Diante do tombo de mais de 77% das ações da Americanas na quinta-feira, com o anúncio de inconsistências contábeis na casa dos R$ 20 bilhões em seu balanço, os investidores que carregam esses papéis ou títulos de dívida da empresa em suas carteiras se questionam sobre o que fazer com os ativos.
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Da mesma forma, aqueles que olham a ação com preço descontado, podem estar se perguntando se não seria um bom momento para entrada no papel. Hoje, por exemplo, as ações da companhia subiram 15,81%, negociadas a R$ 3,15.
Para analistas, no entanto, o momento é de cautela para ambos os casos. Isso porque ainda não se tem todas as informações sobre o que de fato aconteceu com a empresa e qual será o impacto das inconsistências para a sua alavancagem e negociação de dívidas com os credores.
Diversos bancos e corretoras colocaram suas recomendações sobre a empresa em revisão, justamente na espera de maiores informações para avaliar os efeitos. Mas é claro que deve se levar em conta o perfil de cada investidor, seus objetivos e os riscos que se está disposto a correr.
Veja fotos das Lojas Americanas ao longo dos anos
![Lojas Americanas: empresa foi fundada em 1929, na cidade de Niterói, no então estado da Guanabara, pelos empresários Max Landesmann (da Áustria), John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger (dos Estados Unidos). — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/gpy0gqxa4qPj-DJs78pIYvdrzPY=/0x0:768x432/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/N/i/bJyc6kTFaq6H6sjvKRsA/85-768x432.jpg)
![Lojas Americanas: empresa foi fundada em 1929, na cidade de Niterói, no então estado da Guanabara, pelos empresários Max Landesmann (da Áustria), John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger (dos Estados Unidos). — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/RWoO25IED8gzUqQLPCfumgxtA6U=/768x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/N/i/bJyc6kTFaq6H6sjvKRsA/85-768x432.jpg)
Lojas Americanas: empresa foi fundada em 1929, na cidade de Niterói, no então estado da Guanabara, pelos empresários Max Landesmann (da Áustria), John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger (dos Estados Unidos). — Foto: Reprodução
![Em 1982, os principais acionistas do Banco Garantia, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, entraram na composição acionária de Lojas Americanas como controladores. — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/v6wCc74_LBaG8sdceNPfbdJKZt4=/0x0:535x315/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/M/z/gV5pVPSbGRZjhpadafcg/amerianas-1.jpg)
![Em 1982, os principais acionistas do Banco Garantia, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, entraram na composição acionária de Lojas Americanas como controladores. — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/fEp8F5bYm6E0l0gnmone_VT1kvE=/535x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/M/z/gV5pVPSbGRZjhpadafcg/amerianas-1.jpg)
Em 1982, os principais acionistas do Banco Garantia, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, entraram na composição acionária de Lojas Americanas como controladores. — Foto: Reprodução
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![Lojas Americanas na Rua Marechal Deodoro, em Juiz de Fora, em outubro de 1969. — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/3D9FMWaD0NJod5hbAmZz6wOro2U=/0x0:564x916/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/M/sE8IADSVWAb1dEMFsMKw/4a99133194872335200d974a67492684.jpg)
![Lojas Americanas na Rua Marechal Deodoro, em Juiz de Fora, em outubro de 1969. — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/CtRb4kocAqxpw94lyJEUVDO06B4=/564x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/M/sE8IADSVWAb1dEMFsMKw/4a99133194872335200d974a67492684.jpg)
Lojas Americanas na Rua Marechal Deodoro, em Juiz de Fora, em outubro de 1969. — Foto: Reprodução
![Lojas Americanas na Rua Halfeld, em Juiz de Fora, julho de 1973. — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/goDq1pjfBT6UtxVpO4kzG7baRsA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/M/6/12UBiFQy69onfLnFR7Iw/halfeld-americanas-julho-1973-res.jpg)
Lojas Americanas na Rua Halfeld, em Juiz de Fora, julho de 1973. — Foto: Reprodução
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![Clientes em uma das lojas no Rio, em 1979. — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/RzeFpxwc8ajUo4gsp1BBI0rrqeg=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/P/A/6eOsFXT9iQwuj9HHk3MQ/20371856-rj-06-04-1979-comercio-rj-lojas-americanas.-foto-anibal-philot-agencia-o-globo-negati.jpg)
Clientes em uma das lojas no Rio, em 1979. — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
![Clientes em uma das Lojas Americanas no Rio, em 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/4gOnXU0SSD3yII_RRa_MdVwL0aQ=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/o/K/By5mLiQCGhBG9Mm1tLRA/20443168-rj-06-04-1979-comercio-rj-lojas-americanas-anibal-philot-agencia-o-globo-negativo-79-1-.jpg)
Clientes em uma das Lojas Americanas no Rio, em 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
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![Fachada de uma loja em 1987 — Foto: Alexandre França / Agência](https://s2-oglobo.glbimg.com/1v_pw5iZ70sRUek1be0o4dULenA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/I/2/BBsfgETV2dQKf2b48fxQ/20325391-rj-23-09-1987-comercio-rj-lojas-americanas-alexandre-franca-agencia-o-globo-negativo-1-.jpg)
Fachada de uma loja em 1987 — Foto: Alexandre França / Agência
![Evolução da identidade visual da marca — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/bEjkJhBx8Gv0OAUUn8EFB-sUEgo=/500x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/Z/5VtFuQT3GxnTfh7Rxsjg/americanas-logos.jpg)
Evolução da identidade visual da marca — Foto: Reprodução
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![Frente de uma loja em 1991. — Foto: Ricardo Mello](https://s2-oglobo.glbimg.com/nrqJGjnXN92qs-gSZ46yq6dMIkQ=/1070x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/O/C/2NEBf7QhGxlJ8YHkJupA/20318214-rj-12-12-1991-comercio-rj-lojas-americanas.-foto-ricardo-mello-agencia-o-globo-negati-1-.jpg)
Frente de uma loja em 1991. — Foto: Ricardo Mello
![Loja Americanas no Plaza Shopping, em Niterói, em 2006. — Foto: Letícia Pontual](https://s2-oglobo.glbimg.com/t3FmKdGu2cPys6jIay_l_cwbvZU=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/c/JfU2DlRUeDEbZCJI4MPA/38258307-01112006-leticia-pontual-jb-ni-preparacao-financeira-para-o-natal-abertura-de-credi.jpg)
Loja Americanas no Plaza Shopping, em Niterói, em 2006. — Foto: Letícia Pontual
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![Lojas Americanas se encontra em meio a uma crise com rombo de 20 bilhões de reais — Foto: Hermes de Paula](https://s2-oglobo.glbimg.com/B6248Xi0TdRqSSuGT5HOgFrJSVA=/1358x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/e/C/FPzRkORVyebFWA7RIBjg/101771257-ec-rio-de-janeiro-rj-16-01-2023-crise-lojas-americanas.-foto-hermes-de-paula-agencia-1-.jpg)
Lojas Americanas se encontra em meio a uma crise com rombo de 20 bilhões de reais — Foto: Hermes de Paula
Cautela é a melhor aliada
Entre os investidores que trincaram os dentes na quinta-feira, estava o cirurgião-dentista Thiago Andrade, de 35 anos. Ele investe nas Lojas Americanas desde 2022.
De início, Andrade aplicou R$ 15,8 mil, considerando o que avaliou como um bom "histórico da empresa" e também porque, segundo ele, naquele momento as ações estavam "bastante descontadas". Quando soube do rombo de R$ 20 bilhões anunciado nesta quinta-feira, porém, a reação não poderia ter sido diferente:
— Pensei que eu perderia tudo — declarou ele, que, até o momento, já teve o prejuízo de R$ 13 mil. Apesar disso, completou: — No momento não vou alterar nada (nos investimentos).
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Dessa forma, mesmo que o investidor esteja com calafrios ao ver o painel de ações da Americanas, o mais recomendado é esperar, assim como fez Andrade.
— Para quem já estava posicionado, o momento é de cautela e de não se desfazer da posição. Para quem não está em Americanas, não deve ser uma oportunidade, dado que há incerteza à frente. Ninguém ficou rico comprando esses eventos — disse o sócio e head de análise da Levante Investimentos, Enrico Cozzolino.
Na mesma linha, o sócio-fundador da Nord Research, Bruce Barbosa, destaca que ainda é difícil fazer as contas dos impactos, pois só se sabe o topo do iceberg do problema que a Americanas irá enfrentar.
Segundo Barbosa, é esperado que a empresa tenha um aumento de dívida e passe a operar com margens ainda mais apertadas.
— Vai ser um período bem difícil para a Americanas, então é menor cautela. Quem tem, não vale a pena vender.
Para Cozzolino, aqueles que possuem debêntures da companhia devem ficar mais preocupados, já que estão comprando uma parte da dívida da empresa, que passa por uma crise em sua credibilidade.
— Para quem tem debêntures, deve ficar mais atento e olhar as cláusulas de garantia. As variações das taxas devem acontecer.
Papéis já vinham sofrendo
Em geral, os analistas não decretam o fim da Americanas. Segundo fontes disseram à agência Bloomberg, apesar do rombo, instituições financeiras não planejam acelerar o vencimento da dívida como poderiam, desde que a empresa receba um aumento de capital imediato.
— Esse tipo de dívida se resolve sentando numa mesa para acordar prazos, garantias e termos de aumento de capital, emissão de novas dívidas, de remuneração a taxas maiores das dívidas existentes — afirmou Cozzolino.
Vale lembrar que as ações da Americanas, assim como outras empresas do setor de varejo, já vinham sendo pressionadas ao longo dos últimos dois anos devido ao cenário macroeconômico de juros altos e inflação elevada, sem falar na competitividade com outros players estrangeiros.
Após cair 77,33% na quinta-feira, os ativos fecharam a R$ 2,72. A empresa já teve seus papéis valendo R$ 123,25 em agosto de 2020. Na época, as varejistas expostas ao e-commerce surfavam na maior procura por compras online e em um momento de liquidez elevada e juros mais baixos no mercado.
Mas desde esse período, a Americanas passou por algumas reorganizações societárias. Desde o dia 24 de janeiro de 2022 quando os papéis Americanas ON (AMER3) passaram a ser negociados isoladamente, eles atingiram a máxima de R$ 35,86 no dia 15 de fevereiro de 2022.
— É um setor que, no atual momento de mercado, é muito afetado pela taxa de juros no país. Não é atrativo para investir em empresas varejistas no momento — destaca o CEO da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez.
Para os analistas, a tendência é que o mercado em geral olhe com maior atenção para os balanços de varejistas, ainda que não se possa dizer que as falhas encontradas na Americanas venham a ocorrer com outras empresas do setor.
Na dúvida, diversifique
Episódios como o da Americanas reforçam a velha máxima de diversificação na carteira, tanto em classes de ativos, como em setores e empresas, justamente a fim de evitar rombos como o visto nos papéis da varejista.
— Quem estava posicionado em Americanas e no varejo há algum tempo já estava em uma exposição de risco condizente. Por isso, é importante a diversificação de setores e empresas para mitigar na carteira total de investimentos, eventos como esse.
Barbosa, da Nord, afirma que na dúvida e sem as condições de fazer todas as análises necessárias no momento de aportar os recursos, como é o caso de muitos investidores pessoas físicas, a diversificação é necessária.
— Se você não sabe o que está fazendo, melhor diversificar. Para quem faz um trabalho mais intenso de análise, a concentração é interessante, mas traz mais risco.