Finanças
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Por Vitor da Costa, Letycia Cardoso, Cássia Almeida e Mariana Barbosa — Rio e São Paulo

No dia seguinte seguinte aos atos terroristas antidemocráticos em Brasília, a Bolsa abriu em queda, mas se recuperou seguindo o exterior e fechou ontem em alta de apenas 0,15%, aos 109.129 pontos. Segundo analistas, não fossem os ataques do domingo, os ganhos poderiam ter sido maiores com o Ibovespa em meio ao otimismo global com a reabertura da China, com alta nas Bolsas de Ásia e Europa. Por outro lado, o resultado ficou distante da expectativa de derretimento da Bolsa.

O maior reflexo dos atos terroristas foi no dólar comercial, que fechou em alta após dois pregões de queda, mas longe de máximas recentes. A moeda americana subiu 0,41%, a R$ 5,2570. A queda da divisa no exterior ajudou a limitar o avanço contra o real. O Dollar Index, da Bloomberg, que mede a moeda frente a uma cesta, recuou 0,85%.

Mas por que o impacto no mercado financeiro foi menor que o esperado? Para analistas de bancos e gestoras, se os movimentos golpistas perderem força, a atenção dos investidores se voltará agora para a agenda macroeconômica. A visão é a de que as instituições sobreviveram ao duro teste.

— Tensões políticas são sempre ruins, tanto que o Ibovespa foi a única Bolsa das Américas que abriu em território negativo — diz João Lucas Tonello, analista de investimentos da Benndorf Research.

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Para o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno, o fato de as autoridades terem reagido aos atos de forma rápida e a percepção geral de que a maior parte da população rechaça iniciativas deste tipo serviram de atenuantes de pressão.

Para ele, a curto prazo, o presidente Lula pode se beneficiar politicamente. O risco, diz, é adotar medidas mais populistas:

— O governo deve enfrentar uma oposição raivosa nas ruas e com grande capacidade de mobilização, o que pode até levá-lo a adotar medidas populistas — diz Rostagno. — Ao longo do tempo, vamos começar a ver uma preocupação maior com a governabilidade à medida que a economia desacelere e a popularidade do presidente diminua.

Ele continua:

-- Os atos desse final de semana não devem ter grande impacto no mercado no curtíssimo prazo, mas ao longo do tempo, vamos começar a ver uma preocupação maior com a governabilidade à medida que a economia vá desacelerando e a popularidade do presidente diminua.

Percepção de estrangeiros

Braulio Borges, economista e pesquisador da LCA e da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que a reação de curto prazo do mercado não é um bom termômetro agora:

— A reação do governo foi enérgica, mas temos que esperar para ver se os responsáveis, civis e militares, serão punidos. Se persistir uma situação em que muitas pessoas não são punidas, na prática isso alimenta a possibilidade de mais episódios, até mais graves, nos próximos meses — afirma. — O Lula sai mais forte, mas a discussão do arcabouço fiscal vai durar, pelo menos, seis meses. Não acredito que esse capital político que ele conquistou vai se estender por todo o semestre.

Outra preocupação, diz Borges, é a percepção do investidor estrangeiro:

— Esse tipo de episódio pode assustar o investidor estrangeiro. Instabilidade institucional pode indicar mudança de regra a qualquer momento, como impedir saída de capital.

Já Roberto Attuch, fundador e CEO da OHM Research, casa de análise que tem a XP como sócio investidor, não espera estragos na imagem do país junto a investidores internacionais:

— É um episódio triste e lamentável, mas que já era previsto. Todos sabiam que o Bolsonaro tinha intenção de copiar a invasão do Capitólio.

Para Attuch, os danos serão mais para a imagem do bolsonarismo do que a do Brasil, com o presidente Lula e as instituições saindo fortalecidos:

— Nem de longe dá para classificar os ataques como um movimento popular e espontâneo. Ele foi orquestrado e pago por alguém, e contou com a absoluta conivência e leniência do governo do Distrito Federal.

Ao longo do ano de 2022, o mercado brasileiro foi bastante atrativo para os investidores estrangeiros. A entrada desses no segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, totalizou R$ 100,8 bilhões no ano passado, enquanto investidores locais e institucionais fecharam o ano com mais saques do que entradas.

O movimento ocorreu pelo fato de muitos desses players avaliarem o Brasil como melhor posicionado na comparação com outros emergentes que enfrentavam problemas geopolíticos, como o caso da Rússia.

Daniela da Costa-Bulthuis, gestora da Robeco, asset holandesa com mais de € 173 bilhões sob gestão, não vê problemas no curto prazo, mas ressalta que o sentimento dos investidores pode ser afetado “se o país ficar ainda mais dividido ou se o novo governo perder tempo aumentando a animosidade com os oponentes em vez de construir pontes.”

— No momento, o lado econômico é o mais importante aos olhos dos investidores. No entanto, se o risco político aumentar e os tumultos continuarem, a percepção para o Brasil pode se deteriorar.

Foco nas questões macro

O banco JPMorgan, em relatório dos estrategistas Emy Shayo Cherman, Cinthya Mizuguchi e Pedro Martins Junior, avalia que, à medida que o governo retomar sua rotina, “as atenções devem se voltar para as questões macroeconômicas.” E alerta ser fundamental que os atos não se espalhem para outros estados nem causem “um efeito cascata, como a greve de caminhoneiros.”

Em relatório a clientes, o estrategista de ações do Julius Baer, Nenad Dinic, reconhece que, a curto prazo, os estrangeiros podem perdem um pouco de otimismo com o Brasil. Mas afirma que, “embora não descartemos a possibilidade de que novos protestos violentos possam pesar no mercado no curto prazo, o foco dos investidores continua nas questões macroeconômicas.”

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