado recentemente.

— As projeções vieram hawkish, com revisão de inflação e juros para cima. A estimativa de juro ao final de 2023 foi muita mais para o 5,1% do que o 4,9%, que o mercado projetava. Ele (Powell) desmereceu bastante o corte de juros em 2023. O mercado precifica os juros a 4,30% no final de 2023 e ele foi bastante evasivo, destacando que o objetivo é manter a inflação baixa.

No fim do pregão, o índice Dow Jones caiu 0,42% e o S&P, 0,62%. A Bolsa Nasdaq cedeu 0,76%. No mercado local, o Ibovespa subiu 0,20%, aos 103.746 pontos. Já o dólar caiu 0,25%, negociado a R$ 5,3015.

O economista-chefe do Banco Modal, Felipe Sichel, também avalia o anúncio como mais hawkish, principalmente pela elevação na projeção de juros para o fim do próximo ano e nos anos subsequentes.

Ainda assim, ele enxerga espaço para uma elevação de menor magnitude na próxima reunião, na casa de 0,25 ponto percentual, uma vez que o foco do banco será mais na manutenção dos juros em patamares elevados do que no ritmo.

— Temos dois problemas concomitantes. O primeiro é desacelerar a inflação e isso parece que está acontecendo, e o segundo é garantir que essa desaceleração seja consistente para cumprir a meta do Fed no médio prazo, o que ainda está distante.

Para Sichel, o debate sobre uma possível recessão irá depender das divulgações dos próximos indicadores econômicos.

— Chamaria atenção para a magnitude do aumento da taxa de desemprego e a desaceleração do PIB. Aumentar o desemprego em quase 1 ponto percentual, como está projetado entre 2022 e 2023, é muito difícil que a gente não esteja falando de uma desaceleração mais acentuada da economia americana.

Para Tamler, o Fed avalia a possibilidade de uma recessão nos EUA no próximo ano, mas de curta duração.

A economista-chefe Upon Global Capital, Nicole Kretzmann destaca que o próximo ano será marcado por incertezas em relação ao “timing” do ciclo de corte nas taxas, até que a maioria dos dirigentes do Fed chegue a um consenso.

— A maior incerteza daqui para frente será por quanto tempo a taxa de juros se manterá no seu nível mais alto, o que também pode ser percebido dada a grande de dispersão entre os integrantes do comitê para a quantidade de cortes que devem ocorrer em 2024.

A decisão desta quarta-feira encerra um ano desafiador para o BC americano, que inicialmente demorou para começar a apertar a política monetária em resposta ao aumento das pressões de preços.

E o Brasil?

O economista-chefe do Banco Modal, Felipe Sichel, destaca que os ativos brasileiros perderam a possiblidade de acompanhar o movimento positivo do mercado externo nas últimas semanas devido à perspectiva de desaceleração da alta nos juros. Para ele, caso os problemas internos sigam pesando e haja desaceleração no exterior, a tendência é negativa para os nossos ativos.

—Vamos sair dessa discussão de aceleração do ritmo do Fed e entrar mais em uma discussão de recessão nos Estados Unidos. E se for essa a mudança, isso será negativo para os ativos brasileiros.

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